Plano de governo de Datena para a Prefeitura de São Paulo propõe apenas ampliar o que existe

13/ago 15:09
Por Pedro Lima / Estadão

Após registrar sua candidatura à Prefeitura de São Paulo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e declarar patrimônio de R$ 38 milhões, José Luiz Datena (PSDB) apresentou, também nesta terça-feira, 13, seu plano de governo. O documento é separado por eixos temáticos e o apresentador não sugere metas quantitativas em suas propostas. “Despejar números e dados sobre os eleitores é a forma mais eficaz de tentar ludibriar a população”, afirma o candidato em um dos textos. Além disso, suas ideias sugerem, no geral, ampliar e incentivar programas e medidas já existentes a apresentar novas soluções para a cidade.

No texto de abertura do plano, Datena volta a alfinetar seu adversário Ricardo Nunes (MDB) ao dizer que, como candidato do PSDB, tem a “obrigação inicial de honrar os compromissos públicos assumidos por Bruno Covas e que, infelizmente, o atual prefeito só cumpriu a metade”. Ele conclui a ideia ao dizer que não usará o nome de Covas em seu mandato. “Ele não está mais aqui. Ninguém pode falar por ele. Nos resta respeitar seus compromissos.”

Ao todo, a palavra ‘criar’ aparece três vezes nas 42 páginas do plano. Na primeira aparição do termo, que acontece dentro do eixo ‘prosperidade’, que discorre sobre desenvolvimento e criação de oportunidades na capital paulista, Datena promete não criar nenhum novo imposto. “Vou trocar imposto por empregos: imposto menor para quem gerar trabalho, principalmente na periferia”, garante o candidato.

Em outra vez que o termo é citado no documento, agora dentro do eixo de ‘inclusão’, o jornalista diz que a cidade de São Paulo deve ser ‘inclusiva e acolhedora’ para “criar oportunidades para que todos vivam melhor”. Em ‘sustentabilidade’, a palavra é usada pela terceira e última vez no documento para anunciar a criação de novos parques para ampliar a cobertura vegetal da capital paulista. Essa é a única vez que o termo é utilizado para apresentar uma proposta nova para seu governo.

Sem usar a palavra criar, mas apresentando um novo programa, o ‘Territórios do Emprego’, o candidato cita que algumas áreas da cidade receberão incentivo fiscal para construção de unidades habitacionais integradas a oportunidades de trabalho.

A palavra ‘implantar’ segue a mesma linha: também aparece por três vezes ao longo de todas as páginas. Fazendo o uso do termo, Datena anuncia que estabelecerá o ensino de história e cultura afro-brasileira em escolas de ensino fundamental. Essa é uma diretriz da Lei Nº 10.639 de 2003, assinada no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que coloca a obrigatoriedade da inclusão dessa temática na grade curricular da rede de ensino pública e privada.

A segunda aparição do termo ‘implantar’ diz respeito à proposta do tucano para a colocação de ecopontos em cada distrito da capital paulista. Já na última, a implantação de “barreiras coletoras de resíduos sólidos nos córregos da cidade” tem relação com o fortalecimento do programa Córrego Limpo, criado em 2007 pela Prefeitura de São Paulo.

Em contrapartida, “ampliar” é usada 15 vezes no documento. Entre os destaques, estão a ampliação do efetivo atual da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que hoje possui 7.039 agentes, e equipá-los com mais armamento. Além disso, o uso de câmeras corporais, também já defendido anteriormente pelo candidato, será ampliado para todos os guardas.

Também aparece a ampliação em mais duas horas do horário de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS), que passarão a funcionar até as 21h – alguns equipamentos de saúde funcionarão 24h por dia, de acordo com ele. Outra proposta cita que será aplicado o número de alunos que estudam em escolas de tempo integral.

Um dos programas que receberá incentivo de Datena, caso seja eleito, será o Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais (Promac) e, além disso, o número de instituições de longa permanência, destinadas à idosos, será ampliado – em mais duas utilizações da palavra. Outro programa já existente do município e que será reforçado pelo apresentador é o Guardiã Maria da Penha, de 2014.

Além disso, Datena também indica fazer uso de inteligência artificial para expandir a oferta de saúde digital, como a telemedicina, na cidade de São Paulo. Dentro de ‘bem-estar’, o jornalista também diz que incentivará o futebol de várzea, integrando grandes clubes da capital paulista com associações esportivas de periferias.

Em seu plano de governo, Datena volta a citar subsídios recebidos por empresas de ônibus de SP

Ponto de destaque de seu plano, misturando as temáticas de mobilidade urbana e segurança pública, carro-chefe de Datena, o jornalista volta a falar sobre os subsídios bilionários recebidos pelas empresas concessionárias do transporte público de São Paulo e que, por isso, elas serão “obrigadas a melhorar, muito, a qualidade dos serviços”. O candidato finaliza dizendo que esses contratos “serão objeto de auditorias para afastar qualquer suspeita de conexão com o crime organizado e a corrupção.”

Durante a sabatina do programa ‘Roda Viva’, da TV Cultura, desta segunda-feira, 12, o tucano voltou a citar suspeitas contra Ricardo Nunes, mas sem, como de costume, cravar que ele tenha envolvimento com os casos mencionados, como o aumento de contratações emergenciais sem licitação e a investigação que aponta para a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) em duas empresas de ônibus que prestam serviço de transporte público na capital.

“Você acha que é possível acontecer fraudes, infiltrações do crime organizado sem que o prefeito saiba? Eu acho difícil o prefeito não saber de nada. Ele nunca sabe de nada”, respondeu, ao ser questionado sobre qual evidência tinha da participação de Nunes no caso das empresas de ônibus. “Eu acho que esse cara pode ser no mínimo refém do PCC ou ter medo do PCC”, acrescentou.

‘Obra fechada é texto literário’, diz Datena

Na tentativa de justificar a falta de números e metas quantitativas em seu plano, Datena diz, em um dos textos, que serão incluídas, em seu programa de diretrizes, ideias “que a população e os técnicos forem me oferecendo nessa caminhada. Obra fechada é texto literário. Programa de governo é dinâmico e aberto o suficiente para respeitar evidências, corrigir rumos e incorporar o que for bom para o povo.”

Em pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira, 8, o apresentador de TV e o empresário Pablo Marçal, do PRTB, apareciam empatados na terceira e quarta colocação, respectivamente, com 14% cada. O prefeito Ricardo Nunes e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) aparecem empatados tecnicamente na liderança da disputa pela Prefeitura de São Paulo: Nunes tem 23% e Boulos, 22%. A deputada federal Tabata Amaral (PSB) figura com 7%.

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