Plebiscito que vai definir o futuro das vitórias em outubro já gera debate nas ruas
Faltando menos de 60 dias para a votação que vai decidir sobre a manutenção ou o fim das charretes (vitórias) na cidade, as frentes a favor e contra a tração animal já apresentam seus argumentos, antes do início da campanha oficial. No dia 7 de outubro os eleitores petropolitanos vão ter a chance de decidir se querem ou não que continue a exploração das charretes com a utilização de tração animal no município.
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE), por meio da Resolução nº 1.044/2018, definiu as diretrizes gerais para que seja feito um plebiscito sobre a manutenção das charretes. Nas últimas semanas aconteceram convenções para oficializar as frentes que se formarem contra ou a favor da tração animal nos veículos turísticos.
“O objetivo principal é defender a manutenção das charretes ou jardineiras, preservando os animais. Há uma fiscalização que protege estes cavalos, todos são microchipados, acompanhados por médicos veterinários, fazem exames regularmente. Nós lutamos pela manutenção e bom tratamento dos animais. Batalhamos em função do turismo e tradição da cidade”, destacou o vereador Wanderley Braga Taboada, que lidera a frente em favor da manutenção das vitórias.
A vereadora Gilda Beatriz (MDB) é presidente da frente que defende a extinção do serviço. Ela disse que serão montadas duas comissões para definir qual será o destino dos cavalos com o fim das charretes e outra que discutirá a realocação dos charreteiros. "Não acredito em uma fiscalização efetiva da saúde desses cavalos. Se não existe uma fiscalização para a saúde básica da população, imagina para esses animais. Está na hora de conscientizar a população que esses animais precisam ser libertos. Podemos realizar os passeios turísticos de outras formas, através das charretes elétricas, que inclusive podem acrescentar passeios noturnos.
Queremos priorizar a saúde dos animais e qualificar os charreteiros para trabalhar com esses novos veículos”, disse a vereadora. Esta é a primeira vez que ocorre um plebiscito no município. A exploração da tração animal nas charretes vem sendo discutido já há algum tempo por protetores dos animais, condutores e proprietários das charretes e na própria Câmara dos Vereadores.
Segundo dados da Prefeitura, o município tem 13 vitórias autorizadas a funcionar com um total de 43 animais em condições de operação. Para que funcionem, os donos de charretes precisam cumprir uma série de normas para exploração do serviço. Como laudos de veterinários que atestem a saúde do animal, assim como o cumprimentos de padrões zootécnicos dentro das normas de conforto, segurança e higiene onde os animais ficam. Segundo a Prefeitura, as fiscalizações ocorrem sem calendário fixo, e a autorização é renovada de forma semestral e acontece mediante a apresentação de laudos veterinários que atestem o estado de saúde do animal.
Há 11 anos, a Ong AnimaVida vem, de forma voluntária, acompanhando os cavalos. “Com o fim das charretes os proprietários podem fazer o que quiserem com os animais. É preciso criar políticas públicas em favor desses cavalos. Para dar liberdade para eles, é preciso manter os benefícios que eles já têm, os cuidados e tratamento que eles já recebem”, disse Ana Cristina, que representa a ONG.
Preocupação com o futuro dos cavalos
Oito, doze, até trinta e cinco anos trabalhando com os cavalos. Na maioria dos casos, as charretes vêm sendo passadas de geração em geração. Os charreteiros que cuidam dos cavalos e fazem os passeios contam que estão preocupados com o a decisão no dia 7 de outubro, com o plebiscito.
Carlos Pitzer trabalha há 35 anos nas charretes, uma tradição que vem de herança de seu pai. Com os três cavalos, Boneco, Fardado e Cubanacã, ele trabalha, normalmente, nos fins de semana e feriados por pelo menos 5 horas por dia com os animais. “Se for decidido o fim das charretes, eu vou ficar com os cavalos. Eles já têm onde ficar e não vou me desfazer deles. Estão comigo
há 11 anos”, contou.
Assim como Carlos, outros condutores também temem pelo destino dos animais. “Nós temos um apego a eles, são como animais de estimação, igual as pessoas têm cachorros e gatos. Os gastos chegam a R$ 300 por semana, com ração, feno, ferradura. São animais que estão conosco há muito tempo”, contou Antônio Carlos de Freitas, que trabalha há 38 anos com as vitórias.
“As charretes elétricas têm sido uma promessa desde 2015, e que até agora não foi cumprida. Se for decidido o fim das charretes, nós vamos fazer as substituições, mas quem vai fazer a manutenção desses carros? Os animais nós já estamos acostumados e sabemos como cuidar, são bem tratados, mas, no caso dos carros, não sabemos o que nos espera”, destacou Cibele Rapozo Borges, que trabalha há 8 anos como charreteira.
Com a incerteza do que será decidido, os charreteiros veem pontos positivos e negativos com a substituição das vitórias. João Ricardo de Oliveira trabalha há 12 anos como condutor e contou que, nesse tempo, já ouviu muitas críticas nas ruas. “Falam que os cavalos são maltratados, mas isso não é verdade. Muitas pessoas nos xingam na rua, jogam o carro em cima da gente. Sofremos um risco também”, contou.
Podem participar da votação no dia 7 de outubro todos os eleitores em situação regular junto à Justiça Eleitoral. As instruções reguladoras são as mesmas expedidas pelo Tribunal Superior Eleitoral para as eleições gerais deste ano.