Poder sem ilusões

22/02/2016 12:00

A história latino-americana registra muitos casos de líderes políticos que eram depositários das esperanças populares na defesa de seus legítimos interesses. O trágico é que acabaram sendo grandes frustações quanto às expectativas despertadas após chegarem ao poder. Pior: aqueles que passaram no teste do curto prazo não sobreviveram ao teste do tempo, ou seja, aos efeitos deletérios de longo prazo de suas políticas populistas. Dois exemplos emblemáticos foram Juan Domingo Perón e Getúlio Vargas. O primeiro paralisou a Argentina por meio século, e o segundo deixou um legado que reforçou nossa tradição autoritária, e ainda tomou inciativas retardadoras do processo de desenvolvimento do País, no que se irmana à figura de Perón.

Vivemos, hoje, num clima de desilusão quanto ao futuro que nos aguarda diante de tanta incompetência do governicho Dilma e das lerdas instituições republicanas de que dispomos. Para os ministros do STF e do próprio TSE – Tribunal Superior Eleitoral ainda não dispomos de evidências cabais para pôr fim ao atual governo federal sob o (des)comando do PT. O conto do vigário passado na população e a quase destruição da Petrobrás, para citar apenas dois casos nada exemplares, não configuram crimes de lesa-pátria na visão formalista de nossos ilustres ministros. Não conseguem perceber o que já é o óbvio ululante para a população. O mundo civilizado, por sua vez, não perdoa dirigentes que não estiveram à altura de suas responsabilidades, ainda que sem se beneficiar pessoalmente da roubalheira, como foi o caso da Dilma na condição de presidente do Conselho de Administração da Petrobrás. Eis aqui a (amarga) jabuticaba brasileira a serviço do atraso do País.

Este triste estado de coisas nos induz a ir mais fundo na questão do poder, ainda visto entre nós com certa dose de ingenuidade no que tange à sua essência. Curiosamente, Lord Acton, historiador inglês nada revolucionário, e Mikhail Bakunin, revolucionário russo anarquista, se irmanavam em suas visões realistas do poder. O primeiro afirmava que o poder tende a corromper e que o poder absoluto corrompe absolutamente. O segundo discordava de Marx  por ver em suas concepções a semente do “socialismo autoritário”, ou seja, a famigerada ditadura do proletariado. Afirmava que o poder é sempre exercido por uma minoria. E que, após a revolução, os antigos operários que agora a integram, “pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões em governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana”. Este é um retrato perfeito do que aconteceu com Lula e o PT para desilusão de quem acreditou neles.

Se os dirigentes do PT tivessem formação intelectual de primeira linha, teriam levado Bakunin a sério. Jamais embarcariam na canoa furada de ambicionar o topo por décadas a fio, aceitando a alternância no poder como elemento fundamental da democracia. Essa pretensão levou Lula, Dilma e o PT a se servirem de quaisquer meios (inclusive mentir descaradamente) para obter recursos e manter sua hegemonia política. Até mesmo afundar a Petrobrás y otras cositas más, como fizeram. O próprio Ministro-Chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, reconheceu que se lambuzaram ao comer mel pela primeira vez.

Como fica, então, o enigma do poder? Já foi dito, e a sabedoria política confirma, que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Em relação ao poder, esta frase pode nos ajudar a entender que a eterna vigilância é também o preço de se manter o poder sob rédeas curtas. Infelizmente, nosso presidencialismo concede poder demais ao presidente. A tradição parlamentarista do Império, jogada fora, nos deixou sem os instrumentos de controle da gestão do poder em seu dia a dia. O voto de desconfiança, já dado pela população à Dilma, é um dispositivo sem amparo constitucional. O País tenta o impossível: sobreviver sem ter como base da vida pública a confiança do povo em seus governantes.

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