Polícia prende sétimo candidato opositor de Ortega na Nicarágua

25/07/2021 20:12
Por Estadão

A polícia da Nicarágua colocou sob prisão domiciliar no sábado à noite o líder da oposição, Noel Vidaurre. É o sétimo candidato à presidência do país colocado em prisão. Dessa forma, quase todos os que poderiam desafiar o presidente Daniel Ortega nas eleições de 7 de novembro estão detidos. Com exceção de Ortega, os únicos aspirantes ao cargo que permanecem livres são Luis Fley e George Henriquez, não alinhados ao governo, mas considerados menos populares.

Outros seis potenciais candidatos foram presos, um movimento que começou há quase dois meses. Jornalistas e ativistas de oposição também foram detidos. Até o momento, as autoridades nicaraguenses prenderam os candidatos presidenciais da oposição Cristiana Chamorro, Arturo Cruz, Félix Maradiaga, Juan Sebastián Chamorro, Miguel Mora e Medardo Mairena, que estão sendo investigados por suposta traição.

Outra candidata, a opositora María Asunción Moreno, não compareceu para “esclarecimentos” perante o Ministério Público da Nicarágua, e seu paradeiro é desconhecido.

O líder estudantil Lesther Alemán, que repreendeu Ortega durante o início de um fracassado diálogo nacional para superar a crise social e política local há três anos, também foi preso. Completam a lista de detidos os dirigentes camponeses Pedro Mena e Freddy Navas e o dirigente estudantil Max Jerez.

Quase todos foram presos por leis de “traição” que Ortega usou contra rivais políticos. A maioria enfrenta alegações vagas de crimes contra o Estado. Ortega alega que os protestos de rua em abril de 2018 foram parte de uma tentativa de golpe com financiamento estrangeiro.

A polícia nicaraguense detalhou que os líderes opositores detidos estão sendo investigados por suposta violação da “Lei de Defesa dos Direitos do Povo à Independência, Soberania e Autodeterminação para a Paz”, cujos crimes são considerados traição à pátria.

Em 2019, líderes camponeses e do movimento estudantil, que haviam sido presos em 2018 e recebido penas de mais de 200 anos de reclusão, foram beneficiados pela Lei da Anistia, junto com mais de 600 opositores. A lei gerou polêmica porque os acusados nunca reconheceram ter cometido crimes e atribuíram as denúncias à retaliação de Ortega contra os protestos antigovernamentais.

Os encarceramentos de líderes da oposição ocorrem no âmbito das eleições gerais de 7 de novembro, nas quais Ortega, que também governou entre 1979 e 1980, busca sua terceira reeleição consecutiva para um quarto mandato de cinco anos, e o segundo com sua mulher, Rosario Murillo, como vice-presidente.

No meio da corrida eleitoral, foram estabelecidas leis que restringem a nomeação para cargos políticos e financiamento externo, e dois partidos políticos de oposição foram destituídos de sua personalidade jurídica.

“O objetivo de Ortega não é apenas eliminar a competição eleitoral, mas também evitar a resistência cívica. Ele prendeu mais de 20 líderes políticos, cívicos, estudantes e camponeses”, disse o jornalista nicaraguense Carlos Chamorro no Twitter, há duas semanas. Chamorro, que fugiu para a vizinha Costa Rica em meados de junho, é irmão da líder da oposição detida Cristiana Chamorro.

Ortega, um ex-revolucionário de esquerda que governa a Nicarágua desde que voltou ao poder em 2007, justificou sua repressão aos oponentes dizendo que seu governo estava processando criminosos que planejavam um golpe contra ele.

Ortega disse no fim de junho, após a primeira leva de prisões, que os presos “não são candidatos nem políticos, mas sim criminosos que atentaram contra a segurança do país” e tentaram um golpe de Estado. “É isso que estamos seguindo, é isso que está sendo investigado e será punido no seu devido tempo”, disse Ortega em 23 de junho. “Que eles não venham com a história de que são candidatos, não há candidato inscrito aqui, ainda não é hora de haver candidato.”

As prisões geraram indignação internacional. O Departamento de Estado dos EUA chamou as detenções de uma “campanha contínua de terror” e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos denunciou a repressão no país à Organização dos Estados Americanos (OEA). (Com agências internacionais)

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