Polo de Modas: Crise abre janela de oportunidades

01/05/2017 07:00

Em 2016, a Rua Teresa registrou um dos piores anos da sua história. Com um número expressivo acumulado de fechamento de lojas, mais de 500 em cerca de três anos, aumento do desemprego e queda de vendas, o principal polo de moda da cidade, amargou prejuízos. No Bingen, não foi diferente. O que se vê hoje são inúmeras lojas fechadas. Vitrines e mais vitrines vazias ressaltando uma realidade triste e preocupante. Diante da crise, os donos do Shopping Badia, decidiram mudar de segmento e agora investem no setor gastronômico, deixando de lado a venda de vestuário. Os poucos estabelecimentos que resistem, sentem o peso da responsabilidade de reerguer o local. 

Falta de atualização profissional, de acessibilidade (problemas de infraestrutura da BR-040), de identificação de público-alvo, vendas pela internet, divulgação do produto, dificuldades para encontrar vagas para estacionar, entre outras coisas, foram apenas alguns dos pontos negativos ressaltados pelo especialista Luiz Fernando Bastos, professor executivo na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e sócio-diretor da Ágil Consultoria e Treinamento. Estes problemas, segundo ele, vêm prejudicando a situação dos polos de moda de Petrópolis, mesmo antes da crise. A situação pode ficar ainda pior, apesar da pequena reação que a economia nacional já apresenta, caso os empresários e o poder público não tomem providências para mudar o quadro em que o setor se encontra atualmente. Os setores de produção e venda moda estão obsoletos. 

A falta de experiência para enfrentar crises prolongadas, como a que castiga a economia brasileira, atualmente, também contribuiu para o fechamento de muitas lojas. “Os empresários já conheciam as crises 'rápidas' e a forma de passar por ela, fazendo promoções – vendendo produtos a preço de custo para fazer o dinheiro girar – e parcelando as compras em muitas vezes. Essas táticas são eficazes durante certo tempo e, de fato, trazem resultados positivos. Porém, a longo prazo se torna um “tiro no pé”. Isso porque o produto que está sendo vendido a preço de custo, somado à quantidade de parcelas, desvaloriza o dinheiro, que precisará ser utilizado para comprar novas mercadorias. Isso significa que, com o passar do tempo, a mercadoria deixa de se pagar.

“A falta de informação sobre como passar por uma crise e conseguir se manter no mercado, somado à quantidade de deficiências que já existiam nos polos de moda de Petrópolis resultaram no quadro atual do comércio. Mas isso pode ser mudado! Claro que com muito trabalho e dedicação, mas pode ser mudado. Para que isso seja possível é preciso que mudanças sejam feitas imediatamente. Não ter um ponto de apoio na Rua Teresa, onde os turistas possam se informar sobre pontos turísticos, e comprar ingressos desses atrativos, por exemplo. Assim como não ter vagas disponíveis, praça de alimentação, e principalmente diferencial nas mercadorias, são problemas graves. Além disso, é preciso que o empresário petropolitano perceba que o comércio da cidade não vive mais dos famosos “sacoleiros”, que invadiam os polos de modas anos atrás. Hoje o público-alvo do setor têxtil é o varejo, ou seja, os próprios petropolitanos e turistas e visitantes”, salientou Luiz Fernando.

Ainda segundo Luiz, os problemas já identificados há alguns anos precisam ser solucionados, para que a adoção de novas estratégias possa ter força para reerguer o setor de moda em Petrópolis. 

Para o presidente do Sicomércio, Marcelo Fiorini, é preciso que haja mais parceria ente os empresários. “Com a retomada do incentivo do poder público na Rua Teresa, tenho certeza que já vamos conseguir melhorar a questão de divulgação do polo de moda. Mas claro que outras medidas precisam ser adotas. Uma delas é a própria integração dos empresários, que juntos podem aumentar a “fatia do bolo”, do dinheiro destinado para melhorias na Rua Teresa”, afirmou.

Alternativa em vista 

Dados do e-commerce brasileiro apontam um faturamento de aproximadamente R$ 41,3 bilhões em 2015 (crescimento nominal de 15,3% em relação a 2014, com 106,5 milhões de pedidos no período). O aumento foi consequência do crescimento do acesso à internet. Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico, para os próximos anos o setor deve permanecer crescendo, pois o consumidor brasileiro está mais confiante para comprar online. Em 2016, o e-bit projeta que o e-commerce no Brasil apresente um crescimento nominal de 8% em relação a 2015, atingindo um faturamento de, aproximadamente, R$ 44,6 bilhões. Por isso, mecanismos que “vendam” os polos de moda de Petrópolis através de publicidade, e sites que divulguem e principalmente comercializem as mercadorias existentes na cidade podem ser a solução de parte do problema. 

Isso porque o público que poderia se tornar cliente deixaria de ser apenas de pessoas que visitam a cidade, e alcançar brasileiros de todo o país. “Experimente procurar por lojas da Rua Teresa na internet! Quase não existem informações específicas sobre cada loja, muito menos um mercado online. Os lojistas não se mobilizaram nem para fazer um site coletivo, ou seja, de várias lojas vendendo seus produtos. Dessa forma as despesas poderiam ser repartidas também. E os turistas que já vieram e gostaram de determinada marca, mas que por ventura não conseguirão retornar com frequência à Cidade Imperial, terão a oportunidade de continuar consumindo os produtos”, enfatizou.

O momento é de oportunidades 

Apesar do quadro alarmante, e do pessimismo dos empresários e consumidores, que se sentem receosos em gastar no momento de crise, Luiz Fernando ressalta que esse é justamente o momento das oportunidades. “O cenário econômico não está em crescimento, e se encontra longe de voltar ao que era antes da crise. Porém, o PIB que estava fechando negativo, apresentou os primeiros pontos positivos no último levantamento. Isso significa que há uma reação que precisa urgentemente ser aproveitada”, afirmou.

A dica do especialista é que as pessoas que sempre desejaram abrir o próprio negócio o façam agora. Isso porque os alugueis, por exemplo, estão mais baratos. Isso significa que fechando um contrato agora, o percentual de aumento será menor que a reação do mercado. “Quem está em imóveis com aluguel caro também devem aproveitar a oportunidade para se mudar, caso encontrem espaços mais em conta. Apesar das despesas com as mudanças, esses gastos serão compensados mais na frente”, afirmou. 

Inovação também pode ser a chave do sucesso para quem trabalha há anos com excesso de modelos iguais – atualmente os consumidores dão preferência para exclusividade produtos de qualidade – as pessoas preferem pagar mais caro por mercadorias que têm durabilidade maior. “As oportunidades estão aí para quem souber aproveitá-las. É preciso ter coragem, se preocupar em estar sempre estudando as mudanças de mercado, em alguns casos é preciso contratar um consultor para se ter uma ideia do que deve ser feito, e não se prender as 'tradições'. É preciso que as mudanças de mercado sejam identificadas e acompanhadas. Sós desta forma será possível manter uma estabilidade no seu empreendimento”, concluiu Luiz Fernando Bastos.

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