Por que as nações fracassam?

10/02/2016 12:00

Já faz bastante tempo que um colega de faculdade de economia, comentando as mazelas nacionais, me disse que o problema com o Brasil é que não conseguimos sedimentar as conquistas. Vira e mexe e lá estamos nós de volta ao ponto de partida. Esses últimos cinco anos de Dilma são o retrato perfeito do retrocesso. Contrariamente ao lema de JK, cinquenta anos em cinco, ela conseguiu a proeza de fazer o oposto num quinquênio de marcha à ré desvairada. Diversos indicadores, em especial os sócio-econômicos, comprovam o estrago que foi feito pela incompetência de mãos dadas com a roubalheira. Como diria o próprio Lula, nunca antes na história deste País se viu algo dessa monta. Obra do PT e de suas lideranças que diziam estar atuando na defesa dos interesses dos trabalhadores. Uma piada de (muito) mau gosto.

Mas como explicar fenômenos desse tipo? Existem duas correntes que buscam dar uma resposta à questão do que faz os países ficarem ricos ou pobres: uma aposta suas fichas na qualidade das instituições (tese defendida em livro pelos professores Daron Acemoglu e James A. Robinson) e a outra defende a hipótese geográfica (encampada por Jared Diamond em meticuloso artigo). Na verdade, elas se completam, já que até o próprio Diamond admite que os dois professores conseguem explicar algo em torno de 50% das diferenças em prosperidade entre as nações com base na hipótese institucional, embora tenham deixado de fora razões que desvendariam os outros 50%. 

Por boas instituições, os professores Acemoglu e Robinson entendem aquelas que permitem aos habitantes de um país progredir, em especial disporem de poder político para exigirem das autoridades que cumpram seus deveres em benefício do interesse público, a saber: saúde, educação e infraestrutura de qualidade, inflação sob controle e ambiente favorável ao espírito empreendedor de cada cidadão. Já a hipótese geográfica de Diamond foca na geografia dos países, suas vantagens e desvantagens. As regiões tropicais, por exemplo, são afetadas pelo clima adverso, baixa produtividade da agricultura e doenças tropicais, que reduzem a vida útil de cada trabalhador, tornando-o menos produtivo do que os das regiões temperadas do planeta. 

A melhor maneira de extrair o significado maior das duas posições é incluir o fator tempo no processo. De fato, as grandes civilizações tiveram início nas regiões temperadas. Nas regiões extremamente frias ou quentes, o homo sapiens (e a mulher sapiens, da Dilma) era vítima das condições extremamente adversas do meio-ambiente. (Eu ainda me lembro de um excelente professor de História que eu tive me dizendo que a impressão de certo tipo de livro era difícil no Brasil até meados do século XX em função da incapacidade de as tintas importadas resistirem ao calor tropical.)

Note, caro leitor, que tudo isso mudou muito. O ar condicionado permitiu criar um ambiente de trabalho (e produção) semelhante ao das regiões temperadas. A própria agricultura, cujas sementes não podiam ser plantadas aqui sem adaptá-las às novas condições de solo e temperatura, caminhou devagar até que os avanços das pesquisas fez o milagre. A Embrapa, no Brasil, desbravou essa nova era. Por volta de 1970, a produtividade brasileira era um quinto ou um quarto da americana e hoje é equivalente ou até superior.

O fator tempo permitiu que os fatores geográficos adversos fossem neutralizados, permitindo que a qualidade das instituições seja, cada vez mais, o fator determinante da riqueza e da pobreza das nações. De fato, análises quantitativas respaldam a conclusão de que 50 a 70% do sucesso dos países dependem da qualidade de suas instituições, em especial do capital humano acumulado. A boa notícia é que momentos de crise como o atual abrem as portas para mudanças profundas, rápidas e há muito necessárias. O verde da esperança não pode morrer.

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