“Prato do Dia”: projeto cria moeda social para combate à fome no Vale do Carangola durante a pandemia

Projeto de Extensão da UNIFASE criou moeda social que beneficiou mais de 70 famílias em vulnerabilidade

19/06/2022 16:50
Por Luana Motta

Foi caminhando que os alunos e professores do Projeto de Extensão da UNIFASE chegaram ao Vale do Carangola há oito anos. As visitas semanais, que levaram os extensionistas à longas caminhadas pela comunidade, se transformaram em ações de promoção da saúde e mudança social. O “Prato do Dia” levou comida a quem tinha fome durante a pandemia, promoveu empregabilidade e realizou mutirões de saúde para mulheres e crianças. 

Quando começaram as restrições devido à pandemia de covid-19, os serviços públicos também foram suspensos, mas as necessidades das famílias não. Muitas, que já viviam abaixo da linha da pobreza, não tiveram acesso a serviços de saúde, assistência social e à renda mínima, seja porque perderam o emprego ou porque tiveram dificuldades para serem inseridas em programas sociais de transferência de renda. E foi aí que o Projeto de Extensão Vale do Carangola mais atuou. 

(Foto: Divulgação)

As líderes comunitárias Ângela, Tamiris e Devanise, vendo a comunidade carecer de diversas necessidades básicas pediram ajuda aos extensionistas. A partir daí, algumas frentes foram formadas, foi criada uma moeda social. Mais do que doar cestas básicas, como aconteceu nos primeiros meses do projeto em 2020, as famílias tinham outras necessidades a serem atendidas. Além disso, fazer com que o dinheiro circulasse dentro da comunidade beneficiaria também o comércio local e poderia gerar emprego para os próprios moradores. 

Ricardo Tammela, coordenador de Projeto de Extensão Vale do Carangola da UNIFASE, explica que a ideia da moeda social era dar continuidade às ações de combate à fome em um trabalho de longa duração e de acompanhamento das famílias. Através de doações, o Projeto arrecadou R$ 38 mil e distribuiu, por meio da moeda, R$ 120 mensais para 76 famílias por oito meses. 

(Foto: Divulgação)

“A entrega da moeda social foi uma ação paliativa e com data para terminar – dezembro de 2021. Essa foi sempre a preocupação no acompanhamento das famílias e pensando em como ajudar as pessoas a terem uma chance maior de busca de um emprego, pensando em como ajudar na empregabilidade das pessoas, nos oferecemos na ajuda em preparar seus currículos, colocando informações relevantes, para consideração pelo empregador ou empregadora”, conta Ricardo. 

Para ajudar de forma imediata na geração de renda, foi criado o “Linhas do Vale”, um coletivo formado por mulheres que começou produzindo capotes cirúrgicos para uma demanda da própria universidade e deram continuidade costurando para marcas de Petrópolis, Rio de Janeiro e São Paulo. Especialmente marcas sustentáveis, que apoiam iniciativas locais promovidas por mulheres. 

Mutirões de saúde básica

“Através do acompanhamento das famílias e dos encontros que aconteceram quando caminhávamos pelo Vale do Carangola, fomos escutando outras necessidades e a ausência do cuidado em atenção básica, tem sido uma fala muito recorrente entre moradoras e moradores”, conta Ricardo. Na época, em 2021, a Unidade Básica de Saúde da comunidade estava sem médico e com a equipe de agentes comunitários desfalcada. 

“Nos encontros que tivemos com moradoras e moradores, fomos identificando casos de abandono de tratamento, pessoas aguardando por anos a realização de exames, pessoas necessitando de atendimento médico, crianças apresentando problemas relacionados à verminose, problemas de pele, vacinação atrasada, etc”. 

A partir da escuta na comunidade, os extensionistas conseguiram identificar as principais demandas e mobilizaram mutirões para atender crianças e mulheres. Além dos alunos dos cursos da UNIFASE, os professores Nathalia Balthazar, Andrea Morelli e Gabriel Martins também estão envolvidos nas atividades do projeto. 

(Fotos: Divulgação)

Em um sábado de agosto do ano passado, alunos e docentes do curso de Medicina fizeram diversos atendimentos com foco na saúde da criança: monitoramento da covid-19, medição e pesagem, consultas pediátricas, odontológica, entre outros. Ao todo, 59 crianças de 0 a 12 anos foram atendidas no mutirão. 

Em outubro, foi promovida uma nova ação, desta vez, com foco na saúde da mulher. Foram realizados atendimentos ginecológicos, encaminhamentos para exames, aplicação de vacinas e testes de ISTs e covid. Ambas ações foram feitas em parceria com o curso de Medicina da UNIFASE, e USF Vale do Carangola, NASF, Academia da Saúde, Escola Municipal Lúcia de Almeida Braga, CRAS e a APPO. 

Curso preparatório para o Encceja

Neste ano, outra semente começou a ser regada na comunidade, com o curso preparatório para o Encceja. Cerca de 20 mulheres frequentam as aulas de reforço escolar que oferecem gratuitamente conteúdos preparatórios para a realização da prova que garante a conclusão do ensino fundamental e médio. 

(Foto: Divulgação)

“A ação Prato do Dia terminou, mas o Projeto de Extensão Vale do Carangola continua em andamento e em cada encontro e conversa que acontece com moradoras e moradores, vão surgindo necessidades e ideias. Temos sempre o cuidado e procuramos ter uma escuta amorosa, respeitosa, que não se transforme em promessas ou ações intervencionistas que não expressem o desejo da comunidade do Vale do Carangola. Estamos inseridos no cotidiano de seus moradores e moradoras e por causa disso, conseguimos perceber sua dinâmica social, seus humores, suas dores e alegrias. ”, conta Ricardo. 

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