‘Precisamos de resposta mais política que econômica’

01/07/2021 13:00
Por André Jankavski / Estadão

O pior momento para o mercado de trabalho já passou. Essa é a opinião de Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, apesar de a taxa de desemprego ter chegado a 14,7% no trimestre encerrado em abril – 0,5 ponto porcentual acima do período encerrado em janeiro -, o número de pessoas empregadas teve uma estabilidade. O que aumentou foi a força de trabalho e o número de pessoas em busca de uma vaga, o que impactou a taxa de desemprego.

Para o economista, nem mesmo o crescimento da economia mais robusto esperado para este ano será suficiente para que a taxa de desemprego volte aos níveis pré-pandemia. Para acelerar a geração de vagas, Zylberstajn afirma que são necessárias regulações e reformas para estimular o investimento em infraestrutura, para o País voltar a ter uma retomada contínua. “Mas precisamos de uma resposta mais política do que econômica para retomar os empregos.” Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. observou o resultado do emprego divulgado pelo IBGE?

O emprego no Brasil está estagnado, o que não é bom, mas é melhor do que se estivesse caindo. Não houve neste último trimestre nem grandes reduções e nem grandes perdas no mercado de trabalho. Em todas as categorias, houve variações dentro de uma margem de erro e também houve uma estabilização no número de empregos. As empresas não querem demitir, pois, se vier uma retomada econômica, elas vão ter de recontratar e treinar novos funcionários. Isso custa caro. Mas a força de trabalho teve um aumento de 400 mil pessoas, então impactou no resultado (da taxa de desemprego).

Há economistas que apontam uma alta do Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 5% em 2021. Podemos esperar resultados melhores do emprego em 2021?

Um crescimento de 5% a 6% neste ano será positivo e vai gerar empregos, mas ainda longe dos patamares de antes da pandemia. Só conseguiremos retomar esses números com investimentos. E isso depende de o Congresso e o governo trabalharem para assegurar reformas e regulações eficientes e que sejam respeitadas. Mas, para crescer, precisamos de uma resposta mais política do que econômica.

É possível acelerar o processo de geração de vagas?

Só vamos fazer isso com políticas que favoreçam, principalmente, o investimento em infraestrutura. É um investimento que tem um efeito multiplicador grande e é um setor que consegue absorver as pessoas de menor qualificação. O Estado sempre foi o grande investidor em infraestrutura, mas agora o País está quebrado. A nossa esperança é que os capitais privados venham em grande volume para a infraestrutura e estamos vendo isso acontecer, mas ainda é preciso mais. Não vamos conseguir ocupar todo mundo em um curto espaço de tempo.

É necessário, então, continuar com o auxílio emergencial?

Sim, pois vamos precisar continuar dando assistência a essas pessoas. A sociedade percebeu isso. Só por meio do mercado e do crescimento econômico não vamos conseguir dar apoio a toda essa população. Em algum momento, as pessoas vão ser absorvidas no mercado, mesmo aquelas sem tanta qualificação, pois há oportunidades na construção civil. Mas, antes, precisamos voltar a crescer.

Como avalia a resposta do governo para manter empregos?

Os programas de manutenção do emprego e renda estão fazendo a diferença. Temos ainda 2,2 milhões de pessoas na CLT e com estabilidade por causa dos acordos do fim de 2020. Na minha estimativa, essa política ajudou a manter 12 milhões de empregos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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