Prefeitura diz que estudo é “fake” e apresenta taxa de letalidade de 3,04%, também superior à média nacional
A Coordenadoria de Comunicação Social da Prefeitura de Petrópolis espalhou uma montagem, na manhã desta quinta-feira (6), para desmentir o estudo “Modelagem matemática da disseminação geográfica da Covid-19” (que pode ser conferido clicando neste link) feito pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), publicado há meses pelo portal G1 e repercutido ontem pela Tribuna.
Os dados são compilados desde o início da pandemia e não haviam sido contestados. A Prefeitura alega que as informações apresentadas à Universidade de Viçosa estão desatualizadas. Qualificando o estudo como “fake news”, a assessoria de imprensa da Prefeitura traz outros dados.
O município diz que a taxa de letalidade é, na verdade, de 3,04%, fazendo a conta do número de infectados pelo número de mortos, baseado nos dados do painel de ontem – que levam em conta 33 mil confirmações de covid. A pesquisa da UFV é feita com base nos dados fornecidos pelas secretarias estaduais de Saúde, que, no caso de Petrópolis, apontam 8 mil casos.
O dado divulgado pela Coordenadoria de Comunicação da Prefeitura infelizmente não é para se comemorar: apesar de inferior ao estudo de Viçosa, o número, alardeado por uma reduzida tropa de choque montada pelo governo provisório nas redes sociais desde a quarta-feira (5), também é superior à média nacional, que é de 2,8%.
Descontrole da gestão Hingo Hammes na pandemia
Os dados divulgados pela própria Secretaria de Saúde mostram uma aparente situação de descontrole sobre a gestão de Hingo Hammes na pandemia do novo Coronavírus.
As represadas estatísticas oficiais mostram que a situação se agravou – e muito – ao longo de 2021. Nos cinco primeiros meses deste ano, os índices já superam, com larga folga, todo o ano de 2020: de janeiro a maio deste ano, 602 petropolitanos perderam a batalha para o vírus, número 48,64% superior ao de todo o ano passado, quando foram registrados 405 mortes.
Petrópolis já contabiliza 1.007 mortos.
Questão joga luz sobre a importância da clareza nos dados
Apesar de a gestão provisória do município reclamar apenas do mensageiro e não da mensagem (publicada há mais de um ano por veículos da imprensa nacional e jamais questionada), a confusão referente ao estudo feito pela Universidade Federal de Viçosa joga luz sobre uma questão importante: a necessidade de clareza sobre os dados relativos à covid, algo que ainda gera confusões.
Isso aconteceu, recentemente, no próprio painel da Prefeitura. No início do mês passado, por exemplo, a confusão de um sistema arcaico lançou dúvidas sobre os dados oficiais.
O painel foi atualizado por volta de 19h com 27 mortes, o recorde do número de vítimas até agora. Às 19h15, a informação havia sido omitida, voltando apenas uma hora depois, após a imprensa questionar as ações da Prefeitura frente ao elevado índice.
À pedido do Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, a Prefeitura fez desde janeiro até mutirões na Secretaria de Saúde para tentar atualizar o resultado dos testes no sistema.
Como foi feito o estudo da Universidade Federal de Viçosa
A base de dados sobre a evolução da covid-19 no Brasil foi trabalho científico feito por um doutorando da conceituada Universidade Federal de Viçosa – o sétimo melhor instituto público do Brasil, segundo o Índice Geral de Cursos (IGC) do Ministério da Educação. Esse trabalho é utilizado para o monitoramento e controle do vírus não apenas pela ciência, mas também por veículos de comunicação de todo o Brasil, que têm que driblar a falta de transparência dos governos.
O estudo de Wesley Cota tem sido usado não apenas no Brasil, mas foi adotado inclusive pelo The New York Times, que rastreou detalhes sobre a pandemia em todo o mundo. O índice mede a relação entre o número de mortos e o total de infectados pela covid, baseado nos dados coletados junto às secretarias estaduais de Saúde.
O objetivo é mostrar o que pode acontecer a longo prazo no espalhamento da covid-19 no Brasil, segundo os pesquisadores, sob a hipótese de diferentes cenários de confinamento e restrição de mobilidade inter-urbana.