“Presidenta inocenta”

16/08/2016 12:00

No Supremo Tribunal Federal, diz o ministro Ricardo Lewandowski: “Concedo a palavra à eminente ministra Carmem Lúcia, nossa presidenta eleita, ou presidente?”

Carmem Lúcia responde: “Eu fui estudante e sou amante da língua portuguesa. Eu acho que o cargo é de presidente”.

Ao fundo, com ironia, ouve-se o ministro Gilmar Mendes: “Seria uma presidenta inocenta”?

Os diálogos acima reproduzidos, com imagens gravadas, espalharam-se como vírus pelas redes sociais. Pelas palavras de Carmem Lúcia, culta e independente, tem-se um enterro nem um pouco edificante para o termo presidenta, com o qual Dilma Rousseff exigiu ser tratada.

A lulopetista fez escola, a tal ponto que a senadora Vanessa Grazziotin proclamou da tribuna que “uma presidenta inocenta está sendo retirada do poder”, com o impeachment. É realmente inocenta, tanto quanto a senadora Gleisi Hoffmann, coitadinha, vítima da sanha persecutória do Ministério Público, ao lado de seu marido – o notório Paulo Bernardo. Os 100 milhões de reais, retirados dos aposentados, não significaram nada mais do que uma irrisória contribuição a quem sempre atuou em defesa dos trabalhadores. Uma remuneração justíssima, paga de forma prazerosa, via empréstimos consignados, que jamais seriam concedidos sem a prestimosa interferência de próceres de alto coturno da república lulopetista.

Portanto, nada a reclamar, a não ser contra as elites, inconformadas com o sucesso da administração lulopetista. Como insistem em ressaltar, Lula, Dilma e quejandos, nunca na história do Brasil um governo alcançou níveis tão elevados de progresso econômico e social. A crise é obra de ficção, alcançou-se o pleno emprego, não há recessão e vivemos no melhor dos mundos.

No jogo político do bem contra o mal, dos ricos contra os pobres, de concreto, o golpe, orquestrado contra as instituições democráticas. Resume-se a uma vingança de quem perdeu nas urnas, contra a honradez e a competência da presidente Dilma Rousseff, que jamais mentiu ao povo, coerente com os princípios que defendeu em sua campanha presidencial. O impedimento é uma farsa e o voto do senador Antônio Anastasia não passa de uma fraude. Assim são formulados os discursos de Vanessa e Gleisi, repetidos à exaustão na Comissão de Impeachment, reiterados no plenário do Senado. Alternadamente, fazem o “pas de deux” com Lindberg Farias, nervosinho e raivoso, no interminável balé da insensatez.

Dilma pode ser inocenta, quando se refere à “mosquita” ou às “mulheres sapiens”. Ou, ainda, ao afirmar que “Portugal não é Europa” e que se engasgou consigo mesma. Também quando nomeia o prefeito do Rio de Janeiro como o melhor prefeito das galáxias e não da Via Láctea, dentre outras sandices. No entanto, jamais conseguirá posar de inocente diante das suspeitas de corrupção que sitiam seu governo, desde a Casa Civil, com sua amiga Erenice Guerra, passando pelos financiamentos criminosos de sua campanha, até o escândalo da Petrobras, com a aquisição de Pasa dena.

É evidente que Vanessa Grazziotin, a mais enérgica, resistente e extremada advogada de Dilma, sabe dos esquemas de corrupção que dominam o governo, como qualquer brasileiro. Mesmo assim, na tribuna do Senado e agora no jornal Folha de São Paulo, teima em negar o óbvio, de amplo conhecimento da Nação. Vai fundo no patrocínio temerário e indefensável da presidente afastada, mas o que consegue é servir de chacota, com essa asneira de “presidenta inocenta”. Uma tristeza, uma vergonha para o parlamento brasileiro.

paulofigueiredo@uol.com.br

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