Presidente do TJ-GO pediu que desembargador criticado por Caiado deixasse casos criminais

11/abr 22:14
Por Rayssa Motta e Fausto Macedo / Estadão

O desembargador Adriano Roberto Linhares, do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), virou manchete no final do ano passado ao defender o fim da Polícia Militar. As declarações levaram o governador Ronaldo Caiado a entrar com uma representação contra ele no Conselho de Ética do tribunal.

O que não tinha vindo a público é que, internamente, o magistrado sofreu pressão para deixar a Câmara Criminal e, por consequência, a relatoria de processos envolvendo um primo do governador, suspeito de envolvimento no assassinato de um empresário em Anápolis.

O Estadão teve acesso à gravação de uma conversa em que o presidente do Tribunal de Justiça, Carlos Alberto França, sugere que o desembargador deixe de atuar em processos criminais. O portal Metrópoles divulgou primeiro o teor do áudio.

“Soluções podem ser alcançadas para proteger todo mundo”, começa o presidente do Tribunal de Justiça. “Eu até adiantei isso a outros colegas, um ou outro pode até ter comentado com você, no sentido de começar a refletir, até para o sossego seu, da sua família, de todos nós, de atuar numa Câmara Cível uns tempos, sabe, Adriano. Não exclua essa possibilidade não, meu amigo, tá? Aí ajudaria também o tribunal e acalmaria as coisas.”

O presidente do Tribunal de Justiça também aborda a representação de Caiado. O Órgão Especial chegou a afastar o desembargador, a partir do pedido do governador, mas o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) devolveu a ele o cargo.

“O governador, ontem, representou aqui, mas está parado, eu não vou dar andamento nisso agora. Vou, primeiro, buscar uma saída nossa aqui, para depois a gente dar um desfecho nessa representação e buscar, quem sabe, Adriano, diálogo, inclusive envolvendo você mesmo, se você tiver disposição. Sentar com o comandante da PM para expor, sentar com o próprio governador para expor, que não teve intenção nenhuma de ofender a PM”, segue França.

A todo o tempo, o presidente do tribunal demonstra disposição para tentar acalmar os ânimos e evitar um desgaste institucional.

Em dezembro, o desembargador Adriano Linhares deixou ações que implicam o primo do governador. Ele alegou “motivo de foro íntimo” e se declarou suspeito para atuar nos processos.

Procurado pelo Estadão, o governador negou ter interferido na decisão do desembargador. “O próprio desembargador Adriano Roberto Linhares já afirmou publicamente que não houve qualquer influência do governo ou do governador na sua decisão.”

Polêmica

O desembargador criticou a Polícia Militar em uma sessão de julgamentos da Câmara Criminal em novembro de 2023. Ele comenta sobre abusos em operações policiais e chama a corporação de “despreparada”.

“Isso não pode mais se repetir e, aliás, aqui vai uma reflexão pessoal, para mim, tem que acabar com a Polícia Militar”, afirma “Vejam nos jornais a quantidade de confrontos e ninguém leva um tiro. Morrem 4, 5 e 6 e isso não é por preparo, nós sabemos.”

O governador gravou um vídeo em reação às declarações. Na ocasião, Caiado chamou o desembargador de “inconsequente” e “desrespeitoso”.

COM A PALAVRA, O GOVERNADOR DE GOIÁS

Não existe, sob nenhuma hipótese, interferência do governador do Estado no trabalho do Poder Judiciário.

O próprio desembargador Adriano Roberto Linhares já afirmou publicamente que não houve qualquer influência do governo ou do governador na sua decisão.

Quando o governador criticou uma declaração do referido magistrado, o fez de forma pública e direta, sem subterfúgios, e sem qualquer prejuízo ao processo que ele estava julgando naquela ocasião.

O Governo de Goiás tem seu trabalho pautado pela harmonia e independência entre os poderes, e considera imprescindível não interferir no andamento de qualquer processo judicial.

COM A PALAVRA, O PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A reportagem entrou em contato com o desembargador, via assessoria de imprensa, mas não houve retorno até a publicação deste texto. O espaço está aberto para manifestação.

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