‘Presidente tenta ganhar protagonismo e ajudar sua vice’, afirma especialista
O pedido de impeachment dos juízes do Supremo feito por Alberto Fernández visa, acima de tudo, trazer algum protagonismo ao presidente que se vê apagado para a disputa de outubro, avalia María Lourdes Puente, diretora da Escola de Política e Governo da Universidade Católica Argentina.
Por que Fernández decidiu enviar o pedido de impeachment neste momento, já que não tem a maioria de 2/3 na Câmara e no Senado para aprovar a medida?
Em primeiro lugar, ele está super fragilizado como presidente e essa ação dá a ele centralidade de novo. O grande problema da Argentina é econômico, mas quem assumiu o rumo da economia é seu ministro Sergio Massa, e com isso ele perdeu muita centralidade. A quem interessa gerar este ruído? A Cristina e o setor que ela representa. Independentemente de conseguir ou não o impeachment, se ele conseguir ao menos provocar muitas discussões, forçar a convocação de testemunhas, colher provas, fazer denúncias, pode garantir o questionamento da Justiça durante o tempo que Cristina necessita por causa de sua situação judicial.
Como esse pedido afeta a eleição de outubro?
Esse movimento é visando principalmente pessoas que jogam politicamente, pois a grande preocupação da população em geral, hoje, é com a economia. Mas até a eleição vai ter uma comissão investigando a Justiça, jogando dúvidas sobre a Justiça, e isso favorece esse setor político que quer acusar a Justiça de agir imparcialmente, não só contra Cristina, mas ela principalmente, que é vista como uma líder popular.
Como isso repercute na sociedade argentina, que em sua maioria não aprova o presidente, mas também não confia na Justiça?
Na Argentina, há uma grande desconfiança no contrato social e com o Estado. E toda essa situação mina muito mais a confiança. Porque independentemente de gostar ou não das decisões da Corte, é um outro poder. O que estamos fazendo agora em um nível superior é jogar mais desconfiança no marco legal, pois se um presidente pode ignorar uma decisão judicial, que confiança pode ter uma empresa nas normas que regem seu investimento? Que confiança pode ter um argentino? Até mesmo um estrangeiro?
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.