‘Priscilla – O Musical’ é adaptação ‘atemporal’ de filme que ‘envelheceu’, diz diretor; entenda
Filme de baixo orçamento, Priscilla – A Rainha do Deserto (1994) conquistou um inesperado sucesso mundial, além de prêmios valiosos, como o Oscar na categoria de figurino. Escrito e dirigido pelo australiano Stephan Elliott, o longa, que ganha uma adaptação para musical agora no Brasil, teve origem a partir de uma triste imagem: o desespero de uma drag queen, cuja fantasia perdera as plumas durante o carnaval brasileiro. Foi como nasceu a história de duas drags e um transexual percorrendo o deserto australiano em busca de uma redenção para seus problemas pessoais.
“O filme tem muitas qualidades, mas envelheceu por apresentar uma realidade das drags que não é mais verdadeira. E ainda é melancólico demais”, observa Mariano Detry, diretor de Priscilla, a Rainha do Deserto – O Musical, que estreia no Teatro Bradesco no dia 7 de junho.
A primeira adaptação da história para os palcos aconteceu em 2006 e, entre várias versões, Detry preferiu a australiana. “É mais atemporal e está mais antenada com a visão atual sobre a diversidade”, comenta ele que, além de manter a trilha sonora original, que inclui hits da música disco como It’s Raining Men, Go West e Shake Your Groove, entre outras, trocou Madonna, que inspirou a montagem brasileira de 2012, por nomes como Kylie Minogue.
A montagem brasileira tem Reynaldo Gianecchini como Mitzi em sua estreia em teatro musical. Mitzi é a identidade artística de Anthony “Tick” Belrose, uma drag queen que é a melhor do mundo artístico, mas que vive temerosa de não ser aceita pelo filho Benjamin, de 6 anos, com quem nunca teve contato.
“Estou no momento de perceber como as diferenças são boas, bonitas, que mostram o ser único que cada um é. O musical me toca nesse sentido, a ponto de, quando canto True Colors (de Cyndi Lauper), eu me emociono muito. A canção fala da beleza de você mostrar as suas cores, que são belas como são. As três personagens do musical fazem uma jornada de autoconhecimento, de como se integrar na sociedade mantendo o orgulho próprio”, diz o ator em entrevista ao Estadão.
As outras duas personagens a que Gianecchini se refere são a jovem Felicia e a veterana Bernadette.
“Felicia é uma drag impulsiva, sem medo de se machucar e que se acha imbatível”, comenta Diego Martins, ator de 27 anos com extensa carreira como drag queen e sucesso recente na TV Globo interpretando Kelvin na novela Terra e Paixão. “Durante a viagem, ela perde sua ingenuidade e descobre que o mundo não pode ser como ela quer. Nesse momento, Felicia se aproxima mais de mim com sua ousadia, coragem e humor.”
Segundo Mariano, a personagem foi moldada a partir da experiência do ator. “Diego está conectado, por exemplo, com o universo da brasileira Íkara Kadosh e da americana RuPaul, hoje a rainha das drags.”
O contraponto está em Bernadette, a veterana transformista que embarca na viagem para se consolar da perda de um amor. “Ela é exemplo do que chamamos de transcestrais, artistas que carregam a memória da nossa história, base do que somos hoje”, comenta a atriz trans Verónica Valenttino, que alterna a interpretação do papel com Wallie Ruy.
Bernadette é uma elegante mulher transexual que já foi a estrela de Les Girls e cultiva hábitos antigos ao não admitir modernidades como drags cantando em vez de dublar. “Somos atrizes cantantes e ela é glamourosa, trazendo o charme da velha Hollywood com humor ácido e inteligência, além de sensibilidade”, completa Wallie.
Priscilla, a Rainha do Deserto – O Musical
Teatro Bradesco/Shopping Bourbon (R. Palestra Itália, 500)
5ª e 6ª, 20h. Sábado e domingo, 16h e 20h. Até 1/9
R$ 95 / R$ 200