Pró-Medula: projeto petropolitano visa conscientizar, orientar e informar a população sobre doação de medula óssea

25/fev 07:39
Por Maria Julia Souza

Fundado em 2012 pela médica petropolitana Gabriela Mesquita, o Projeto Pró-Medula visa orientar, informar e conscientizar a população sobre a importância de se cadastrar para a doação de medula óssea, sangue e plaquetas. Atualmente, o projeto possui voluntários espalhados por todo o país, com sua maior parte sendo composta por pacientes que receberam medula, doadores e outras pessoas que superaram a doença sem a necessidade de passar por um transplante.

Início das atividades

Anderson Rodrigues, um dos voluntários e coordenadores do projeto, contou que a iniciativa surgiu quando a sua fundadora, Gabriela Mesquita, foi fazer um passeio no município de Teresópolis e encontrou um garoto que estava fazendo uma campanha para ele, para captar doadores de medula óssea.

“Esse garoto deu um panfleto para ela e falou ‘Pô tia, se puder se cadastrar para tentar me salvar…’, e aquilo mexeu muito com ela, até porque ela era estudante de medicina e na própria faculdade não falava sobre a doação de medula [óssea], fala-se pouco sobre o assunto. Então, a partir dali, ela fez uma campanha de doação de sangue e cadastro de doadores de medula. E foi nesse momento que o projeto surgiu. Foram chegando mais pessoas para ajudar, para abraçar a causa e foi criando ‘corpo’ até chegar aos dias de hoje. E eu [Anderson] estou com ela desde o começo, mas ela que foi a fundadora”, contou Anderson.

Anderson Rodrigues, um dos voluntários e coordenadores do Pró-Medula.
Foto: Arquivo Pessoal

Ele explica ainda que quando o projeto começou na cidade, o tema era pouco falado, com poucas informações sobre a doação de medula óssea. 

“Quando as pessoas digitam hoje na internet sobre o tema, agora sim está aparecendo bastante informação. Pessoas que passam pelo mesmo problema, se curam e acabam criando um projeto de conscientização também. Hoje até existem mais projetos, mas um dos primeiros foi o Pró-Medula. Então as pessoas procuravam muito e nos encontravam, e aí foram surgindo voluntários do Brasil todo”, explicou. 

Principais atividades 

Espalhado em várias cidades do país, o principal objetivo do projeto é conscientizar, além de informar sobre campanhas de doação de medula, sangue e plaquetas. Além disso, Anderson conta que o Pró-Medula trabalha muito a parte emocional dos pacientes e das famílias.

“Quando a pessoa fica doente, quando você pesquisa na internet só tem tragédia, é difícil ver histórias de vitória e a maioria dos nossos voluntários hoje ativos são transplantados, pessoas que receberam medula óssea. O nosso trabalho hoje é muito emocional também de confortar, porque o primeiro ‘baque’ é quando você recebe a notícia, até a família fica muito sensível, então a partir daí, a gente foi conhecendo pessoas de outros estados”, contou. 

Anderson explica que atualmente para ser um doador de medula óssea é necessário realizar um cadastro nos Hemocentros, mas que muitas pessoas não têm condições de arcar com os custos, já que os locais mais próximos estão no Rio de Janeiro e em Campos dos Goytacazes. 

“Muita gente não tem condições financeiras para se deslocar, então a gente acaba ajudando, arrumando ônibus, conseguindo doadores. Uma ação que a gente quer transformar perene, são as campanhas de doação de sangue, mas infelizmente as pessoas só se comovem quando é alguém da família ou quando é um conhecido. Então esse trabalho de conscientização é muito importante, porque você acaba ‘fidelizando’ a pessoa. Porque a questão é a pessoa participar das campanhas e continuar multiplicando essa mensagem, que é o grande desafio”. 

Participação no Rock In Rio

O projeto também já participou das edições de 2017, 2019 e 2022 do Rock In Rio, além da primeira edição do The Town, que aconteceu no ano passado, com um stand onde os voluntários explicaram a importância da doação, como ela é feita e como realizar o cadastro para ser um doador. 

“Hoje uma pessoa que ajuda muito a gente, que falamos que é o padrinho do projeto, é o Rubem Medina, que é um dos sócios do Rock In Rio, da ArtPlan, que coordena o evento. Então, a cada ano que passa [do evento], a gente fica em uma cobertura maior e em uma localização melhor. Ele é uma pessoa que ajuda muito a gente”, contou Anderson. 

Anderson conta que no Rock In Rio, ele e os demais voluntários falam com, em média, 5 mil pessoas por dia que passam pelo stand do Pró-Medula. Ainda segundo ele, o número varia de acordo com os shows, e que já chegaram a receber cerca de 10 mil pessoas por dia [no stand]. 

“Lá a gente acaba tirando muitas dúvidas e quebrando muitos preconceitos, já que as pessoas têm muitas percepções erradas sobre a doação de medula, mas na verdade ela não tem risco nenhum para quem está doando. Então quando a gente tem voz, por mais simples que possa parecer, pode ser a solução de um grande problema. Por isso é sempre importante estar falando sobre o assunto”, ressaltou. 

Registro Nacional de Doadores

O integrante do projeto explica que existem duas formas de cadastros nacionais referentes a medula óssea: o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), que é para pessoas que querem ser doadores, e o Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme), para quem irá receber a doação.

“A gente já pegou casos de desinformação do próprio médico da pessoa e explicamos que não era daquela forma. Existem muitas falhas humanas também nesse meio, então todo paciente que precisa de medula, precisa estar cadastrado no Rereme, mas esse cadastro é manual, quem faz é o médico. Se ele [médico] não colocou o paciente no Rereme, ele nunca vai achar um doador”, explicou Anderson.

Ações realizadas 

Além da participação em eventos, o projeto também realiza palestras em empresas, escolas, hospitais e universidades. Outras iniciativas do Pró-Medula são as caravanas para realização de cadastros para se tornar um doador e o acompanhamento emocional dos pacientes e das famílias feito por voluntários do projeto.

Atualmente, o Pró-Medula possui mais de 200 voluntários espalhados pelo país, no entanto, Anderson explica que cerca de 30 a 50 pessoas é que trabalham ativamente no projeto.

“Mas eu falo nesse número porque tem pessoas que às vezes não tem disponibilidade de tempo, mas acaba que é uma pessoa que é doador ou que foi transplantado e conversa com famílias e/ou pessoas que estão passando pela mesma situação, e não deixam de ser nossos voluntários”.

Como se tornar um doador

Para se tornar um doador de medula óssea, é preciso ir a um Hemocentro mais próximo, realizar um cadastro no Redome e coletar uma amostra de sangue (10 ml) para exame de tipagem HLA.

– Ter entre 18 e 35 anos de idade (o doador permanece no cadastro até 60 anos e pode realizar a doação até essa idade);

– Apresentar um documento de identificação oficial com foto;

– Estar em bom estado geral de saúde;

– Não ter nenhuma doença impeditiva para cadastro e doação de medula óssea.

Projetos futuros

Anderson finaliza dizendo que o Pró-Medula esta com alguns projetos em desenvolvimento para divulgações em laboratórios particulares, incentivando a doação de medula, além de continuar realizando as palestras dentro das universidades e empresas.

“Sempre tem alguém [nas palestras] da família ou alguém muito próximo que está passando por isso, ou até mesmo a própria pessoa. Em uma das palestras que já demos, por exemplo, tiveram duas pessoas que foram conversar com a gente que estavam passando por problemas. Então acaba que sempre tem alguém próximo precisando, e a doação de medula [óssea] serve para mais de 80 tipos de doenças e muitas vezes é esse trabalho de conscientização que toca no coração da pessoa”, finalizou.

Mais informações sobre as ações e como ser um voluntário do Pró-Medula podem ser obtidas no Instagram do Projeto.

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