Programa de atividade física estimula saúde e vitalidade depois dos 60
Pesquisas apontam que o processo de envelhecimento da população se acelera. Por esse motivo, chegar à Terceira Idade com saúde e disposição – e mais do que isso, com autonomia para viver com qualidade o cotidiano – tem sido o objetivo de 10 entre 10 idosos no Brasil. Portanto, lidar com essa parte significativa da população requer cuidados especiais e é justamente isso que o projeto “Viver Mais” se propõe em Petrópolis.
Para entender o mecanismo de funcionamento do projeto, é necessário entrar no túnel do tempo para compreender como ele começou a ser esboçado. Há três décadas, o então jovem professor de educação física, Renato Farjalla, se formou na profissão e o tema velhice sempre chamou a atenção, justamente em uma época em que poucos na sua área se atreviam a se debruçar em estudos relacionados ao envelhecimento da população geral. Naquela ocasião, sua visão sobre o tema o impulsionou a se aprofundar sobre o assunto.
Foram anos de dedicação integral a pesquisas e estudos relacionados aos menos jovens. Durante alguns anos, pegou sua bagagem e foi morar em Portugal para realizar pesquisas de campo, aprender sobre as soluções governamentais e privadas sobre qualidade de vida e velhice, os mecanismos biológicos e físicos a respeito do processo de evolução de doenças associadas a senilidade. Atualmente, faz um doutorado que nada mais é do que a reunião de tudo que estudou para a sua aplicação na realidade. Daí surgiu o “Viver Mais”.
Farjalla decidiu convidar a professora de educação física, Flávia Guimarães, para aplicar, em academias, um plano de atividade física voltada para a melhora da qualidade de vida dos idosos. Flávia, que já havia trabalhado com essa categoria da população, topou na hora e, desde o ano passado, a dupla escolheu a academia VO2 (Centro) para pôr em prática o projeto com um grupo de idosos, que segue à risca um programa individualizado de treinamento, associado a atividades sociais. O resultado tem sido positivo até aqui. “O projeto é fundamentado não apenas na atividade física, mas em outros aspectos importantes que fazem parte da vida do idoso. O social, sobretudo, faz parte do trabalho, assim como o psicológico. O aluno quer ver o resultado do esforço que faz na academia e sempre damos um retorno positivo a ele”, explica o professor.
O “Viver Mais” é, também, um desdobramento de um projeto em que Renato Farjalla coordenou por cinco anos em uma universidade de Petrópolis. Através deste trabalho, pôde aprimorar todo o seu trabalho, que se materializou no programa esportivo que muda a vida dos idosos. Além disso, de acordo com seu levantamento de campo, a população considerada mais velha do município abarca 14%, um contingente inegavelmente enorme e que tende a crescer ainda mais nas duas próximas décadas, segundo ele. Por conta disso, o doutorando educador físico faz um alerta: para evitar que hospitais públicos e privados fiquem lotados de pacientes, é fundamental que a população faça atividade física regular e acompanhada, sobretudo para a turma da Terceira Idade.
O desafio do “Viver Mais” é expandir o projeto para todo o município. Sendo assim, Renato Farjalla e mais Flávia Guimarães, ao lado do professor Michel Oliveira, desenvolveram uma metodologia própria para capacitar profissionais da educação física para trabalhar com a Terceira Idade. Farjalla vai oferecer neste ano a um grupo de educadores físicos e estudantes para trabalhar com esse grupo expressivo da população. “Nós casamos os conteúdos e experiências nossas com o trabalho e queremos nos tornar referências nesse campo. Podemos contribuir muito para a melhora da qualidade de vida da população, que a cada década aumentará. Além disso, queremos mostrar aos idosos a importância de fazer parte de um projeto como esse, que vai lhe dar uma boa condição física e melhorar sua autoestima, autonomia e alegria de viver”, detalhou Renato Farjalla.
O passo-a-passo do trabalho e a impressão dos alunos
O plano de trabalho do “Viver Mais” consiste, antes de tudo, em fazer um mapa da situação global do idoso. A verificação de sua saúde vai dar uma noção daquilo que pode ou não ser feito, a medição dos exercícios e buscar aquilo que melhor poderá beneficiá-lo. Há centenas de exercícios e essa escolha individual se dá em conformidade com o próprio aluno, que necessita sentir prazer em fazer a atividade. Se, por exemplo, a pessoa tiver sofrido um infarto, será preciso direcionar um trabalho específico para melhorar sua condição cardiovascular, proporcionando aumento na qualidade de vida.
Esse foi o procedimento adotado com Ana Clara Souza de Almeida, 75 anos, que por duas vezes foi vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e ainda tem Mal de Parkinson, diagnosticado em 2010. Essa combinação de problemas trouxe uma perda da qualidade de vida enorme. Por isso, seu médico a aconselhou a fazer exercícios físicos para melhorar sua condição de saúde. “Dona Ana”, como é conhecida, ingressou no “Viver Mais” na esperança de minimizar o impacto dos problemas de saúde. O resultado foi impressionante: exibe uma alegria incrível, que lhe dá a condição de treinar três vezes por semana. Os sintomas do Parkinson, por exemplo, são contidos a tal ponto de terceiros não perceberem que ela possui a doença – amplamente divulgada mundo afora pelo ex-boxeador Muhhamad Ali (Cassius Clay).
Os irmãos José Francisco Cardoso de Souza e Maria Ruth Cardoso Carvalho, respectivamente 71 e 84 anos, são assíduos frequentadores do projeto na VO2 e não faltam a uma aula sequer. O primeiro enfrentou uma cirurgia na cervical e associa a atividade física do programa com a reabilitação da intervenção médica, enquanto que a aluna – que é a mais idosa do grupo – combate uma artrite reumatoide que, até um tempo atrás, a limitava em sua vida cotidiana em casa. “Essa artrite é uma doença bastante chata e que me traz problemas. Mas venho as aulas três vezes por semana e digo que tenho uma excelente qualidade de vida, faço minhas coisas sozinhas e minha saúde é muito boa”, explicou Dona Ruth.
Depois de desenvolver uma doença que custou para ser identificada pelos médicos, a carioca Sara Salvador, de 67 anos, viu a morte de perto após sofrer uma grave convulsão. Até descobrir, de fato, a doença que possuía, precisou de tratamento médico regular, que veio acompanhado da indicação para atividade física moderada. Ela entrou em uma academia e conheceu Flávia Guimarães, que a orientou durante muito tempo até ser indicada para fazer parte do “Viver Mais”. Hoje, a tradutora de línguas tem uma qualidade de vida que lhe permite executar todas as suas tarefas normalmente, associada à disposição enorme que ela garante ter. “Hoje não sinto nada de ruim. Faço o tratamento médico e realizo meus exercícios sem problema algum. Quer saber? Não paro mais de me exercitar. É excelente para minha saúde e minhas tarefas diárias”, brincou ela.
Para acompanhar o trabalho e a evolução de cada idoso, Flávia Guimarães destaca pontos-chave da implementação do “Viver Mais”, como a união de diferentes conhecimentos para conseguir o sucesso. A parte social é considerada um pilar essencial para o êxito daquilo que o aluno busca, “Sempre procuramos dar retorno aos alunos sobre seu sucesso no treinamento. Mas fazemos atividades sociais que contribuem para a saúde de todos, sempre com alegria. A confraternização também faz parte do projeto”, ressaltou a educadora, que prevê a expansão do “Viver Mais” para outras academias locais.