Projeto da Faperj estuda benefícios do processo de polinização para a manutenção da biodiversidade
A interação entre animais e plantas é o foco do estudo de pesquisadores por meio do Programa Apoio à Conservação da Biodiversidade: Coleções Biológicas do Estado do Rio de Janeiro – 2020 da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). A polinização, processo de transferência de pólen entre flores, que tem as abelhas e os morcegos como ativos fundamentais, motiva projetos de taxonomia, ecologia e evolução de plantas e animais.
A professora Maria Cristina Gaglianone foi uma dos três docentes da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) contemplados no edital do programa da Faperj. Ela coordena o projeto “Integrando coleções Zoológicas e Botânicas da Uenf sob a perspectiva de serviços ecossistêmicos”, que beneficiam as pessoas. O processo auxilia na produção de alimentos, também ajudam na manutenção da biodiversidade.
Após consumir os frutos, as sementes excretadas, por morcegos e abelhas, podem germinar, contribuindo para o estabelecimento de novas plantas em diversos locais. Indiretamente, espécies de morcegos insetívoros podem também beneficiar as plantas, pois se alimentam de insetos herbívoros que agem negativamente nas suas populações – esclarece.
Doutora em Entomologia, Maria Cristina diz que as coleções zoológicas e botânicas da Uenf reúnem atualmente mais de 15.000 exemplares de insetos, sendo a maioria abelhas; e a coleção de mamíferos guarda 420 exemplares, a maioria da ordem Chiroptera (morcegos). Já o herbário possui atualmente 12.000 exsicatas.
Todo este material é proveniente principalmente de áreas de restinga, florestas, afloramento rochoso, áreas urbanas e agrícolas das regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro – esclarece a bióloga.
De acordo com ela, as coleções-alvo deste projeto estão organizadas de maneira adequada, porém, não integrada. Isso significa que os acervos estão registrados em bancos de dados separados e sem integração entre eles. E o projeto pretende iniciar essa integração.
Ainda segundo a bióloga, a manutenção do material das coleções é constante e necessita de investimento e recursos humanos para a sua preservação em condições ideais para estudos, por atuais e futuros pesquisadores. Por isso, o apoio da Faperj irá ajudar a manter as coleções em perfeito estado, além de viabilizar sua organização de forma que as informações possam ser rapidamente obtidas, de maneira mais integrada, e disponibilizadas em sistemas nacionais de coleções biológicas, como o Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBR – http://www.sibbr.gov.br).
Ela esclarece que os recursos serão utilizados para a compra e conserto de equipamentos e materiais de consumo que servem à organização e manutenção dos acervos, e para bolsas de apoio técnico para graduados que possam auxiliar na organização das informações associadas às coleções.
Atual assessora da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação e coordenadora institucional do Programa de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica da Uenf, Maria Cristina está certa de que o projeto, uma fonte de material para pesquisas e para formação de estudantes de graduação e pós-graduação, ampliará as possibilidades de pesquisadores e estudantes realizarem projetos utilizando este material preservado nas coleções. Para ela, o projeto é importante para apoiar a manutenção e ampliação destas coleções e dar maior visibilidade das coleções dentro e fora da Uenf.
Maria Cristina explica que o processo de polinização é uma consequência da visita das abelhas e morcegos às flores para coletar recursos que servem à sua alimentação e da sua prole, ou ainda na construção de ninhos ou outros comportamentos. Por exemplo: no caso das abelhas, além do néctar e pólen, elas utilizam resinas, óleos e aromas florais. Segundo a professora, muitas espécies vegetais dependem destes polinizadores e não produzem frutos e sementes na sua ausência. Espécies frugívoras de morcegos têm ainda outro tipo de interação mutualística com a flora, por meio da dispersão de sementes.
Maria Cristina acha fundamental a ampliação e divulgação de informações sobre a diversidade de espécies e dos serviços prestados por elas para fomentar uma mudança de atitude relativa aos morcegos e às abelhas; muitas pessoas conhecem uma única espécie de abelha, que produz o mel mais consumido e que pode provocar acidentes graves pelas ferroadas. Mas, apenas no Brasil, existem mais de 1.500 espécies de abelhas, incluindo as sem ferrão. Além disso, a maioria das abelhas (cerca de 75% de todas as espécies) não tem comportamento social e constrói ninhos no solo; isso é totalmente desconhecido da maioria das pessoas.
“As coleções são uma ferramenta importante para essa conscientização. Junto com as coleções de pesquisa, pretendemos fortalecer nossas coleções didáticas, que têm o papel de mostrar a nossa biodiversidade aos alunos nas escolas e ao público em geral. Os exemplares das coleções têm um papel central nas ações de popularização da ciência, que está relacionado como um dos objetivos do nosso projeto”, conclui a pesquisadora.