Putin está disposto a negociar com Biden sobre guerra na Ucrânia

02/12/2022 12:25
Por Redação / Estadão

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está disposto a abrir conversas sobre a guerra na Ucrânia com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mas não vai ordenar uma retirada de tropas do país vizinho para viabilizar o diálogo diplomático. O entendimento da Presidência russa sobre o tema foi apresentado pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, nesta sexta-feira, dia 2, um dia após Biden afirmar que poderia falar com Putin, se o russo encerrar invasão na Ucrânia.

“O que Biden disse na realidade? Ele disse que as negociações são possíveis apenas depois que Putin abandonar a Ucrânia”, disse Peskov a jornalistas nesta sexta, antes de acrescentar que Moscou “evidentemente” não tem intenção de aceitar essas condições. “A operação militar especial vai continuar”.

Ainda de acordo com Peskov, Putin está disposto a conversar com Biden para garantir o respeito aos interesses da Rússia, mas acrescentou que a postura de Washington dificulta qualquer diálogo. “O governo dos Estados Unidos não reconhece os novos territórios como parte da Federação da Rússia”, disse Peskov, em referência às regiões ucranianas que o Kremlin afirma ter anexado.

Em uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente francês, Emmanuel Macron, na quinta-feira, dia 1º, Biden disse que poderia abrir uma linha direta com Putin sobre o conflito, após consultar seus aliados da Otan, e desde que não prejudicasse os interesses ucranianos. Ele não mencionou como condição a retirada prévia das tropas russas da região.

“Deixe-me escolher minhas palavras com muito cuidado”, disse Biden na quinta. “Estou preparado para falar com Putin se de fato houver interesse em que ele decida que está procurando uma maneira de acabar com a guerra. Ele ainda não fez isso.”

O diálogo entre Estados Unidos e Rússia desde o começo da guerra na Ucrânia está limitado desde o início da invasão russa, sem nenhum contato direto entre Biden e Putin neste período. Em uma entrevista na quinta-feira, o chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou que foram estabelecidos canais separados de comunicação para tratar de temas de interesse compartilhado, como o caso de americanos presos na Rússia – como a jogadora de basquete Brittney Griner.

Na mesma entrevista, Lavrov promoveu uma escalada retórica contra o Ocidente, acusando os EUA e a Otan de se envolverem diretamente no conflito ao fornecer armamentos e treinar soldados do país do Leste Europeu.

Embora conversas de paz já tenham sido pedidas e mediadas por líderes mundiais e organizações internacionais – rodadas de negociação chegaram a ser organizadas na Turquia -, as negociações para um eventual acordo não evoluem por discordâncias acentuadas entre Kiev e Moscou.

Uma das exigências do lado russo, por exemplo, é que o governo ucraniano reconheça a Crimeia, tomada em 2014, e os territórios de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, como parte do território da Rússia. Não se sabe também se o Kremlin aceitaria a manutenção do governo ucraniano atual, a quem acusa de ter orientação neonazista.

Do lado ucraniano, o governo de Volodymyr Zelenskiy já se posicionou contra a perda de qualquer território para a Rússia, bem como cobra a responsabilização de autoridades do país vizinho por crimes de guerra. (Com agências internacionais).

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