Quase um século da APL
1922 foi um ano mágico para o Brasil e, em especial referência, para Petrópolis. Aquele ano já distante de nós – mais de um século -, assinalou a data centenária da independência de nosso país. Em todos os recantos da imensa nação brasileira ocorreram comemorações grandiosas ou singelas, todas de grande significado para o espírito da brasilidade. O Rio de Janeiro, capital federal, bordou-se de prédios singulares, onde ocorreram grandes eventos e exposições, com nações amigas edificando pavilhões magníficos comungando com o Brasil uma nova era do pensamento científico internacional.
Na área cultural alguns movimentos assinalaram ruptura e quebra de conceitos, como a Semana de Arte Moderna, quando correntes que nos prendiam ao passado europeu, tiveram grilhões rompidos por um espírito de assunção nacionalista. Uma nova descoberta do Brasil.
Em Petrópolis, durante todo o ano, ocorreram eventos culturais e artísticos, idealizados e realizados por uma grande comissão integrada por notáveis cidadãos autóctones e veranistas, movimentando a serra e mostrando o espírito criativo e dinâmico de nossa sociedade. No final, um pequeno obelisco contendo medalhão de bronze foi instalado e inaugurado na praça da Liberdade, hoje testemunha da expressiva atuação cívica de nosso povo.
Nesse ano surgiu a Academia Petropolitana de Letras, que completou 95 anos de existência no último dia 3 de agosto. Sua história e personagens estão registrados na memória de nossa história, corporificando movimento vitorioso encabeçado por meu pai, Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos, ao lado de João Roberto d´Escragnolle e vários homens de letras, ciências e artes, fundadores da Associação Petropolitana de Ciências e Letras, sob proposta de incentivar a produção científica de nossa gente laboriosa e criativa.
A proposta da entidade não era inovadora, se tomarmos como fundamento o movimento literário e artístico surgido com a Semana de Arte Moderna, porém calcada na estrutura congênere das associações e academias de letras. Obviamente sob a riqueza da participação de todas as tendências, a então Associação incentivou a produção literária ao abrigar aqueles que admiravam e cultivavam as letras e artes. Um sodalício que recebeu mulheres escritoras em seu quadro, em autêntico pioneirismo.
Na mesma década, em dezembro de 1929, a presidente da Associação, Nair de Teffé Hermes da Fonseca, transformou-a em Academia Petropolitana de Letras, seguindo-se dias de glórias, vitórias, descasos, dificuldades, mas persistindo pelo trabalho de diretorias integradas por acadêmicos abnegados e conscientes do dever assumido.
Hoje a Academia está sob a diretoria do presidente Gerson Valle o qual, assinalando a data, fez realizar missa festiva na manhã de domingo, 8 de agosto, na Catedral de Petrópolis e solenidade, dia 9, na Casa de Cláudio de Souza, tendo como palestrante o autor destas linhas.
Ninguém perguntou, mas respondo: por que o convite presidencial ao orador, diante da magnitude do quadro acadêmico composto de luminares das letras e artes?
Porque sou o decano da Casa Literária, o acadêmico mais antigo e diretor-presidente por cerca de 30 anos, em mandatos corridos ou intercalados, ajudando a manter a entidade viva e atuante, admirada e respeitada. Estive presente em diretorias ao lado de renomados confrades e o meu compromisso está ligado ao idealizador da Casa Literária, meu pai, que de 1922 a 1959 – quando faleceu – esteve presente em quase todas as diretorias, uma delas como presidente e nas demais, seu diligente secretário.
Parabéns à Academia, seus integrantes e, em especial, a quantos colaboraram para que atingisse 95 anos, na trilha do centenário bem próximo.