Queda de cavalo reacende polêmica em torno das charretes na cidade

19/05/2016 08:45

Na última sexta-feira, um cavalo que conduzia uma charrete turística escorregou e caiu em Petrópolis. O momento foi filmado por pessoas que passavam pelo local e o vídeo gerou grande repercussão na internet, reacendendo a polêmica em torno da vitórias.

Nesse meio tempo, foi aprovada na Câmara dos Vereadores uma Comissão Especial para estudo da troca das charretes por outro tipo de veículo turístico. E uma passeata em favor do fim das charretes está marcada para sábado, dia 21.

O vídeo que circulou na internet chamou a atenção não só pelo cavalo caído, mas porque a mulher que filmava xingou por diversas vezes o charreteiro.

De acordo com o condutor da vitória cujo cavalo caiu, João Rodrigo de Oliveira Alves, que já trabalha há 10 anos no ofício, o cavalo escorregou e caiu. No entanto, tão logo o arreio foi solto, o cavalo se levantou prontamente. “O cavalo não sofre maus-tratos e nem estava doente. Ele apenas escorregou. Foi uma fatalidade”, afirma.

No momento, de acordo com João, cerca de 12 pessoas se juntaram em torno da charrete. A maioria estava criticando e insultando – o que dificultou ainda mais o trabalho do charreteiro de ajudar o cavalo a se reerguer.

A veterinária e responsável pela Coordenadoria de Bem-Estar Animal da Prefeitura, Rosana Portugal, afirma que um laudo de três semanas antes da queda comprova que o cavalo não estava doente. Os animais passam por exames trimestrais e são visitados por um veterinário especializado em equinos disponibilizado pela Prefeitura. Além disso, os cavalos são microchipados.

A Coordenadoria foi criada em 2014, apesar de que em 2013 já havia sido iniciado um núcleo de bem-estar animal. Na ocasião, alguns charreteiros tiveram suas permissões cassadas. Em 2014, houve o Curso de Requalificação dos Charreteiros de Vitória, que abordava os assuntos de bem-estar animal, colocação de ferraduras, noções de trânsito, História e Turismo de Petrópolis, entre outros. Desde então, Rosana afirma que não houve mais nenhum caso de maustratos com os cavalos.

A Coordenadoria, que já foi responsável pela abolição das carrocinhas de bodinhos na Praça da Liberdade, do aluguel de cavalos em frente ao Hotel Quitandinha e em frente ao lago de Nogueira, afirma que – diferentemente dos outros casos – , os cavalos das charretes não sofrem maus-tratos. “Se algum cavalo ali estiver sofrendo maus-tratos nós somos os primeiros a cassar a permissão do charreteiro”, disse Rosana.

Para trabalhar com as vitórias, os charreteiros pagam uma taxa anual de R$ 182,00 e gastam cerca de R$ 2.000,00 por mês para manter os quatro cavalos necessários por charrete, uma vez que há sempre o revezamento dos animais para descanso.

O passeio de charrete constitui um dos principais atrativos no turismo de Petrópolis. “Eu tenho clientes cariocas que de vez em quando me ligam e vêm à cidade apenas para passear de charrete, almoçar e vão embora”, relatou o charreteiro Leonardo Monteiro de Souza. Eles relatam que nos dias de chuva, quando as charretes não funcionam, há muitos turistas que reclamam.

Além de João, os charreteiros Ronaldo José Mussel (que tem 20 anos de ofício) e Leonardo (12 anos de ofício) afirmam que são constantemente insultados e xingados quando estão trabalhando, principalmente na última semana por ativistas. “Às vezes eles xingam até os turistas. Eles  têm que entender que nós somos trabalhadores, temos esposa e filhos em casa. Esse vídeo agora está na internet… Vai ficar para sempre”, desabafou João, que após o incidente fez um boletim de ocorrência na 105ª Delegacia de Polícia por danos morais.

Um dos organizadores da “Passeata pelo Fim das Charretes em Petrópolis”, Domingos Galante Neto, afirma que o objetivo dos ativistas não é acabar com o passeio turístico, nem com o emprego dos charreteiros, apenas trocar as charretes de tração animal por outro tipo de veículo, como por exemplo o veículo elétrico, que substituiu as charretes em Paquetá-RJ. “A cidade representa um avanço e inspiração para nós em Petrópolis”, afirmou o comerciante, que faz parte da ONG Cãopanheiros e milita em favor da causa animal na cidade.

Domingos afirma que a sociedade civil que é contra essa atividade na cidade estava cobrando um posicionamento deles. Foi então que resolveram criar o evento.

A Comissão Especial para estudo da mudança das charretes para outro tipo de veículo, que foi aprovada na última terça-feira na Câmara do Vereadores, tem um prazo de 90 dias para funcionamento. Fazem parte dela a vereadora Gilda Beatriz (PMDB), Anderson Juliano (PT) e Silmar Fortes (PMDB). De acordo com a advogada e chefe de gabinete de Gilda, Patrícia Sant'Anna Gagliardi Leite, a Comissão fará reuniões, para as quais serão convidados vários membros da sociedade civil, os charreteiros, os protetores dos animais, a OAB e representantes do Poder Executivo.


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