Queda no IPC-DI de julho é a maior do Real, mas se concentra em poucos itens

05/08/2022 14:31
Por Vinicius Neder / Estadão

A queda de 1,19% na leitura de julho do IPC-DI, componente que mede os preços ao consumidor no Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), é a maior já registrada no Plano Real, informou André Braz, coordenador do IPC no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Mais cedo, a entidade informou que o IGP-DI caiu 0,38% em julho, após alta de 0,62% em junho.

Com a ação do governo federal para reduzir tributos incidentes sobre combustíveis e a conta de luz, o recuo no IPC-DI superou até mesmo a deflação de maio de 2020, quando o componente caiu 0,54%, no auge da crise causada pela covid-19.

Ainda assim, a queda dos preços foi muito concentrada em poucos itens. Os preços médios da gasolina tombaram 14,24% em julho. A tarifa elétrica residencial teve queda de 5,13%. O etanol ficou, em média, 11,02% mais barato, enquanto as passagens aéreas recuaram 19,81% em julho.

Conforme o índice de difusão, que mede a proporção de itens com taxa de variação positiva, 67,74% do total de itens pesquisados no IPC-DI ficaram mais caros em julho. O índice ficou abaixo dos 72,58% de junho, mas acima da difusão registrada em maio de 2020.

Naquele mês, logo no início da pandemia, quando a covid-19 paralisou a economia global, o IPC-DI caiu 0,54%, variação abaixo da do mês passado, mas o índice de difusão ficou em 47,74%. Ou seja, a maioria dos itens pesquisado ficou mais barata em maio de 2020. Aquele foi o segundo mês seguido de queda no IPC-DI. Em abril de 2020, houve queda de 0,18%, com índice de difusão de 58,71%.

Segundo Braz, com a queda no IPC-DI de julho passado tão concentrada em poucos itens, não é possível classificar a dinâmica atual de preços de deflação. “A definição de inflação é aumento generalizado de preços. Da mesma forma, a definição de deflação é queda generalizada de preços. Não pode ser queda concentrada em poucos itens”, afirmou o pesquisador.

Além disso, lembrou Braz, a própria percepção do consumidor não deverá ser a de um cenário de deflação. Especialmente as famílias mais pobres, que não têm carro particular e, portanto, não compram gasolina e etanol para abastecer seus veículos, não deverão perceber alívio nos preços. Inclusive na conta de luz, já que, em muitos Estados, o ICMS incidente sobre a tarifa de energia elétrica já possuía alíquota reduzida para os consumidores residenciais com baixo consumo, disse Braz.

No cenário de médio prazo, mais importante para a percepção sobre a inflação será a esperada desaceleração nos preços dos alimentos. Por enquanto, no acumulado em 12 meses até julho, a classe de despesa Alimentação do IPC-DI (que passou de uma alta de 1,30% em junho para avanço de 1,34% no mês passado) registra um salto de 14,49%.

Para Braz, há duas forças que poderão moderar a esperada desaceleração na inflação de alimentos. Uma é a taxa de câmbio. Eventual elevação da cotação do dólar (por causa da alta de juros nos Estados Unidos e de riscos políticos e fiscais no Brasil) tende a diminuir o efeito da queda nas cotações de “commodities” agrícolas. A segunda força é um incremento na demanda. Com o aumento na mensalidade do Auxílio Brasil até o fim do ano, a tendência é que as famílias mais pobres possam consumir mais alimentos, pressionando os preços.

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