Quem era o ex-secretário do Guarujá que matou a mãe, o cachorro e tirou a própria vida

19/set 16:45
Por José Maria Tomazela / Estadão

Alerta: a reportagem abaixo trata de temas como suicídio. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda.

O advogado Thiago Felipe de Souza Avanci, de 39 anos, que matou a mãe e o cachorro e tirou a própria vida no Guarujá, na noite de terça-feira, 17, ocupou vários cargos públicos na prefeitura da cidade do litoral paulista ao longo da sua carreira. Segundo a Polícia Civil, ele havia sido denunciado por suposto estupro de vulnerável contra um sobrinho autista menor de idade.

Nascido em julho de 1985, aos 22 anos ele já havia se formado em Direito pela Universidade Católica de Santos (UniSantos). Na mesma universidade, entre 2008 e 2011, ele se tornou mestre em Direito, com foco em Direito Ambiental, com bolsa integral por mérito, sendo aprovado com excelência. Nesta época ele compartilhava o escritório de advocacia Nastri & Avanci, no Guarujá, com a mãe, a advogada Sueli Nastri Souza Avanci.

Em 2020, Thiago se tornou doutor em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com bolsa integral por mérito. Junto com o doutorado, ele fez o curso de especialização em Gestão Pública Municipal na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Foi o que o levou a ocupar cargos públicos na prefeitura do Guarujá. Ele ingressou na administração municipal em julho de 2019, como assessor na Secretaria de Coordenação Governamental (Segov), função exercida até janeiro de 2021. No mesmo mês, foi nomeado assessor de Assuntos Estratégicos.

Em julho de 2021, na condição de advogado e jurista, Thiago foi designado liquidante da Empresa de Urbanização de Guarujá (Emurg), autarquia municipal, onde permaneceu até abril deste ano. Em seguida, foi nomeado como secretário adjunto de Coordenação Governamental e Assuntos Estratégicos, tendo sido exonerado em junho, quando assumiu a Secretaria de Modernização e Transformação Digital (Semod). Thiago foi exonerado a pedido no dia da tragédia.

Fluente em línguas – além do português, falava inglês, francês, espanhol e italiano – o então advogado foi autor e coautor de várias publicações e pesquisas na área jurídica. Em 2021, publicou seu principal livro: Teoria Pós Positivista dos Direitos Fundamentais: dialética entre economia, ecologia e filosofia, consolidando pesquisas sobre direitos fundamentais que fazia desde 2007. Thiago presidiu a Comissão de Direitos da Criança e do Adolescente da OAB, subsecção Guarujá, de 2013 a 2016. Foi ainda presidente do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente do Guarujá entre 2014 e 2016.

Avanci participava de workshops e dava palestras. Ele deu aulas em seis universidades e era professor de Direito na UniSantos. “A capacidade dele como professor era inegável, mas, como pessoa, passava a impressão de ser uma pessoa ambígua. Ele era introspectivo, não fazia amizades com muita facilidade. Uma vez ele me disse que curtia esportes radicais”, contou uma ex-aluna que pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome, Adriana.

Um boletim de ocorrência foi feito após Thiago entregar um envelope com conteúdo no qual ele se despedia e confessava ter abusado do sobrinho, um adolescente de 17 anos com autismo. A investigação sobre o suposto estupro foi confirmada pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) – o caso está em segredo de justiça.

Moradores do Guarujá com alguma relação com a família, ouvidos pela reportagem, lamentaram a morte da mãe de Thiago, Sueli Nastri, que classificaram como “uma mulher excepcional”. Sueli se formou em Direito em 1974, na Universidade Católica de Santos.

Aprovada em concurso para delegada de polícia, exerceu o cargo até 1990, passando depois a se dedicar à advocacia, junto com o filho, a quem era muito ligada. Durante mais de uma década atuou como conciliadora nas varas de família e sucessões da Justiça de Guarujá.

O caso

Thiago, a mãe e o cachorro foram encontrados mortos na casa onde moravam, no Balneário Praia de Pernambuco, no Guarujá, na noite de terça-feira, 17.

Os policiais civis estavam a caminho da residência dele para cumprir um mandado de busca e apreensão quando foram informados sobre disparos de arma de foto. A polícia apreendeu uma arma de fogo, celulares e outros pertences. Foi realizada uma perícia no local. A hipótese investigada é de que Thiago envenenou o cachorro, matou a mãe e se matou.

Onde buscar ajuda

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental

O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

NOTA DA REDAÇÃO: Suicídios são um problema de saúde pública. Antes, o Estadão, assim como boa parte da mídia profissional, evitava publicar reportagens sobre o tema pelo receio de que isso servisse de incentivo. Mas, diante da alta de mortes e tentativas de suicídio nos últimos anos, inclusive de crianças e adolescentes, o Estadão passa a discutir mais o assunto. Segundo especialistas, é preciso colocar a pauta em debate, mas de modo cuidadoso, para auxiliar na prevenção. O trabalho jornalístico sobre suicídios pode oferecer esperança a pessoas em risco, assim como para suas famílias, além de reduzir estigmas e inspirar diálogos abertos e positivos. O Estadão segue as recomendações de manuais e especialistas ao relatar os casos e as explicações para o fenômeno.

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