Quem são as ‘celebridades da quarentena’ que fazem sucesso no app TikTok

06/07/2020 19:53

Na internet, a fama é algo fluido. O que hoje faz sucesso pode ser rejeitado amanhã. Como diriam os Titãs: “Quinze minutos de fama/ Depois descanse em paz”. Atualmente, a plataforma que vem catapultando anônimos ao estrelato (ainda que efêmero) é o TikTok, que se tornou uma febre durante a quarentena.

O aplicativo de origem chinesa, lançado em 2016, funciona como uma rede social de vídeos curtos (de 15 a 60 segundos). Não é de hoje que esse formato fascina a internet. Com os ‘stories’, pessoas do mundo todo podem acompanhar o dia a dia uma da outra, como em um reality show da vida particular. Essa estratégia foi o que fez o Snapchat (lançado em 2011) ter tanto sucesso, e logo ter sido copiado por Instagram, Facebook e WhatsApp.

Um dos desconhecidos recém-saídos do anonimato por meio do TikTok é Mário Júnior (@izmaario), que ficou famoso pelo bordão: “Oi, Letícia, né?” e ganhou inúmeras paródias nas redes. Com vídeos românticos sem muitas edições, o rapaz de 20 anos virou um fenômeno em poucos dias. “É estranho saber que tem tanta gente falando de mim. Estou me divertindo muito com tudo isso”, conta ele, que saiu dos 150 mil seguidores para alcançar a marca de 1 milhão em poucos dias.

Se por um lado ele ganhou uma legião de fãs, por outro as críticas também aumentaram. “No começo, fiquei assustado, mas depois comecei a entender que cada pessoa tem um gosto e não é todo mundo que vai gostar do nosso trabalho”, diz ele, com a mesma voz e os mesmos trejeitos do tal “sedutor do TikTok”, como ficou conhecido. “Acho curioso falarem que eu estou encenando ou algo do tipo… eu sou só eu”, diz.

A exata razão por que algumas coisas na internet fazem tanto sucesso e outras não é uma questão para ainda ser descoberta, mas sabemos que alguns fatores podem ajudar, como o compartilhamento excessivo do produto ou a polêmica gerada com a publicação – seja do discurso ou da pessoa.

“Tudo é muito líquido na internet. Antes, o importante era ter o maior número de amigos no Facebook, hoje ninguém mais liga para isso”, reflete a psicóloga Dora Sampaio Goes, integrante do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. De acordo com ela, quando compartilhamos algo, o fazemos por uma questão de identificação e admiração ou por rejeitar um determinado discurso.

No caso do TikTok, a identificação é usada justamente como ferramenta de criação em massa. O app traz diversos recursos e ideias – desafios, dublagens e duetos com outros vídeos – no intuito de facilitar a montagem das produções de seus usuários. Sua interface é didática, fazendo com que quanto mais se use, mais fácil seja a produção. E como todos os vídeos levam a marca d’água do aplicativo, ele viraliza junto com as criações mais populares.

Outro fator é que, na maioria das redes sociais, o primeiro passo é adicionar amigos, conhecidos e familiares na rede. Em vez disso, o TikTok funciona à base de algoritmos – ao abrir o aplicativo, você é recebido por um feed de desconhecidos em uma página chamada “Para Você”, que seleciona as produções mais curtidas ou comentadas da rede.

“Parte da mágica do TikTok é que, enquanto pessoas diferentes podem encontrar alguns dos mesmos vídeos de destaque, o feed de cada pessoa é único e adaptado a esse indivíduo específico”, explica a assessoria de comunicação do aplicativo. Desde a preferência do idioma até as interações com vídeos da plataforma são considerados. “Um forte indicador de interesse, por exemplo, seria o usuário assistir a um vídeo mais longo do começo ao fim, o que teria mais peso do que um indicador mais fraco.”

É essa fórmula que acaba alçando desconhecidos à fama instantânea, como Victor Masetti (@zettichav), que viralizou depois de publicar um vídeo que fala sobre como seria a festa depois que fosse descoberta a vacina que combatesse o novo coronavírus. “No Instagram, por exemplo, se você quiser chamar a atenção de alguém, o jeito é ter muitos seguidores; no YouTube, você até pode ser indicado por outros famosos, mas nunca conseguir atingir a fama. No TikTok, o que faz a diferença é a página ‘Para Você’. Tem que mirar para aparecer lá e ter uma visibilidade diferente”, conta ele, que em poucas semanas saiu dos 2 mil seguidores para mais de 39 mil. A maioria dos vídeos de Victor é feita com dublagens de áudios famosos que circulam pela internet, sejam canções ou piadas.

Já Nathália Bueno Dias (@_naabueno) ficou famosa por ter esquecido sua máscara no trabalho e, para poder entrar no ônibus, acabou improvisando… com a calcinha. Ela, que faz vídeos engraçados sobre situações cotidianas, conta que filmou para mostrar para as amigas seu infortúnio. “A minha inspiração são situações do dia a dia, porque as pessoas vão achar engraçado exatamente por passarem por aquilo”, diz. “Para viralizar, tem que ser atual.”

De uma hora para outra, Nathália saiu dos 500 seguidores para mais de 19 mil. “Acordei e vi que várias pessoas compartilharam o vídeo no Twitter. Fui trabalhar e, quando olhei de novo o celular, na hora do almoço, ele estava travado com o tanto de mensagens e novos seguidores.”

Isolamento

Embora o TikTok já fizesse sucesso antes do isolamento, o app teve um pico de crescimento na quarentena. A assessoria do aplicativo não divulga números, porém, segundo a companhia de análise Sensor Tower, no primeiro trimestre de 2020, o TikTok gerou o maior número de downloads em comparação com qualquer aplicativo de todos os tempos em um trimestre, acumulando mais de 315 milhões de instalações na Apple Store e no Google Play. Está disponível em 150 países e 75 idiomas, e já teve 2 bilhões de downloads.

Na quarentena, passamos mais tempo nas telinhas, porém seu conteúdo por si só era chamativo. “O lado lúdico do TikTok faz com que as pessoas se distraiam da angústia, do medo e da ansiedade vividas neste tempo de pandemia”, diz a psicóloga Dora Sampaio Goes. “Mas claro que, para alguns, o fator ‘novidade’ é o maior atrativo.”

De fato, os entrevistados foram unânimes em dizer que baixaram o app porque “todos estavam baixando”. A plataforma cresceu tão rapidamente que fez com que as pessoas sentissem o chamado Fomo, Fear of Missing Out (ou medo de estar perdendo algo, em português), termo criado para descrever a relação das pessoas com o excesso de informação proveniente das mídias sociais. O sucesso exponencial do aplicativo foi o suficiente para incentivar seus usuários a se engajar mais, tanto na produção quanto no compartilhamento de seus vídeos favoritos. Sem espaço para vergonha.

Em 1968, o pintor americano Andy Warhol disse: “um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama”. A internet acelerou a duração dessa fama efêmera – em vez dos 15 minutos, a maioria dos vídeos do TikTok é de 15 segundos. Para os entrevistados, essa fama traz uma pressão de criar outros vídeos virais, mas sempre se mantendo fiéis a si mesmos. “Fazer o que eu acho que vai ficar legal para o vídeo e, se viralizar, viralizou. Se não, cabeça erguida e vamos para o próximo vídeo”, diz Mário.

Tão romântico quanto Mário, o morador de Nova York Jeremy Cohen (@jeremycohen) ganhou fama pela história de amor com sua vizinha Tori. O “cara da bolha”, como ficou conhecido, diz ter se apaixonado por ela durante a quarentena – e, como um bom millennial, filmou todas as investidas. “Comecei a perceber, da minha janela, muitas pessoas passando mais tempo em seus telhados e fazendo atividades que eles normalmente não fariam lá, então passei a documentar em uma tentativa de mostrar um lado positivo da pandemia”, conta. “Em uma dessas filmagens, eu a vi pela primeira vez.”

Ele acenou e ela acenou de volta. Foi o suficiente para Jeremy enviar, com a ajuda de um drone, um papel com o seu nome e telefone escritos. “Normalmente, eu não faria isso, mas eu estava sozinho e momentos desesperadores pedem por medidas desesperadas. Então, tentei a sorte”, diz. “Gravei tudo, pois, no caso de funcionar, eu teria imagens para fazer um TikTok sobre.”

Para seu primeiro encontro, ele atravessou a rua com uma bolha inflável gigante e eles puderam se ver mais de perto – e em segurança. Deu certo: o casal continua junto e, desde março, Jeremy segue surpreendendo Tori com sua criatividade.

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