‘Queremos um terço do elenco do Palmeiras com jogadores da base’, diz Galiotte

10/03/2021 18:00
Por Ciro Campos / Estadão

Aquele Palmeiras que contrata em uma mesma janela um pacote de reforços ficou no passado. O presidente do clube, Mauricio Galiotte, disse em entrevista exclusiva ao Estadão que os três títulos conquistados na temporada e a revelação de jogadores jovens marcam uma nova proposta da equipe. A partir de agora, o objetivo é ter um terço do elenco formado por atletas formados em casa e só buscar no mercado contratações pontuais.

Após o time vencer o Campeonato Paulista, a Copa Libertadores e a Copa do Brasil, Galiotte analisou os acertos feitos na temporada e destacou principalmente a decisão de não demitir funcionários. O clube reduziu os salários do elenco profissional por três meses e como compensação, utilizou parte das premiações recebidas pelos títulos para distribuir os recursos entre os jogadores e demais trabalhadores.

Confira os principais trechos da entrevista:

Quais acertos fizeram o Palmeiras ser tão vitorioso?

É trabalho de um tempo. A gente não chega a conquistar três títulos com um trabalho de curtíssimo prazo. Vários jogadores desse elenco estão no clube há pelo menos três anos. O que fizemos de diferente foi ter contratações pontuais e a utilização das categorias de base. Decidimos isso no fim de 2019. Deu certo porque o Palmeiras hoje tem estrutura, um patrocinador forte, tem pilares consistentes e temos um ambiente profissionalizado no clube.

O senhor esperava conquistar três títulos?

A gente sempre trabalha com o objetivo de disputar títulos. Eu tinha essa esperança também em anos anteriores. A gente não sabe se vai vencer, mas trabalhamos com essa meta, esse objetivo. Neste ano conseguimos chegar. Com certeza é um momento histórico para o clube, para o torcedor. É extremamente desafiador conseguir um título. E conseguir três é mais difícil ainda. A última vez que o Palmeiras tinha conseguido foi em 1993.

O Palmeiras não demitiu funcionários e dividiu parte da premiação da Libertadores com os funcionários. Como isso foi organizado?

Quando iniciou a pandemia, a gente decidiu que não ia demitir. Mantivemos a ajuda de custo aos atletas de base, o apoio ao futebol feminino e aos atletas amadores, orientamos as pessoas sobre a gravidade da situação. Nossa preocupação foi social. Para vencer uma Libertadores, você não ganha sozinho. Para ganhar três títulos, você precisa de muita gente. Nós decidimos que cada colaborador teria um salário adicional, no caso um 14º salário, porque a conquista é de todos, é da instituição. Por isso tomamos essa decisão.

Os jogadores aceitaram essa ideia e tiveram os salários reduzidos por três meses. Como foi a negociação?

Eles abraçaram essa proposta e ficaram ao lado do clube em todas as decisões. Foram grandes parceiros. A gente expôs claramente qual a situação. Os jogadores entenderam o objetivo do clube, a postura, os nossos objetivos. Tivemos um surto de covid, contusões e crise financeira. O diferencial do Palmeiras para as conquistas foi a união.

As premiações recebidas pelos títulos amenizam a situação financeira?

Contribui. Entretanto, não resolve. A situação financeira é bem sensível. Perdemos ao redor de 30% das receitas em 2020. E o quadro tende a se repetir para 2021. Nós temos compromissos importantes com fornecedores, comissão técnica, atletas. Temos a esperança que em 2021 se tenha uma evolução científica, com vacinação, e que isso passe o mais rápido possível. Óbvio que a premiação ajuda muito, mas não soluciona o problema devido à gravidade dele.

Por causa dessa situação talvez será necessário vender alguma revelação?

Quero que os meninos fiquem conosco por mais tempo, porque eles têm muito a render para o Palmeiras. Obviamente, ficamos muito felizes de ver um trabalho da base junto com os jogadores mais experientes rendendo tantos frutos. Mas temos de ser responsáveis, ter cuidado, ponderar e se a gente não tiver alternativa, teremos de fazer a negociação sempre pensando em mantê-los. Mas, se não for possível, teremos de fazer.

Palmeiras vai trazer muitos reforços?

A temporada 2021 será com um conceito muito semelhante ao ano passado. Vamos avaliar a base, que é o que fazemos em primeiro lugar. Temos de entender a demanda. Depois, iremos ao mercado de forma pontual. Se puder agregar valor ao grupo, faremos de maneira cuidadosa e responsável. Base e contratações pontuais.

O Palmeiras em outras janelas trouxe até mais de dez reforços. Por que isso mudou?

É algo que precisa ser feito por vários motivos. Primeiro, porque temos um investimento alto feito na base. E isso vem dando resultados ao Palmeiras. Temos ainda outros meninos despontando que em breve estarão conosco no profissional. O segundo é que a situação financeira exige que a gente busque recursos dentro do clube. E não é só o Palmeiras. É uma necessidade de todos. A nossa proposta é ter no mínimo um terço do elenco com jogadores da base. Vamos buscar de forma pontual os recursos no mercado dentro de uma realidade financeira.

Por que o Abel Ferreira deu tão certo?

Ele se identificou demais com o projeto e os valores do Palmeiras. O trabalho do Abel é feito fora de campo com uma gestão de pessoas. A gente entregou para a comissão técnica aquilo que ela entende ser ideal para o trabalho: estrutura, profissionalização e recursos. O trabalho dele é sério, moderno e contempla as categorias de base. Abel se identificou com o clube da mesma forma que o clube se identificou com ele.

O auxiliar técnico Andrey Lopes foi uma peça fundamental. O que o clube planeja para ele?

O Andrey tem uma importância enorme. Em um momento de dificuldade ele assumiu o grupo, fez um trabalho sério e conseguiu os resultados que precisávamos no momento. Ele deu todo o apoio à chegada do Abel. O Cebola tem o desejo de ser treinador profissional e já disse a ele que vamos apoiar. No que for possível, vamos ajudar em cursos, desenvolvimento e no que ele achar necessário. Estamos muito satisfeitos com o trabalho dele.

Existe condições de o futebol continuar em 2021 em meio à pandemia?

Esse tema é muito sensível. O Palmeiras mantém o posicionamento desde o início da pandemia, que é preservar vidas e cuidar das pessoas. Vamos respeitar as orientações das autoridades de saúde. Entendemos que essa é uma decisão técnica, e não política. O que as autoridades definirem, vamos acatar no mesmo minuto.

É o último ano do seu mandato. O que pretende deixar?

O objetivo é deixar um trabalho construído para um Palmeiras melhor do que a gente recebeu. Se cada dirigente colocar um tijolo, fazer o seu papel e contribuir, vamos crescer. Tem de pensar em agregar valor à instituição. Posso citar as categorias de base, o investimento realizado. Se o clube manter isso, vai crescer. O que não podemos é retroceder. É isso tenho feito desde 2013, quando iniciei na diretoria executiva. Temos de deixar um Palmeiras melhor do que nós recebemos.

O senhor gosta da comparação entre “Era Crefisa” e “Era Parmalat”?

São momentos diferentes e épocas distintas. Você pode comparar números e títulos. O modelo de negócio daquele momento era outro, uma cogestão. Hoje temos um patrocinador forte, mas que não participa da gestão. As decisões são dos diretores e profissionais do clube. Não temos de disputar dentro do Palmeiras. Só fora do Palmeiras. Os dirigentes têm de pensar que nossos adversários estão do outro lado do muro. Mas importante do que comparar ou medir, é somar. Temos de ser melhor que os outros clubes e cada dirigente fazer o seu papel.

E o memorial de conquistas?

Esse é um assunto que está em pauta, estamos tratando. Em breve, a gente pode ter novidades para o nosso torcedor. Ainda não posso falar porque não temos nada de concreto neste momento. É uma das prioridades. O Palmeiras merece uma sala de troféus. Dentro da minha gestão queremos ainda dar ao torcedor essa notícia.

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