Reflexões sobre as eleições

16/11/2016 12:00

Na aldeia de Herbert McLuhan, o desencanto com a política é global, fato que levou à eleição de ‘outsiders’, tendo com exemplo maior a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Com êxito inimaginável, o milionário chega à Casa Branca debaixo de expectativas negativas de boa parte da população estadunidense e da comunidade internacional. Antes de dar razão às palavras de Pio XII, para quem o mundo era governado por medíocres, espera-se que Trump entre nos eixos, reveja seus propósitos ensandecidos e se reencontre com o espírito da América do Norte e de seus pais fundadores.

No Brasil, também tivemos os nossos ‘estranhos no ninho’, com a eleição de João Dória, em São Paulo, e Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, em duas das maiores capitais do país. Mas a desilusão não se manifestou apenas na eleição de nomes de fora do contexto regular, mesmo porque foram poucos os postulantes que se apresentaram com tal característica. Os números de eleitores que deixaram de votar, votaram em branco ou anularam o voto, nos principais centros urbanos, dão a medida da decepção dos brasileiros com a classe política.

Os resultados eleitorais não deixam a menor dúvida. Eleitores que se abstiveram ou não votaram em nenhum candidato, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, somam mais de 40% e exibem o descompasso entre representantes e representados. O certo é que ou o Brasil muda ou as consequências podem ser imprevisíveis, sem contar com a varredura que a Lava Jato ainda promoverá no ambiente. Estima-se que cerca de 50% dos políticos terão a cabeça no cutelo, com a delação dos executivos da Odebrecht e do presidente da empresa.

Ainda assim, a turma não toma jeito. Renan Calheiros insiste em aprovar projeto de sua autoria contra abuso de autoridade, com objetivos evidentes de por freio nas investigações contra a corrupção que toma conta da Nação. Agora mesmo, em crise recessiva brutal da economia, o Senado compra 220 TVs de plasma, câmaras de monitoramento e fechaduras biométricas para a residência do presidente da Casa e apartamentos dos senadores, pela bagatela de R$ 26 milhões. Na Câmara Federal, tenta-se anistiar a prática do crime de caixa 2, no bojo de iniciativa proposta pelo Ministério Público pela adoção das 10 medidas de combate à corrupção, com apoio em milhões de assinaturas da população.

Como se não bastasse, ensaiam um arremedo de reforma política, com a proibição de coligações proporcionais e percentuais ridículos para a chamada cláusula de barreira, mas com prazos bem dilatados. Tudo para inglês ver, porquanto as regras deveriam ser mais rígidas e de adoção imediata, a partir do pleito de 2018, única forma de castrar essa orgia de legendas de aluguel e de partidos sem voto.

Engraçado é que os comunistas do PC do B e assemelhados, de igual ou sem nenhuma importância, reclamam que serão excluídos da representação política. Esquecem que recentemente vociferavam contra o impeachment de Dilma, sustentando que na democracia fundamental é o voto popular. Pois bem, nada opor, mesmo porque o sufrágio é verdadeiramente primordial, em qualquer situação, no regime de liberdades. Agora, com a maior cara de pau do mundo, fogem do voto como o diabo da cruz, cientes de que não conseguirão o mínimo para ter existência legal e real.

paulofigueiredo@uol.com.br

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