Relatório sobre 42 atividades ‘suspeitas’ colocou PF no encalço de Pablo Marçal

05/07/2023 20:02
Por Pepita Ortega e Fausto Macedo / Estadão

A investigação que culminou com a Polícia Federal batendo à porta do empresário e coach Pablo Marçal na manhã desta quarta-feira, 5, tem como base um Relatório de Inteligência Financeira que cita 42 ‘comunicações suspeitas’ e aponta transferências de até R$ 3,6 milhões entre suas empresas e sua conta pessoal. Elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o documento serviu de ponto de partida para a apuração que mira o ex-candidato à Presidência pelo PROS por suposto caixa 2 eleitoral e lavagem de dinheiro na campanha de 2022.

Marçal lançou sua candidatura ao Planalto no ano passado, mas foi barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral em meio a disputas pela liderança do PROS. Alijado da disputa presidencial, ele concorreu a uma vaga na Câmara, mas também aqui sua candidatura foi contestada – o registro foi negado após o pleito.

As investigações da PF põem sob suspeita as ‘doações’ e ‘despesas’ ligadas a suas campanhas no pleito do ano passado. Ao requerer autorização para as diligências que foram cumpridas na manhã desta quarta-feira, 5, a Polícia Federal apontou que Marçal consta como ‘administrador’ em mais de vinte empresas, a maioria delas criada em 2021.

Os investigadores indicam que três companhias ‘teriam supostamente sido utilizadas para trânsito de valores com a finalidade de ocultar a sua real destinação’.

Como mostrou o Estadão, as empresas no centro das suspeitas estavam na lista de alvos da PF na Operação Ciclo Fechado – a Marçal Holding, a Marçal Participações e a Aviation Participações. No entanto, os investigadores não conseguiram apreender documentos no endereço listado como sede das pessoas jurídicas, como a Aviation, que ele controla em sociedade com Marcos Paulo de Oliveira.

Quando chegou ao prédio de Barueri, na Grande São Paulo, apontado como endereço sede das companhias, a PF não encontrou escritórios, só uma sala de jogos e uma editora de livros.

O Relatório de Inteligência Financeira que baseou as investigações da PF aponta que a Marçal Holding enviou a Pablo, entre 1 de agosto e 9 de outubro de 2022 (já no calor da disputa eleitoral) a soma de R$ 3,63 milhões.

No mesmo período, o empresário enviou à Marçal Participações R$1,64 milhão, atesta o documento. Já entre 15 de agosto e 31 de outubro, Pablo ‘doou’ à sua campanha presidencial R$968.572,25 e à sua campanha a deputado R$317 mil.

A PF cruzou as transações com as informações da Marçal à Justiça Eleitoral e, assim, identificou que, nas despesas da campanha presidencial do empresário, constam pagamentos à Marçal Participações, no valor total de R$ 288.720,00, em ‘sete oportunidades’.

Tais ‘pagamentos’ teriam sido realizados em troca de serviços de ‘locação de veículos, auditórios, e de aeronave e helicóptero’ à Aviation Participações, no montante de R$ 112,2 mil, ‘em duas oportunidades por locação de aeronave’.

Os investigadores apontam ainda que a Aviation enviou R$154 mil a Pablo entre agosto e outubro de 2022.Considerando as transações, a PF colocou sob suspeita a ‘milionária movimentação entre as empresas administradas por Pablo, sua pessoa física e sua campanha presidencial’.

Ao analisar os elementos levantados pela PF, o juiz Antonio Maria Patiño Zorz, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, viu ‘requisitos fáticos e normativos mínimos’ para autorizar o cumprimento de sete ordens de busca e apreensão em endereços de Barueri e de Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo.

“Eis que as investigações preliminares levadas a efeito até agora pela Polícia Federal apontam para a possível ocorrência dos crimes de falsidade ideológica eleitoral (‘caixa-dois eleitoral’) e lavagem de dinheiro utilizando-se em tese das pessoas jurídicas Marçal Participações Ltda, Aviation Participações Ltda, Marçal Holding Ltda, para o cometimento das infrações”, anotou o magistrado.

COM A PALAVRA, PABLO MARÇAL

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com o coach, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

No Youtube, Marçal fez uma transmissão ao vivo alegando que ‘todos que apoiaram [Jair] Bolsonaro estão em uma lista para serem inelegíveis, destituídos de seus cargos’.

“O Brasil está virando uma máquina de punir gente inocente e vitrine de pegar vilão e colocar em pedestal. Não estou ofendido, continuo parabenizando a PF. Vários (agentes) olharam nos meus olhos não acreditavam que estavam cumprindo mandato dentro da minha casa. E ai as pessoas: ‘Marçal nos perdoe, a gente não sabe o que é isso aqui, a gente só tem que vir aqui e cumprir'”, afirma.

O ex-candidato à Presidência diz que os investigadores levaram seu celular e notebook: “Estou me declarando um perseguido político.”

“Eu estou animado com a perseguição, porque perseguição aumenta a conexão com aqueles que foram chamados. Aumenta sua prosperidade, faz com que você fique mais forte. Eu quero é que o peso da lei recaia sobre mim, mas recaia sobre todos. Estão fazendo um regaço com a minha vida e estou animado”, disse.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE MARÇAL

No dia de hoje foram cumpridos alguns mandados de busca e apreensão no endereço residencial do Sr Pablo Marçal, e também em três de suas empresas.

Foram cumpridos diligências ainda na residência de um sócio e também na minha residência por ser seu advogado.

Trata-se de uma investigação judicial eleitoral conduzida pela 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, que visa apurar movimentações financeiras ocorridas na época de campanha para Presidente da República e Deputado Federal.

Cumpre esclarece que em nenhuma das campanhas foram utilizados recursos de origem partidária, sendo todas as despesas de campanha pagas através de recursos próprios ou de doações de terceiros.

O cerne da investigação gira sobre o fato de Pablo ter sido o maior doador de sua campanha, e ter locado veículos e aeronaves de empresas da qual faz parte do quadro societário, movimento esse que não infringe qualquer norma legal, uma vez que foram utilizados os instrumentos jurídicos aceitáveis pela justiça eleitoral.

As diligências foram conduzidas de maneira profissional pelos agentes envolvidos na operação, que recolheram apenas computadores e celulares dos investigados.

Reiteramos que nenhum ilícito foi praticado e nenhum centavo de dinheiro público foi utilizado nas campanhas eleitorais, sendo todas as prestações de contas apresentadas aos tribunais eleitorais competente para julgamento.

Conforme noticiado, a prestação de contas para o cargo de deputado federal foi indeferida com base em pontos controversos, onde já foram impetrados os instrumentos jurídicos necessários, para que a decisão seja revista, e a prestação de contas seja deferida.

Toda cooperação necessária para o esclarecimento dos fatos estão e continuaram sendo prestadas, para pôr fim à esse equívoco o mais rápido possível.

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