Resultados dos testes de estresse demonstram que SFN está resiliente, afirma BC

04/set 08:44
Por Cícero Cotrim e Eduardo Rodrigues / Estadão

O Sistema Financeiro Nacional (SFN) continua resiliente, segundo os testes de estresse macroeconômico conduzidos pelo Banco Central, informou a ata da mais recente reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef). Na semana passada, o colegiado manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em zero.

“O impacto mais severo continua sendo observado no cenário de quebra de confiança no regime fiscal”, diz o texto. “Os testes realizados também indicam que o SFN encontra-se apto a absorver os impactos no capital das mudanças regulatórias que produzirão efeitos, de forma faseada, a partir de janeiro de 2025, referentes aos conceitos e critérios contábeis aplicáveis a instrumentos financeiros e ao cálculo do capital requerido para o risco operacional.”

Segundo o Comef, medidas adotadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e BC em meio às enchentes no Rio Grande do Sul foram capazes de garantir a prestação de serviços pelo SFN às famílias e empresas atingidas. O BC continua monitorando a intermediação na região, mas percebeu mudanças sistêmicas na liquidez, risco de crédito ou captações, informou.

Na ata, o comitê destaca que o mercado de crédito continua acelerando moderadamente, em linha com o crescimento maior do que o esperado da atividade econômica. As provisões se mantém adequadas e acima das estimativas de perdas esperadas e a “leve piora” na qualidade de concessões de crédito às famílias não se traduziu em materialização de risco, diz o Comef.

Os níveis de capitalização e de liquidez do SFN também continuam superiores aos requerimentos prudenciais, com capital e ativos líquidos suficientes para absorver potenciais perdas, diz o BC. “O Comef segue atento à dinâmica das cadernetas de poupança e dos demais instrumentos de captação para o crédito imobiliário”, informa o documento.

A ata destaca que o sistema financeiro internacional também tem se mostrado resiliente, com alguma “moderação na margem” das condições financeiras desde o Comef anterior. Mas o comitê destaca as incertezas sobre a trajetória futura dos juros em economias avançadas, em meio a uma atividade resiliente nos países.

“A volatilidade dos juros americanos aumentou devido à incerteza sobre as trajetórias da política monetária, a dúvidas sobre a desaceleração da economia do país, e a eventos de estresse nos mercados financeiros globais”, diz o Comef. Nos EUA, diz o comitê, a posição dos bancos continua sólida e, na China, o sistema bancário tem tendência de redução da rentabilidade, com sinais de estresse localizados.

Entre os principais pontos de atenção, o BC destaca que instituições financeiras aumentaram o apetite por risco, o que requer atenção em meio ao endividamento e comprometimento de renda historicamente altos. “Nesse cenário, o Comef avalia que é importante os intermediários financeiros preservarem a qualidade das concessões.”

A maior dependência de tecnologia também exige que as instituições integrantes do SFN tenham controles internos e sistemas de gerenciamento de risco “robustos”, que reforcem a resiliência cibernética. Segundo o Comef, é preciso que as entidades supervisionadas “aprimorem continuamente seus sistemas de gerenciamento integrado de riscos”.

O Comef reiterou que instituidores de arranjos de pagamentos devem “assegurar que os mecanismos de governança e de gerenciamento de risco desses arranjos sejam implementados de forma adequada e efetiva” e a necessidade de manutenção dos níveis de capital e patrimônio líquido “adequados às responsabilidades e riscos assumidos”, destacando o aumento dos valores mínimos de capital social integralizado e de patrimônio líquido para algumas instituições este ano.

“O Comitê vem acompanhando regularmente a evolução da indústria de cartões de crédito em seus diversos recortes, considerando, dentre outros aspectos, o estoque das carteiras, a concessão e a utilização de limites, e a materialização de risco vis-à-vis os perfis dos usuários e dos emissores”, afirma.

O Comef ainda destacou que o cenário global prospectivo apresenta riscos que podem “levar à materialização de cenários de reprecificação de ativos financeiros globais”, em meio a incertezas sobre o ritmo da atividade e juros. “O Comitê está atento à evolução dos cenários doméstico e internacional e segue preparado para atuar, de forma a minimizar eventual contaminação desproporcional sobre os preços dos ativos locais”, completa.

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