‘Rivais’ cria narrativa sobre sexo e poder

26/abr 08:00
Por Simião Castro / Estadão

Rivais é um filme sobre tenistas que tem muito pouco a ver com tênis. Aliás, uma das personagens chega a dizer que uma partida de tênis quase não se define como esporte, e sim como um relacionamento entre os adversários. E é sobre isso o novo longa do cineasta Luca Guadagnino, estrelado por Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist.

O longa, que chega neste final de semana aos cinemas brasileiros, tem o condão de tornar excitante o esporte. E Guadagnino aplica a própria visão ao tema, usando a já desgastada fórmula do triângulo amoroso para arejar o formato com o roteiro de Justin Kuritzkes.

Desde o início é evidente que será por intermédio dos olhos, e não das mãos, que será narrada a trama da tenista prodígio Tashi (Zendaya), que vê a carreira desmoronar após uma lesão. Ela é mulher e treinadora de Art (Faist) – campeão em má fase da carreira -, que era melhor amigo de Patrick (O’Connor), jogador fracassado que implora a ajuda da jovem.

Essa dinâmica é tensa. Rivais arremessa o espectador para dentro da quadra de tênis, na qual os ex-amigos transbordam eletricidade em partidas entrecortadas. A narrativa não linear é cheia de flashbacks que contextualizam a história.

Um elemento fundamental do filmem é a trilha sonora. Frequentemente gerando sensações dissonantes, a música desempenha papel próprio ao provocar incômodo na audiência. Quase como no início de Anatomia de Uma Queda, em que o rap parece – e está – propositalmente deslocado. Em Rivais, a sonoplastia por vezes desconectada da cena ajuda a criar uma atmosfera de ruptura.

O ponto alto é uma ousadia do diretor, que joga os espectadores de um lado para o outro à mercê dos personagens, em uma sequência que condensa toda a vertigem, a ansiedade e a expectativa de que o filme é constituído. A construção da cena poderia ser um fracasso, mas a execução é extraordinária, com o uso inteligente de efeitos visuais para criar a imersão.

SUOR E MÚSCULOS

Os três protagonistas canalizam bem as emoções e dilemas dos personagens, entranhadas nos músculos protuberantes e corpos suados. Zendaya, em particular, já mostrou versatilidade em papéis bem diferentes e agora oferece uma performance mais silenciosa. Isso não significa que seja menos impactante, ao contrário: ela expressa mistos de ódio, rancor, desconforto e resignação de forma mais potente do que se optasse pela exuberância.

Os parceiros também brilham. O’Connor foi o jovem príncipe Charles na série The Crown e, aqui, mostra tudo o que o rancor, o desamparo – e a saudade – são capazes de provocar no ser humano. Do outro lado, Faist transmite, ao mesmo tempo, o ímpeto e a indecisão, o cansaço e o tédio, esperados de um atleta no limite.

A exemplo de Me Chame Pelo Seu Nome, Guadagnino imprime a sensualidade como tônica, inclusive em cenas de sexo. Para isso, a figura de “coordenador de intimidade” foi levada ao set para deixar os atores à vontade para fazer as cenas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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