Rua Nova: o drama de quem já está de volta em área de alto risco

11/03/2022 05:00
Por João Vitor Brum, especial para a Tribuna

Sem perspectiva de solução para os problemas e com dificuldades para encontrar imóveis pelo programa do aluguel social, famílias de localidades afetadas pelas chuvas já estão de volta às suas residências. Na Rua Nova, na 24 de Maio, há moradores que voltaram um dia depois das interdições, enquanto outros voltaram após terem problemas para encontrar imóveis que aceitam o aluguel social. Até agora, nenhuma medida para evitar que moradores voltem às áreas de risco foram anunciadas.

A família do seu Emir Rosemberg mora na Rua Nova desde 1975. Entre ele, sua esposa Enircer, os dois filhos e outros parentes, eram pelo menos cinco famílias morando em diferentes casas em um mesmo lote. Todos precisaram sair de casa no dia 17 de fevereiro, mas parte deles já estava de volta no dia 19 – 48 horas depois. Uma das principais reclamações da família é sobre a falta de acompanhamento do poder público.

“Estou me sentindo sem chão, além do abandono total da prefeitura. Vieram, conversaram, prometeram agilizar nossa acomodação, mas não foi nada fácil como prometeram”, disse o aposentado. 

A família até conseguiu o benefício do aluguel social, mas eles estão com dificuldade em encontrar imóveis. A nora dele, Gabriela Andrade, conta que um dos problemas para encontrar novas casas são os animais de estimação da sogra.

“Nós temos o laudo, ficamos quatro horas na fila para fazer a inscrição no aluguel social, mas agora tá sendo difícil encontrar lugares que aceitem”, contou Gabriela, que disse, ainda, que essa é a realidade de muitos moradores da região.

“A Defesa Civil não voltou aqui, ninguém fala nada pra gente, e a situação é diferente pra cada um. Todo dia procuramos na internet casas, mas quase nenhuma aceita aluguel social. Muita gente aqui da rua tem animais e os lugares não aceitam, além de ser complicado de levar para abrigos. Tem gente de locais que não estão em risco, que podem sair e preferiram, e outras que estão vivendo até sem luz em locais de alto risco, por falta de opção. Ficamos com as mãos atadas”, explicou.

A filha do seu Emir e cunhada de Gabriela foi a única que não voltou pra casa depois da interdição. Segundo a família, ela arcou com as despesas da mudança por conta própria, porque as duas filhas estão assustadas demais para ficar no local.

A tensão toda vez que chove

A Rua Nova foi interditada por conta do risco de deslocamento de rochas, só que mais de três semanas após a interdição, ainda não há previsão para a remoção das pedras. Enquanto isso, as famílias que retornaram convivem com o medo quase constantemente, em especial quando chove.

“No início, a gente não conseguia dormir, mexeu muito com o psicológico. Sabemos da possibilidade das pedras se deslocarem, mas se acontecer, o que podemos planejar é correr. Quando chove forte a gente fica com muito medo, mas continuamos aqui. Estamos sem saída”, contou Gabriela.

Sem previsão de demolição de imóveis condenados 

A Tribuna questionou a Prefeitura de Petrópolis sobre o que poderia ser feito para evitar que famílias retornassem a imóveis condenados, mas fomos respondidos até a publicação da matéria. Também perguntamos se havia previsão de demolição de imóveis com risco de desabamento, mas também não obtivemos retorno.

No dia 1º de Março, o Governo de Estado demoliu um posto de combustível na Rua Teresa, dia 1º de março. No dia seguinte, em resposta à Tribuna, a Secretaria de Infraestrutura e Obras disse que daria suporte à Prefeitura caso novas demolições fossem necessárias, mas que quem definiria esse número seria o governo municipal. Nesta semana, o Estado disse, apenas, que realizou a demolição do posto e que as demais são de responsabilidade do município.

O que diz a Prefeitura:

Após a publicação da matéria, a Prefeitura respondeu à Tribuna e disse que a demolição das casas em área de risco irá ocorrer conforme os apontamentos técnicos que recomendem a interdição permanente das construções. A Prefeitura atua na limpeza das áreas em que houve o deslizamento com perda total das residências.

As equipes da Defesa Civil trabalham no momento, nas análises pontuais dos imóveis dentro dos polígonos de risco remanescente, para definir se as interdições serão temporárias, com condições de intervenções de segurança, ou se serão permanentes, por não haver condições de aplicação de projetos de contenção. Apenas após essas análises, será dado início ao trabalho de demolições.

Em relação ao controle nessas áreas a Defesa Civil informou que as equipes estão em constante ação pelas localidades em que foram demarcados os trechos de risco remanescentes, em que os imóveis estão temporariamente interditados. Com as ações nas comunidades, o órgão disse que reforça constantemente a orientação para que as pessoas sigam as recomendações de segurança e não voltem para os imóveis em área de risco.

E sobre o caso citado na matéria, a Defesa Civil informou que a Rua Nova foi a primeira região a receber o posto avançado com os atendimentos da Defesa Civil para apresentação do mapa com a demarcação dos trechos de risco remanescente e agilizar o cadastramento do Registro de Ocorrência (RO) por imóvel. As equipes permaneceram no local por três dias para o atendimento e orientações da população. Segundo o órgão, os atendimentos continuam pelas equipes que constantemente atendem às solicitações da área. O prefeito Rubens Bomtempo, inclusive, levou técnicos da Defesa Civil ao local, onde houve reunião com moradores sobre as ações necessárias naquela região.

*Matéria atualizada às 21h30.

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