Rússia condena jornalista americano Evan Gershkovich a 16 anos de prisão

19/jul 20:46
Por Redação, O Estado de S. Paulo / Estadão

A Justiça da Rússia condenou nesta sexta-feira, 19, o jornalista americano Evan Gershkovich a 16 anos de prisão por espionagem, uma acusação que o repórter, sua família e os Estados Unidos negam com veemência.

O jornalista do Wall Street Journal, de 32 anos, foi detido em 29 de março de 2023, durante uma viagem para a cidade de Yekaterinburg, para fazer uma reportagem. As autoridades alegaram, sem oferecer nenhuma evidência, que ele estava reunindo informações secretas para os Estados Unidos.

Gershkovich deverá cumprir a sentença em uma colônia penitenciária de regime fechado em Yekaterinburg, ordenou o juiz Andrei Mineyev.

Os argumentos finais ocorreram a portas fechadas, onde Gershkovich não admitiu nenhuma culpa, de acordo com o serviço de imprensa do tribunal. Os promotores pediram uma sentença de 18 anos, mas o juiz optou por uma condenação mais curta.

Ele está atrás das grades desde sua prisão, tempo que será contado como parte de sua sentença. Na maior parte do tempo desde março de 2023, o jornalista esteve preso na notória Prisão de Lefortovo, em Moscou – uma cela da era czarista usada durante os expurgos de Josef Stalin, quando as execuções eram realizadas em seu porão.

A Promotoria o acusou de compilar informações sensíveis para a CIA sobre um dos principais fabricantes de armas da Rússia, Uralvagonzavod, que produz os tanques T-90 usados na Ucrânia. Gershkovich foi o primeiro jornalista dos EUA preso por acusações de espionagem desde Nicholas Daniloff em 1986, no auge da Guerra Fria.

Autoridades americanas rejeitaram a acusação. “Evan nunca foi empregado pelo governo dos Estados Unidos. Evan não é um espião”, disse o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, no mês passado.

O Wall Street Journal criticou a condenação e prometeu seguir pressionando por sua libertação.

“Esta vergonhosa e falsa condenação acontece depois de Evan ter passado 478 dias na prisão, detido injustamente, longe de sua família e amigos, impedido de informar, tudo por fazer o seu trabalho como jornalista”, afirmaram o editor do jornal, Almar Latour, e a editora-chefe Emma Tucker em um comunicado.

Filho de imigrantes soviéticos que se estabeleceram em Nova Jersey, nos Estados Unidos, Gershkovich era fluente em russo e se mudou para o país em 2017 para trabalhar no jornal The Moscow Times antes de ser contratado pelo WSJ em 2022.

Possível troca de prisioneiros

Os Estados Unidos acreditam que a prisão de Gershkovich tem o objetivo de forçar uma possível troca de prisioneiros no auge das tensões entre Moscou e Washington sobre a guerra na Ucrânia.

“Trabalhamos incansavelmente pela libertação de Evan e continuaremos a fazê-lo”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, em um comunicado.

Questionado nesta sexta-feira sobre uma possível troca de prisioneiros envolvendo Gershkovich, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, se recusou a comentar. O Ministro das Relações Exteriores Sergey Lavrov disse na quarta-feira, 17, que os “serviços especiais” de Moscou e Washington estão discutindo o assunto.

O presidente russo Vladimir Putin deu a entender no início deste ano que estaria aberto a trocar Gershkovich por Vadim Krasikov, um russo que cumpre pena perpétua na Alemanha pelo assassinato de um cidadão georgiano de ascendência chechena em 2019.

A prisão do jornalista americano provocou uma grande onda de solidariedade e de indignação entre países do Ocidente. Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, chamou a condenação do repórter de “desprezível”, enquanto a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, chamou-a de “parte da propaganda de guerra de Putin”.

No primeiro dia de julgamento, em 26 de junho, o jornalista apareceu com a cabeça raspada e sorridente na cabine de vidro reservada aos acusados. Ele não foi autorizado a falar, mas fez sinais para as pessoas que conhecia dentro do tribunal.

No momento, ele só consegue se comunicar com a família e amigos por meio de cartas lidas e censuradas pela administração penitenciária. Nas correspondências, o jornalista afirma que continua de bom humor e estava resignado com uma possível condenação. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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