Santa Cecília: legado e compromisso (III)

09/06/2021 08:00
Por Joaquim Eloy

Em tempos do ressurgir da memória histórico-cultural de Petrópolis, com o aparecimento em nossa imprensa e pelas vias digitais das páginas, grupos, colunistas pesquisadores de nossa história, fascinante e bela, resolvi contar um pouco da existência viva da Escola de Música Santa Cecilia, fundada pelo maestro Paulo Carneiro em 1893 e transformada em sociedade civil em 1923.

E tudo narrado e comentado à vista da documentação da Escola, vinda de seu precioso arquivo e no dizer dos protagonistas da entidade, após o falecimento do maestro Paulo Carneiro, sob registro das perfeitas atas redigidas por Joaquim Gomes dos Santos.

Eleita a 1ª Diretoria em 23 de setembro de 1923, imediatamente empossada, promoveu-se a 1ª reunião do entusiasmado grupo sucessor do maestro no dia 26 de setembro, sob a presidência de Oscar Monteiro. Foi aprovado o reinicio das aulas para o dia 1ª de outubro próximo sob a responsabilidade dos professores Arnaldo e Walter Eckhardt, 1º e 2º diretores técnicos respectivamente., obedecendo, ainda, ao regime do ensino criado pelo falecido maestro Paulo Carneiro, até a reestruturação da entidade, em sua nova formulação. Pelo diretor 1º tesoureiro, Reynaldo Chaves, foi proposto que a Escola continuasse a prestar os seus serviços na Missa das 10 horas na Matriz, aos domingos e, se possível, ser obtido um adjutório por este pio serviço, plenamente aprovado.

Feita a constatação de que todos os musicistas em atuação em Petrópolis estavam ligados à Escola, porque a única da especialidade existente e em atuação, determinou-se que a orquestra e musicistas continuassem a prestar serviços aos feitos religiosos e, sobre o ganho financeiro que houvesse, fosse determinada uma porcentagem para todos os participantes, proposta do diretor, técnico Arnaldo Eckhardt, aprovada. ficando este incumbido de organizar uma tabela para esse fim. Obviamente a Escola necessitava de recursos financeiros para sobreviver e a figura carismática de Paulo Carneiro não mais incentivava a espontânea ajuda que era prodigalizada à Escola. Novas atribuições e responsabilidades sociais em novos tempos exigiam organização da sociedade civil nos termos das leis em vigor.

Para recuperar bens do maestro incorporados à Escola, a Diretoria iniciou a expedição de ofícios internos aos músicos que retinham instrumentos musicais, solicitando a devolução ao acervo a fim de ser procedido rigoroso levantamento do patrimônio da instituição.

Encerrando a 1º reunião da Diretoria de instalação da entidade, foi escolhida uma comissão de dirigentes sob o fim de entender-se com o empresário do teatro Capitólio, sr. Roldão Barbosa, para a cessão de uma data para um concerto da orquestra destinado ao início da campanha a ser deflagrada em favor da construção do mausoléu do maestro Paulo Carneiro no Cemitério Municipal. Compunham a dita comissão os diretores Oscar Monteiro, Reynaldo Chaves e Joaquim Gomes dos Santos, o primeiro músico, farmacêutico e presidente da Escola; o segundo, comerciante, literato, poeta, dramaturgo apaixonado pelo teatro; o terceiro, funcionário público federal, também escritor e poeta e personalidade da elevada confiança de seus pares para a organização da Escola.

Observa-se que o entusiasmo era o sentimento dos herdeiros da obra de Paulo Carneiro e todos mostravam-se dispostos ao cumprimento do pedido do maestro em seu leito de morte:

– Não deixem a minha Escola de Música morrer!

E ali estavam a tudo atentos, organizando, levando adiante um ideal, mantendo viva a primeira escola de música petropolitana, sob a flama do falecido maestro e a proteção da musa da música, Santa Cecília! 

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