Santo Ivo: patrono dos juristas e defensores públicos

18/05/2018 13:20

No dia 19 de maio os profissionais jurídicos católicos de todo o mundo festejam seu padroeiro: Santo Ivo da Bretanha. Em alguns países cristãos, nesse dia é comemorado – também no calendário civil – o dia do Advogado. Embora o Brasil seja um país de forte tradição católica, em que muitas das profissões liberais comemoram seu “dia” na data de memória litúrgica de seus respectivos patronos (caso dos médicos, que comemoram seu dia em 18 de outubro, dedicado a seu patrono São Lucas, por exemplo), a data em que se comemora o dia do Advogado em nosso país é o dia 11 de agosto. Isto se dá por razões históricas: nesse dia foi assinada, em 1827, a Lei Imperial que criou os primeiros cursos superiores jurídicos do país, em São Paulo e em Olinda. Mas, desde 2002, por força da Lei Federal 10.448, foi estabelecido que o dia 19 de maio deve ser dedicado à comemoração do dia do Defensor Público. Tal data foi estabelecida por sugestão das próprias entidades representativas da Defensoria, em razão da forte identificação desses agentes estatais que prestam assistência jurídica gratuita com o personagem histórico Ivo de Kermartin, ou, como dito acima, o Santo Ivo da Bretanha. Mas qual a razão de tal identificação? Quem foi esse santo?

Santo Ivo ainda é pouco conhecido no Brasil. Em algumas Igrejas mais antigas, sobretudo dos tempos coloniais, é até comum encontrar altares laterais dedicados a ele. Mas sua devoção não é muito popular. Originário da Bretanha, região situada no noroeste da França, nasceu em 17 de outubro de 1253 na cidade de Minihy-Tréguier. Seus pais pertenciam à baixa nobreza bretã. Mas Ivo, em bretão “Erwan”, viveu de modo simples, sem grandes luxos. Desde cedo sua família notou sua extraordinária capacidade intelectual. Por isso, ainda muito jovem foi enviado para Paris, para estudar na Universidade que já naquela época era famosa em razão dos grandes professores que ali ensinavam: Alberto, “o Grande”, Tomás de Aquino e o mestre franciscano Boaventura. Mesmo diante das tentações mundanas que – já então – rondavam a vida de um estudante universitário, Santo Ivo sempre foi reconhecido por seus colegas como modelo de vida cristã: intensa prática de oração, participação freqüente nas missas e celebrações, e incansável caridade para com os numerosos mendigos que viviam na cidade. 

Formou-se em Filosofia, em Teologia e depois, em Orléans, doutorou-se em Direito. Retornando à Bretanha, foi nomeado juiz eclesiástico em Rennes, num tempo em que essa função era muito importante pois a jurisdição dos Tribunais da Igreja abrangia muitas das questões da vida cotidiana de grande parte da população, e tinha às vezes até mais prestígio do que a Justiça civil, controlada pelos Reis. Ivo notabilizou-se por ser reconhecido como um juiz honesto e justo. Além disso, naquela época, não havia clara distinção entre os papéis dos profissionais jurídicos, de modo que Santo Ivo também atuava efetivamente como advogado, especialmente em causas em que uma das partes fosse pobre, sem condições de pagar pelos serviços profissionais: queria fazer justiça entre o pobre e o rico! Ele passou então à história conhecido como “advogado dos pobres”, atuando sem cobrar honorários, e daí a forte identificação com o papel mais tradicional originariamente desempenhado pelos Defensores Públicos. 

O seu amor à pobreza encontrou fundamento particularmente na sua adesão à espiritualidade franciscana: consta que ele teria se associado à Ordem Terceira Franciscana. Conforme nos conta o Padre Philippe Roche, seu biógrafo, nos últimos anos de vida, sem abandonar suas atividades de juiz e de advogado, Ivo abriu as portas do solar que herdou de sua família para acolher os pobres, alimentá-los, fazê-los sentar-se à sua mesa, abrigá-los e até mesmo ceder sua própria cama, indo dormir no chão. Quando Ivo morreu, dada sua notória fama de santidade, uma multidão acompanhou o cortejo para conduzir seu corpo à Catedral de Tréguier, onde está sepultado. Seu processo de canonização, mesmo no período medieval, é considerando um dos mais rápidos já realizados: muitos dos que conviveram com ele serviram de testemunha nesse processo. Em Petrópolis, há uma bela imagem de Santo Ivo, entronizada na Faculdade de Direito da Universidade Católica, homenageando o santo patrono de todos os juristas. Neste final de semana, no domingo, dia 20, a Missa das 11h30 na Catedral terá, dentre as intenções, a homenagem a Santo Ivo. Ao final da celebração, será apresentado (provavelmente em primeira audição no Brasil!) um belíssimo cântico tradicional medieval da Bretanha, em honra de Santo Ivo, pela voz do Grupo Vocal “Teatro Gregoriano Estrada Real”, com acompanhamento de um músico da Banda Marcial Wolney Aguiar tocando a tradicional gaita celta. Todos, especialmente os juristas, estão convidados a participar.

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