São Paulo recria voz de Telê Santana com IA: ‘Eu ainda estou aqui’

21/ago 13:40
Por Bruno Accorsi / Estadão

O São Paulo publicou, nesta quarta-feira, um vídeo em que a voz de Telê Santana, treinador morto em 2006, é recriada com o auxílio de inteligência artificial para pedir o apoio da torcida no duelo com o Nacional-URU, pela rodada de volta das oitavas de final Libertadores, marcado para as 19 horas desta quinta-feira, no MorumBis.

De acordo com o clube, o áudio foi gerado com a autorização da família, a partir da voz de Renê Santana, filho do técnico. A voz de Telê faz um discurso cheio de sensibilidade, focado na importância da torcida são-paulina, enquanto são exibidas imagens dele próprio, de partidas do clube e de torcedores.

“Torcida são-paulina, aqui é o Telê. Que saudade de vocês, que saudade de ouvir vocês cantando o meu nome. Se me perguntassem o que é o São Paulo futebol clube eu diria ‘vá ao MorumBis e você saberá’. Noite fria, recepção do ônibus, milhares de vozes. Está tudo ali: a paixão, a lealdade, a fé, a força, a identidade, a história. Em noites como essa, eu sou mais vocês”, diz o áudio.

“Sou mais um de vocês, porque eu ainda estou aqui. Talvez não dê para escutar, mas eu canto também. Por isso eu peço que cantem, cantem muito. Não parem de cantar até a voz acabar, é o que mantém vivo o nosso legado. E pode tem certeza, o adversário sente. Essa mística tem mais poder do que vocês imaginam. São-paulinos e são-paulinas, eu guardo comigo todas as nossas memórias. Chegou a hora de escrever mais uma”, conclui.

Depois do empate sem gols no Uruguai, o São Paulo precisa de uma vitória por vantagem mínima no MorumBis para avançar às quartas de final. Caso o duelo termine novamente empatado, a decisão da vaga será na disputa de pênaltis.

RECRIAÇÕES A PARTIR DE IA CAUSAM POLÊMICA

Existe um debate bastante quente sobre a recriação de imagens e vozes de personalidades mortas com o uso de inteligência artificial. O auxílio da tecnologia foi usado, por exemplo, para proporcionar um dueto entre Elis Regina, morta em 1982, e sua filha, em um comercial lançado no ano passado, que gerou reações positivas ao mesmo tempo em que foram levantados questionamentos éticos. Neste caso, a voz utilizada foi de uma gravação da cantora, mas sua imagem foi recriada com IA e colocada ao lado da filha.

O conselho de ética do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) chegou a abrir um processo para avaliar a campanha publicitária por possível irregularidade relativa ao Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, mas decidiu pelo arquivamento posteriormente.

A discussão é muito intensa principalmente no meio artístico. Nos Estados Unidos, atores chegaram a fazer uma grave, ano passado, para exigir restrições sobre o uso de IA e proteger os direitos de consentimento dos profissionais da área.

Zelda Williams, filha do ator Robin Williams, por exemplo, manifestou-se contra o uso da imagem do pai por meio de inteligência artificial. “Não sou uma voz imparcial na luta do Sindicato dos Atores contra o uso da inteligência artificial. Há anos tenho testemunhado como várias pessoas treinam esses modelos para recriar atores que não podem dar seus consentimentos, a exemplo do meu pai”, disse.

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