Segurança pública é maior preocupação dos eleitores paulistanos; veja propostas

29/jun 07:21
Por Pedro Augusto Figueiredo / Estadão

A segurança pública e os crimes cometidos na cidade são apontados como o problema mais grave de São Paulo por 29% dos eleitores, conforme pesquisa Genial/Quaest divulgada na quinta-feira, 27. As menções ao tema superam assuntos que são comumente debatidos em eleições municipais, como saúde (17%), educação (5%) e transporte público (5%).

O Estadão publicou o Radar da Criminalidade, ferramenta interativa que mostra as ocorrências policiais registradas em cada endereço da capital paulista. É possível ver a incidência de furtos, roubos, latrocínios e sequestros ocorridos em maio, último mês com dados disponibilizados pela Secretaria de Segurança Pública.

Foram 12.260 crimes cometidos em maio, no qual o roubo de celular foi o mais comum, com 4.361 ocorrências. Pinheiros, Distrito policial na zona oeste, registrou a maior quantidade de crimes no mês, com 440 no total. Na outra ponta do ranking está o distrito de Socorro, na zona sul, com 41 ocorrências.

No geral, São Paulo registrou queda no número de homicídios, roubos, furtos e estupros, e aumento nos latrocínios – roubo seguido de morte – no 1º trimestre de 2024.

A segurança pública é responsabilidade do governo do Estado, que comanda as polícias Civil e Militar, mas a Prefeitura de São Paulo também atua por meio da Guarda Civil Municipal (GCM) e indiretamente elaborando políticas de educação, assistência social e saúde que têm potencial para reduzir o nível de violência.

Além dos dados da Quaest, as chapas dos pré-candidatos indicam a centralidade que o assunto terá na eleição municipal em outubro: o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), escolheu o coronel da reserva e ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), Ricardo de Mello Araújo (PL), como seu vice após indicação feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A pré-candidata Marina Helena (Novo) também anunciou um coronel da reserva, Reynaldo Priell Neto, como vice. O ex-policial militar foi chefe de gabinete e secretário-adjunto na pasta municipal de Segurança Pública.

Os discursos e as propostas dos candidatos para lidar com o problema variam. José Luiz Datena (PSDB), jornalista que apresenta há duas décadas programa policialesco na Band, focou na infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) no poder público. Recentemente, a Operação Fim da Linha apontou que duas empresas de ônibus são ligadas e estariam lavando dinheiro do crime para a facção.

“Eu quero ser prefeito para tirar o crime organizado da prefeitura e dos serviços públicos. PCC não vai mais mandar nos ônibus de São Paulo”, disse Datena na quinta-feira, na primeira declaração pública após anunciar sua pré-candidatura.

Nunes também subiu o tom na quarta-feira, 26, ao comentar uma decisão judicial que impede a GCM de usar bombas, balas de borracha e agir como polícia em operações na Cracolândia, um dos símbolos do tráfico e uso de drogas na capital paulista. “A GCM não vai tratar com rosas quem está agredindo alguém”, declarou o prefeito, acrescentando que há traficantes que atuam no local e exercem influência sobre os usuários. “Se vier para cima da gente, vai tomar na testa”, concluiu.

Enrico Misasi (MDB), secretário de Relações Institucionais da atual gestão, diz que um dos norteadores da visão do prefeito é a integração com o governo do Estado, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoia a reeleição de Nunes.

“Com 20 mil câmeras espalhadas pela cidade, o sistema Smart Sampa, agora, também vai integrar Defesa Civil, GCM, PM e Polícia Civil. Todas estarão na mesma central, fazendo o monitoramento inteligente das ocorrências em tempo real. Esta é a ação mais importante já colocada em prática pela Prefeitura de São Paulo em colaboração ao trabalho das Polícias”, disse ele.

Guilherme Boulos (PSOL) defende aumentar o efetivo da GCM em 5.000 agentes ao longo dos próximos quatro anos e fortalecer o policiamento de proximidade principalmente no entorno de escolas. Ele, no entanto, afirma que apenas repressão e policiamento ostensivo não são suficientes e defende que a Prefeitura deve aumentar ações de inteligência, como a fiscalização administrativa dos estabelecimentos comerciais para impedir que o dinheiro do crime circule.

Boulos também quer implementar políticas sociais para reduzir a desigualdade e o que chama de “choque de zeladoria”.

“Começando pelas áreas mais degradadas, e promover a ocupação do espaço público pelas pessoas. O crime se instala com mais rapidez e facilidade em lugares onde há um grande vazio de políticas públicas. Infelizmente, este é o caso de São Paulo hoje”, diz o pré-candidato do PSOL.

O empresário Pablo Marçal (PRTB) diz que sua proposta é aumentar o efetivo da guarda municipal, aliado à utilização da tecnologia. Para isso, ele quer triplicar o investimento em segurança, aumentar o número de carros da frota da instituição, além de utilizar drones térmicos e com alto-falantes.

“Eu tenho vontade de traduzir a polícia dos EUA, essa polícia comunitária, que em Orlando leva o nome de xerife’, disse ele ao ser questionado sobre o tema em um debate realizado pela Associação Pró-Centro na quinta-feira, 27. “A gente precisa ter uma polícia com carros que são realmente carros-fortes. Não precisa ter dois guardas juntos. Coloca um só, transforma a viatura em um escritório, onde ele tenha legalidade para agir de forma administrativa e eficiente”, acrescentou.

Tabata Amaral (PSB) afirma que o papel da Prefeitura precisa ser de “articulação e gestão” e que a GMC estará mais presente na rua para fazer patrulhamento preventivo, assim como promete um programa “efetivo” de câmeras e de iluminação pública.

“Além disso, toda Subprefeitura vai contar com uma Central de Inteligência e Monitoramento, com a participação da GCM, da PM e da Polícia Civil para pensar em estratégias conjuntas de redução da criminalidade. Andar tranquilo na rua é um direito que vou devolver ao paulistano quando eu for prefeita”, disse.

Marina Helena (Novo) também propõe ampliar o gasto em segurança, de 1% para 3% do orçamento da Prefeitura. A pré-candidata do Novo afirma que assim será possível dobrar o efetivo e aproximar os guardas municipais da população. Atualmente, segundo ela, 30% dos agentes da GCM estão alocados em funções administrativas.

Ela também quer comprar câmeras com inteligência artificial para detectar comportamentos suspeitos e possibilitar que moradores, lojistas e proprietários destinem parte do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) para melhorias no próprio bairro.

“A União da Santa Ifigênia, por exemplo, poderia contratar uma administradora semelhante à de um shopping para garantir segurança, limpeza e qualidade das calçadas. É o que ocorre na Times Square, em Nova York, e milhares de cidades americanas”, diz Helena.

Confira as respostas dos pré-candidatos na íntegra:

Guilherme Boulos (PSOL) – “A Prefeitura precisa retomar o seu papel no debate de segurança. O comando das polícias é uma atribuição da União e dos estados, mas sabemos que os municípios têm dever e responsabilidade com esse tema, já que o crime ocorre no território. Para além de fortalecer a GCM, ampliando a sua capacidade de atuação e dobrando o efetivo da GCM, um dos focos será o policiamento de proximidade, especialmente no entorno de escolas. Mas é preciso compreender que segurança não se resume apenas a repressão e policiamento ostensivo. Por isso, junto com ações que vão assegurar maior capacidade de atuação da GCM, também vamos atuar em outras dimensões muito importantes nessa área e que são de competência da Prefeitura: agir na inteligência, por meio da fiscalização administrativa dos estabelecimentos comerciais para impedir que o dinheiro do crime circule na cidade; implementar políticas sociais que reduzam de verdade as desigualdades; fazer um choque de zeladoria, começando pelas áreas mais degradadas, e promover a ocupação do espaço público pelas pessoas. O crime se instala com mais rapidez e facilidade em lugares onde há um grande vazio de políticas públicas. Infelizmente, este é o caso de São Paulo hoje.”

Gestão Ricardo Nunes, por meio do secretário Enrico Misasi (MDB)

“O cidadão quer a Prefeitura de São Paulo e o Governo do Estado atuando juntos no combate ao crime. A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) já ampliou o número de guardas municipais nas ruas, valorizou a corporação, e treinou e preparou nossos GCMs para irem além da prevenção de delitos urbanos. Nossa GCM, hoje, apoia e trabalha junto às Polícias estaduais (Militar e Civil). Com 20 mil câmeras espalhadas pela cidade, o sistema Smart Sampa, agora, também vai integrar Defesa Civil, GCM, PM e Polícia Civil. Todas estarão na mesma central, fazendo o monitoramento inteligente das ocorrências em tempo real. Esta é a ação mais importante já colocada em prática pela Prefeitura de São Paulo em colaboração ao trabalho das Polícias. O prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) vão continuar trabalhando, juntos, para que as pessoas possam andar tranquilas pelas ruas da cidade – do centro à periferia, em todas as regiões da capital.”

Tabata Amaral (PSB) – “Na minha gestão, a Prefeitura não vai fugir da sua responsabilidade na área de segurança. A GCM estará mais presente nas ruas assumindo um papel de patrulhamento preventivo. O poder municipal terá um programa efetivo de câmeras e de iluminação pública. Além disso, toda Subprefeitura vai contar com uma Central de Inteligência e Monitoramento, com a participação da GCM, da PM e da Polícia Civil para pensar em estratégias conjuntas de redução da criminalidade. Andar tranquilo na rua é um direito que vou devolver ao paulistano quando eu for prefeita.”

Marina Helena (Novo) – “Defendemos ampliar a gasto atual de segurança de mísero 1% para 3% do orçamento da Prefeitura. Esse aumento de orçamento servirá principalmente para dobrar o efetivo da GCM, que além de crescer, ficará mais perto da população. Hoje 30% do efetivo da GCM está em funções administrativas e boa parte que está nas ruas fica longe das pessoas, guardando museus esvaziados. Queremos a guarda ao redor de terminais de ônibus e estações de metrô, nas creches durante a entrada e saída das crianças.

Defendemos integrar as câmeras municipais com o Copom da PM, pois hoje os sistemas municipal e estadual mal se conversam. Também propomos trazer câmeras com IA que detectam comportamentos suspeitos e relatam esse comportamento aos guardas para que averiguem.

Por fim, defendemos o modelo dos BIDs (Business Improvement Districts) para a segurança. Nos BIDs, que deram muito certo no Canadá, Inglaterra e Estados Unidos, moradores, lojistas e proprietários podem gastar parte do IPTU com melhorias no próprio bairro. A União da Santa Ifigênia, por exemplo, poderia contratar uma administradora semelhante à de um shopping para garantir segurança, limpeza e qualidade das calçadas. É o que ocorre na Times Square, em Nova York, e milhares de cidades americanas.”

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