Sem auxílio do Governo Federal, empresas precisam se reinventar para sobreviver a mais um ano de pandemia

18/04/2021 09:16
Por Luana Motta

A palavra que mais vem sendo usada pelos empresários em Petrópolis para descrever a economia durante a pandemia é: sobrevivência. Grande parte das medidas de auxílio às empresas anunciadas pelo Governo Federal no ano passado não alcançou às pequenas e microempresas. Neste ano, que começou sem o auxílio emergencial que vinha ajudando a aquecer o varejo, e com o acumulo de tributos atrasados, mais uma vez, o empresariado terá que se reinventar para conseguir se manter e sobreviver a segunda onda da pandemia.

“A maioria das empresas naquele primeiro momento ainda tinha algum fôlego, ainda tinha algum capital de giro e conseguia se manter. Obviamente, encolhendo, diminuindo a quantidade de colaboradores. Depois veio o auxílio emergencial do governo que ajudou muita gente, deu uma movimentada na economia e com isso, o retorno também não foi tão ruim. Por outro lado tivemos como auxílio para as empresas a suspensão do contrato de trabalho, que também nos ajudou muito e ajudou que conseguíssemos passar pelo primeiro lockdown, essa primeira crise da pandemia lá trás”, disse o presidente do Sicomércio, Marcelo Fiorini.

No ano passado, com as medidas restritivas para conter o avanço da covid-19, alguns setores socioeconômicos ficaram pouco mais de cem dias fechados. No entanto, o Governo Federal anunciou medidas para ajudar o empresariado a sair do sufoco, como o Pronampe (Programa Nacional de Apoio à Microempresas e Empresas de Pequeno Porte); o programa de Capital de Giro para Preservação de Empresas; o Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese) e o Fundo Garantidos de Investimentos (FGI). Mas grande parte das empresas não conseguiu acesso a esses programas e tiveram que usar das próprias reservas para conseguir de manter.

Para Fiorini, o cenário que parece positivo para alguns setores fazem parte do grupo de pessoas que tiveram que se reinventar após ficarem desempregadas, por exemplo. “As empresas estão encolhendo, sumindo, desaparecendo e as pessoas que estão sendo demitidas ou que estão ficando sem oportunidade de trabalho estão arrumando uma forma de se legalizar”, disse. Como é o caso dos Microempreendedores Individuais (MEIs).

Empresas tiveram que se adaptar às novas formas de negócio

O empresário Luiz Carlos Kallenbach, sócio da cervejaria Colonus, contou que no ano passado quando todos foram pegos de surpresa pela pandemia, a empresa se planejou como se estivesse começando da estaca zero. Sem as feiras e eventos, e ainda sem poder abrir as portas para o tap room, os sócios tiveram que se reunir e pensar em novas estratégias de negócio para a venda direta. “Tivemos que nos reinventar para surfar essa onda”, disse Luiz Carlos.

A cervejaria que estava começando a alavancar em 2019, teve que retrair em 2020, não tiveram novos investimentos e decidiram realocar os recursos nas novas metas. Com a novidade do growler – recipiente próprio para armazenar o chope, conseguiram melhorar a logística de venda e avançaram para o Rio de Janeiro. “Ainda considero que estamos sobrevivendo, não batemos a metas. Mas é uma situação que estamos iguais a todo mundo”, disse o sócio.

Sem eventos presenciais como a Bauernsfest, o jeito foi apostar no marketing digital para oferecer a mesma experiência de feiras livres aos clientes em casa. “Trabalhamos com o consumidor final direto e criamos novidades para movimentar”, disse Daniel Noel, sócio da Cervejaria Doutor Duranz. Segundo o sócio, a empresa foi a primeira a implementar o Ifood em Petrópolis, com o delivery das growlers. E criaram o Clube do Alquimista – um clube de assinatura de cerveja artesanal, também o primeiro da região. Além de criar mais uma linha especial de cervejas, contando com os investimentos e capital da própria cervejaria. “A nossa regra é segurar as pontas e ir trabalhando com o que a gente tem e não contar com a renda de eventos, como nós tínhamos antes”, disse.

Agravamento da pandemia provocou onda de pessimismo na economia

No levantamento feito pelo Fecomércio RJ entre 1º e 4 de abril, aponta que, de 558 entrevistados, 51,8% tiveram a situação de seus negócios agravada nos últimos três meses, percentual bem maior do que foi apurado na pesquisa anterior, feita em março (23,2%). Para 31,5% dos empresários, houve uma piora, seguidos por 11,5% que acreditam que a situação do seu empreendimento permanece igual. Apenas 3,8% afirmam que houve uma melhora e 1,4% sinalizaram uma melhora significativa.

Em relação às expectativas dos empresários para os próximos três meses, em abril, 46,4% afirmam que esperam que a situação de seus negócios melhore – este índice em março era de 48,8%. Neste novo levantamento, 19,4% acreditam numa grande recuperação. Outros 17% dos entrevistados afirmam que a situação deve continuar igual, já 10,5% creem numa queda da receita de suas empresas e 6,7% se mostram bastante pessimistas. O índice apresentou redução de 165,5 em março para 148,6 em abril. Os dois indicadores já refletem possivelmente o resultado da demora no retorno do auxílio emergencial e cenário de incerteza sobre a economia fluminense.
Entre os que responderam que acreditam que a situação de seus negócios nos próximos três meses será prejudicada, 92,4% associam essa redução ao agravamento da pandemia e apenas 7,6% não concordam com a afirmação.

Comércio enfrenta o pior cenário da pandemia

Para o presidente do Sicomércio, Marcelo Fiorini, este é o pior momento para o comércio desde o início da pandemia. Fiorini descreve o adiamento do vencimento dos tributos e até mesmo o financiamento por meio do Pronampe, como uma bola de neve para 2021. Além disso, os juros e multa das renegociações de impostos, que vencem mês a mês tem se tornado cada vez mais difíceis de manter em dia. “Estamos no pior cenário, quem está conseguindo sobreviver é a custo de alguma reserva ainda, ou tenha conseguido pegar algum recurso para pode sobreviver. O cenário para os próximos meses é muito ruim”, disse.

Últimas