Sem linha do crédito do governo, empresas acumulam dívidas

18/07/2020 09:40

A expectativa era que as linhas de crédito do governo federal chegassem rápido para socorrer as empresas que foram obrigadas a fechar as portas e suspender as atividades para conter o avanço do Covid-19. Mas, quatro meses depois do início da pandemia, poucos foram os micro e pequenos empresários que conseguiram obter o empréstimo junto aos bancos. Burocracia e o dinheiro que não chegou as agências foram os problemas enfrentados por quem tentou conseguir o crédito.

“Fiquei quatro meses com as portas fechadas, com o faturamento zerado. O crédito com juros baixos e acessíveis seria a solução para pagar as contas, agora que fui autorizada a retomar as minhas atividades. Só que a resposta que recebi do banco foi que o dinheiro acabou e que tenho que esperar um próximo lote”, disse a proprietária de uma autoescola, Luciane Vasconcelos.

A empresária, assim como fizeram outros milhares de empresários por todo o Brasil, buscou ajuda do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) para conseguir o crédito e ter dinheiro para pagar os salários dos funcionários e as contas da autoescola, que vencem no dia 5 de agosto. O programa foi criado pelo governo federal e esta semana houve a promessa de um segundo aporte financeiro de R$ 12 bilhões que seriam enviados aos bancos para que os empréstimos fossem concedidos.

“O problema é que o dinheiro acabou e não chegou para todo mundo. Algumas pessoas conseguiram apenas 5% do valor a que tinham direito e outras nem isso”, comentou o contador José Karl. “Além disso, empresas que não são inscritas no Simples tiveram uma dificuldade ainda maior. As regras do programa levam em consideração o faturamento de 2018 e 2019, mas as empresas que não são inscritas no Simples Nacional fecham o faturamento de 2019 até 30 de julho do ano seguinte, ou seja, elas tiveram o crédito negado porque a Receita Federal ainda não tinha esse dado”, disse o contador.

Segundo ele, houve uma corrida para atender os clientes e entregar as declarações em tempo recorde para que os empresários pudessem solicitar o Pronampe. “Fizemos um esforço para entregar todas as declarações, mas mesmo assim algumas empresas não conseguirem o crédito e, agora, têm que esperar esse segundo lote”, explicou José.

Para o economista Marcelo Scistowicz esta demora na concessão dos créditos pode ser fatal para algumas empresas. “O ideal é que chegasse de forma rápida para as empresas conseguissem sobreviver. Algumas empresas para as quais fiz consultoria estão vendendo seus bens para pagar as contas. Quem conseguir passar por este tsunami que é o Covid-19 terá que se adaptar para se manter funcionando”, alertou. 

A Caixa Econômica Federal (CEF) foi a primeira a operar com o Pronampe. Na última quarta-feira (15), somando os contratos assinados e as propostas em análise, o banco atingiu o limite autorizado pelo Fundo Garantidor de Operações (FGO), que atualmente é de R$ 5,9 bilhões. 

O Itaú Unibanco informou que nessa segunda-feira (13) terminou de disponibilizar 100% do volume disponível para esta linha de crédito. Foram 37 mil micro e pequenas empresas clientes do banco que receberam o aporte, cerca de R$ 3,7 bilhões.

Já o Banco do Brasil, além do limite de R$ 3,74 bilhões aportados e esgotados, recebeu uma suplementação extra de crédito de R$ 1,24 bilhões, que esgotou em menos de 12 horas na última sexta-feira (10). Foram concedidos R$ 4,98 bilhões – cerca de 80 mil empresas conseguiram o crédito.

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