Sem medo de morrer!
Quando recebi das mãos do Frei Antônio Moser os originais para a leitura e exarar meu parecer sobre a obra de sua lavra intitulada “Colhendo flores entre espinhos” me senti alegre e privilegiado. Naquele momento eu não sabia que pouco tempo depois haveria de lamentar sua ausência. E no dia 9-4 completará um mês de seu falecimento. Uma lança vazou coração de seus amigos, leitores e fieis. É eterno em nossos corações e orações. Sua obra também. Ele sempre nos dizia que não há que se temer a morte e sim saber viver cada dia de uma vez. E falando de seu livro nele o leitor pode constatar o conteúdo rico e variado com abrangência multidisciplinar onde as palavras fluem fáceis perpassando em seus dez capítulos a juventude, a felicidade e a imortalidade, definidas com elegância na trilogia que alimenta o imaginário humano. À medida que o leitor vai criando intimidade com a envergadura e o equilíbrio da obra, aprende a conviver com o envelhecimento de forma amena sem o fantasma do medo e apavoramento com o desfecho reservado a todos nós sem exceção: a inexorável morte do corpo físico. O sonho e o pesadelo aos poucos vão dando lugar à divagação sobre o lado existencial e, quando menos nos apercebemos vamos encontrando uma resposta para o existir quer com relação à qualidade de vida, à aceitação ante a modificação e aos estágios percorridos entre a infância, juventude e a senilidade. É difícil, sabemos, convivermos com a pele enrugada e as dores no corpo acumulados pelo peso dos anos em evidente contraste ao rosto aveludado e a anatomia esguia dos quinze anos, em plena florada da primavera. Muitos de nós, se desprovidos de uma formação religiosa, familiar, cultural e sócio-pedagógica sentimo-nos confusos dando margem aos distúrbios psicológicos que muita das vezes nos causa sérias consequências. Certo é que situações como essas refletem o espelho social como bem relata o Autor em seu capítulo sétimo, que vão desde as políticas públicas, necessidades básicas e busca de um lugar na família e na sociedade. A obra acena o leitor ao topo da montanha da vida através do livro “colhendo flores entre espinhos .” Deixa claro que, se fizermos a simbiose da matéria ao espírito e que só chegaremos ao cume do penedo se iniciarmos pelo primeiro degrau alcançaremos a plenitude. O importante é sermos felizes, é o cumprimento das etapas. A experiência adquirida ao longo dos anos vale mais que o prateado dos cabelos, as dores no corpo e a cronologia do tempo. É evidente que devemos viver com qualidade. Para isso, desde cedo é importante vislumbrarmos o crepúsculo de nossas existências, aliados à estrutura familiar, social e material. Aí como bem disse o inolvidável mestre Antônio Moser, implicam ingerências do poder público e dos pilares que cada qual fincou projetando o futuro. Se a vida reservar a qualquer de nós uma casa de acolhida, como referido no capítulo nove, não deve ser interpretado como fim do caminho, talvez, quem sabe, o início de uma nova etapa? E no epílogo da obra, Frei Antônio Moser com a acuidade e a percuciência que lhe são peculiares nos conforta e nos prepara para a derradeira hora, lembrando-nos que embora sem medo de morrer, devemos nos preocupar com a condição de nosso bem viver. Assim seja mestre. Cum Christo in pace. Agora colhe flores nos céus.