Semanalmente, 200 pessoas se alimentam de sobras das feiras de Petrópolis
Toda terça-feira, dezenas de pessoas, em sua maioria mães de família, esperam ansiosamente pelo horário de término da Feira Livre do Centro, que acontece na Rua Souza Franco. Elas vão em busca de frutas, hortaliças e legumes, que ainda em bom estado, iriam para o lixo. O que é reaproveitado, no entanto, é uma pequena parcela da cerca de uma tonelada de alimentos que é descartada semanalmente na maior feira do município. O levantamento foi feito pelo projeto Da Roça ao Prato – sem desperdício, que espera mudar este quadro, estimulando o reaproveitamento de alimentos em Petrópolis.
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As idas semanais à feira livre são a garantia de alimentos frescos nos pratos dos quatro filhos e três sobrinhos, contou E., de 27 anos. Ela saiu com várias sacolas cheias de produtos da feira na última terça. Moradora do bairro Atílio Marotti, toda semana ela vai à feira buscar os alimentos que seriam descartados. “Sempre venho pegar e isso me ajuda muito pois estou desempregada”, contou. Moradora da Comunidade do Neylor, L., de 36 anos, também fez uma boa feira esta semana. “Moramos eu e meu companheiro mas ele tem filhos e enviamos legumes e frutas para eles também”, contou. Na sacola, abobrinha, abacaxi, beterraba entre outros produtos que não têm mais condições para venda por estarem já no ponto de consumo. “São produtos que não podem mais armazenados e vendidos no próximo dia de feira. Precisam ser consumidos na semana”, explicou Gênesis Pereira, presidente da Associação de Feirantes de Petrópolis. “Entre as 14h e 14h30, cerca de 200 pessoas aparecem para buscar os alimentos, toda semana.”, contou. “Alguns feirantes doam, outros descartam os produtos”, acrescentou.
Quem vai à feira em busca das sobras fica feliz em poder levar alimentos para a casa e quem doa também fica satisfeito. Feirante há 20 anos, o 'Betinho da Feira', está entre os que fazem as doações ao invés de jogar no lixo os produtos que não serão mais vendidos. Ele chega a doar até 40 caixas de legumes a cada terça-feira e até abre embalagens dos produtos ainda em condições de venda quando percebe que alguém não conseguiu pegar nada. “Precisamos dar à quem precisa”, disse. “Há muito desperdício, pois nem todo mundo doa e os produtos são descartados”, lamentou.
Conscientizar estes feirantes é uma das propostas do Da Roça ao Prato – sem desperdício, que foi lançado durante o festival Agro Serra, realizado na última semana no Palácio de Cristal. “De maneira alguma queremos tirar a oportunidade dessas pessoas de irem buscar alimentos na feira. Mas queremos organizar estas doações. Fazer a ponte de quem tem para doar e quem precisa receber”, explicou a jornalista e também produtora Janice Caetano, idealizadora do projeto.
A ideia do projeto surgiu com base nas metas do milênio estipuladas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Um dos 17 objetivos propostos pela ONU é assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. Segundo a organização, em todo o mundo, 1,3 bilhão de toneladas de comida são desperdiçadas diariamente. “Até 2013, a ONU estipulou que o mundo reduza pela metade a perda, o desperdício de alimentos”, explicou.
Da roça ao prato
O projeto, que está em sua fase inicial, a de sensibilização e de construção de parcerias, tem como proposta evitar o desperdício desde a sua fase de produção até na hora final de consumo. “Fiz uma rápida pesquisa, de forma superficial e constatei que mil quilos de alimentos são dispensados a cada terça-feira. Propus uma parceria com a Associação dos Feirantes e o projeto foi muito bem aceito”, contou Janice. Além da associação, também já são parceiros a Emater, o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, por meio do Departamento de Agricultura. “Agora estamos fechando uma parceria com uma universidade de Petrópolis que fará um levantamento do desperdício de alimentos no município de forma mais precisa”, explicou. Paralelamente, o projeto já iniciou a campanha de comunicação sobre como evitar o desperdício e também de estímulo ao reaproveitamento.
No que se refere ao órgão da prefeitura, será viabilizada a reedição de uma lei de 2006 que dá desconto na licença anual aos feirantes que fizerem doações dos produtos, comprovadamente, para pessoas e/ou instituições.
O projeto traz diversas propostas para minimizar o desperdício e seus impactos: “Temos diversas propostas para diminuir o desperdício desde o momento da colheita até a mesa das pessoas”, ressaltou. Entre os principais, está o de criar uma rede de doadores e receptores no município, facilitando o acesso das pessoas aos alimentos e dando a oportunidade de quem pode ter o prazer de dividir.