Senadora focou na moderação, cresceu nos embates e travou na polarização

02/10/2022 08:20
Por Adriana Ferraz e Gustavo Queiroz / Estadão

O horizonte político se abriu para Simone Tebet (MDB) em 21 de junho do ano passado. Depois de os colegas insistirem por um dia inteiro, foi ela quem conseguiu tirar de um relutante deputado, Luis Miranda (Republicanos-DF), o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), como autor de “rolos” no Ministério da Saúde na compra de vacinas contra a covid-19.

Dali em diante, a senadora de 52 anos, que foi destaque na CPI da Covid, passou a ganhar mais espaço dentro e fora do MDB, seu partido, chegando ao ano eleitoral como opção para a desacreditada terceira via. Mesmo antes do resultado final, aliados afirmam que ela sai maior do que entrou nesta campanha.

Ao tentar convencer o eleitorado sobre sua capacidade de governar, Simone levou para o centro do debate “a força da mulher brasileira”, slogan usado por ela em propagandas de TV e rádio. Montou a primeira chapa pura feminina desde a redemocratização – com a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) na vice – e investiu em temas sensíveis ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

A senadora aproveitou para crescer eleitoralmente. “Por que tanta raiva contra as mulheres?”, indagou, no primeiro debate, a Bolsonaro, que respondeu pedindo o fim do “vitimismo”, “do mimimi” e “do discurso barato”. No mesmo debate, ressaltou seu compromisso de, se eleita, criar um gabinete paritário entre homens e mulheres, agora em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se negou a assumir tal meta.

Virou candidata contrariando uma ala do partido, que chegou a apelar à Justiça contra o lançamento de seu nome, e defendia Lula, com quem seu pai, o ex-senador Ramez Tebet, teve uma boa relação política. Falecido em 2006, era ele o presidente do Congresso quando Lula foi eleito pela primeira vez, em 2002 – na posse, coube a Ramez, com bom humor, ceder uma caneta Montblanc para que o petista assinasse o termo, em ato que os aproximou e marcou a data.

Agora, 20 anos depois, a senadora critica, mas não fecha as portas para um novo aceno a Lula. Em caso de vitória do candidato, caberá aos rumos tomados por seu governo a definição de que lado Simone estará: se na oposição ou não. Parte dos representantes do MDB, especialmente a ala do Nordeste, já se coloca como eventual aliada.

PROPOSTAS

Foi de olho no eleitorado feminino, majoritário no Brasil, que Simone calcou a campanha por temas que interessam ao brasileiro em geral, mas que são caros especialmente às mulheres. Prometeu ampliar vagas em creches, dar crédito para empreendedoras e bolsas para o jovem se formar no ensino médio, além de trabalhar pela igualdade de salários. Em uma visita a uma cooperativa de reciclagem de materiais na capital paulista no começo do mês, onde a maior parte da equipe é formada por mulheres, chegou pouco conhecida e, após discursar, saiu de lá com o apoio explícito de algumas trabalhadoras.

“A Simone, quando se comunica, consegue falar com o povo. Consegue falar de coração para coração. Você vê que ela é propositiva, tem sinceridade, tem competência. Vejo ela muito ponderada”, disse Mara Gabrilli. Ela destacou a inclusão de pessoas com doenças raras, da comunidade LGBT+, população indígena e migrantes como bandeiras assumidas pela chapa.

Em uma resposta no debate promovido pelo Estadão no dia 24, a senadora se disse “contra o aborto” por ser “católica e cristã”. “Isso não me faz menos feminista. O feminismo no Brasil precisa ser entendido não como uma pauta de esquerda, mas cristã”, completou, de forma incisiva.

Às vezes tachada por opositores como “ruralista”, uma alcunha que ela rejeita, Simone já teve posicionamento titubeante a respeito do novo marco temporal para demarcações de terras indígenas, por exemplo. Em entrevistas recentes, porém, defendeu o agronegócio sustentável, a política de desmatamento zero e a demarcação de terras indígenas atrelada a um estudo antropológico.

No debate da TV Globo, reforçou sua posição a favor da preservação ambiental diante dos riscos das mudanças climáticas em embate direto com Bolsonaro. Sempre assertiva, a emedebista disse a ele que “meio ambiente é vida”.

RENOVAÇÃO

Após se apresentar duas vezes para presidir o Senado – sem sucesso -, Simone já tinha alcançado a visibilidade interna necessária para pleitear o comando do partido. O deputado federal Baleia Rossi (SP) foi reconduzido à presidência do MDB e partiu dele o convite para Simone ser o nome da sigla ao Planalto.

A partir daí, a senadora passou a pleitear a vaga da terceira via com os ex-governadores João Doria, Eduardo Leite e até com o ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil). O perfil moderado e o fato de ser mulher ajudaram, assim como o desinteresse de partidos com o PSDB em lançar candidato próprio.

Ao longo da campanha, no entanto, a baixa rejeição – considerada o ativo principal da senadora -, não foi capaz de fazê-la deslanchar nas pesquisas. “A Simone é exemplo de coragem e determinação. Andou por todos os cantos desse imenso país, levando sua mensagem com energia e sem esmorecer, mesmo em uma campanha polarizada e com tantas adversidades. Termina a campanha grande, de cabeça erguida”, disse o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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