Sentir eterno

17/01/2019 09:45

Como definir poesia? E poeta? Que mágica vocação é essa que permite a um mortal colorir em arco-iris o vale ressequido ou a elevação lodosa? Ver calor na neve; e gelo na fogueira das emoções? Acompanhar uma aparência –  Sancho Pança – aos confins dos moinhos de pás provocantes? Ou compreender as paixões alucinadas do cavaleiro de armadura enferrujada e dedos expostos nos orifícios das botas gastas na vida andarilha? E derrotar a razão mais simples com a insanidade do terçar palavras? Como enquadrar a vida em palavras frias na apresentação e cálidas e quentes no espocar das orações de chama e sentimento? Poesia, afinal o que é; e poeta, que sentido emprestar à biologia humana de pensar?

Leio “Sentir é Terno”, do poeta Sylvio Adalberto, Permite ele que o leitor faça a junção do verbo ser ao sentimento da ternura,  Assim, compreende a morte, como festeja a vida e crê na imortalidade do que fica e vai afora no tempo pelos escoadouros das almas sentidas e amorosas. Compreende o  poeta o vertiginoso da vida de hoje, ao leitor concedendo poeminhas – por curtos -, de profundidades no abissal mais colorido dos mares profundos, misteriosamente assustando os mergulhadores cautelosos e equipados de razões e armaduras defensivas. Seus mini poemas têm a grandeza dos infinitos, traduzindo, em neurônios de explosão silenciosa, imensos filosofares de vida e insistência pelo existir no redemoinho do caos sem sentido porque desumano. “Sentir”.

No miolo do livro, o poeta cria sonetos inspirados, perfeitos, na escola e escala do sentimento e sob análise da alma peregrina do tempo quando diz: “[…] O tempo e essa estranha bizarrice / que nos sobra na nossa juventude / e não chega pro tempo da velhice”. (Matando o tempo). “É”.

No terceiro segmento, seus universos desabrocham em composições poéticas de encadeamentos lúdicos quanto objetivos, afirmando: “Ando à procura de versos / esses brinquedos quebrados / que acabo por reciclar […]” (“Único poema”). É o eterno menino observador de passarinhos, privilegiada visão multicolorida da natureza, que ele fragmenta em versos como os lapidadores trabalham as esmeraldas. E encontra seu alterego duelando contra as pás quebradiças e mortas dos eólios catalizadores dos ventos que açoitam os planaltos e as planícies da vida. Investe, discute com Sancho, cai e levante, dominando, pela coragem, o infortúnio cravado no solo espesso pelo pisotear milenar dos andantes do planeta. “Terno”, linguagem dos predestinados.

Ler Sylvio Adalberto, compreender o sentido de seus versos, as temáticas dos ontens e hoje, dos finitos e infinitos, é mergulhar no encantamento mágico, sereno e perene que só autênticos poetas conseguem imprimir na sensibilidade da alma,

E diz o poeta: “Viver é ofício / poesia é vício”..

Divino, vício, meu querido amigo poeta Sylvio Adalberto!

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