20/08/2023 08:00
Por Ataualpa A.P. Filho

A capacidade de amar é inata, independente de etnia, sexo, nacionalidade, credo. O inexplicável do amor está na imaterialidade. As razões que fazem brotar esse sentimento não são palpáveis. Parafraseando Cecília Meireles, é possível afirmar: amor “é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.

Esse inexplicável move o comboio de corda, chamado por Pessoa, de coração, que se tornou um elemento simbólico do amar. Blaise Pascal disse: “O coração tem razões que a própria razão desconhece.”

Em “As sem-razões do amor”, Drummond bem definiu: “Amor é estado de graça/ e com amor não se paga./ Amor é dado de graça,/ é semeado no vento,/ na cachoeira, no eclipse./ Amor foge a dicionários/ e a regulamentos vários.”

Embora não haja uma certificação das fontes que fazem brotar o amor, é possível identificá-lo em um simples gesto de carinho, ou seja, identifica-se facilmente a amabilidade. Até os chamados animais irracionais manifestam gestos afetivos, podem retribuir carícias.

Resolvi abordar esse tema, porque estou cansado de ver o ódio estampado nas páginas de jornal, nos telejornais, disseminado nas redes sociais. Um ódio gratuito, rivalidades seculares sem sentido, a estupidez irredutível da intolerância que não admite falhas, não aceita desculpas, nem perdão em simples atos involuntários. Triste é saber que o ódio é assim como o amor: inerente à natureza humana. Água e óleo em um mesmo copo. Amor e ódio no mesmo corpo. Qual deles alimentamos?

Quem opta pela mesquinhez se familiariza com a cólera. Quem anda com as sandálias da humildade tem que seguir pelas pegadas do amor. Gerar gentileza pela gentileza requer tolerância e pacificidade.

Cresce o número de pessoas que, propositalmente, não querem mostrar amabilidade. Optam pela estupidez, pela demonstração da força física. Querem colocar os bíceps acima do cérebro e do coração. E, pelo ódio disseminado, criam rivalidades, polarizam conceitos, ideologias por mera prepotência. Mas o momento é de conciliação, de união de forças, do consenso, do diálogo, da concórdia…

Um dos fatores primordiais para se chegar a um consenso reside na reciprocidade do respeito. Opiniões divergentes são encontradas em qualquer relacionamento humano. Oposições políticas também são encontradas em qualquer ambiente social. Mas, quando não há a predisposição para buscar o ponto de convergência, as possibilidades para a consolidação de um acordo são mínimas.

Entre países, entre colegas de trabalho, entre membros de uma família, em qualquer contexto, a intransigência é um obstáculo para a manutenção de uma convivência pacífica. Não se apaga incêndio com gasolina. O diálogo sincero só se mantém por meio da íntegra verdade. A insensibilidade que coloca a economia acima da vida fecha os olhos diante do sofrimento dos menos favorecidos e não respeita a mãe Natureza. O insensível tem dificuldade de tornar-se amável.

A imprudência do amor está em não estabelecer medidas: “é um contentamento descontente”, “é nunca contentar-se de contente” como afirmara Camões.

Depois que coloquei os pés na terceira idade, certifiquei-me de que a Literatura me levou a um desequilíbrio emocional. Não perco mais a oportunidade de dizer “te amo”. Não retenho as minhas lágrimas, por isso tive que aprender as funções da linguagem para melhor dizer o que sinto e o que penso, seja em prosa, ou em verso. A razão nos faz medir as palavras pelo fio da verdade.

Antes da pandemia, já havia constatado que o vocábulo “gratidão” passou a ser mais ventilado por quem exerce a amabilidade, retribui os gestos de carinho, reconhece a importância do agradecimento, respeita as adversidades, valoriza as ações solidárias, sabe que a ternura não é um estado de fraqueza.

A esperança inspira os ares da fé, oxigena os pulmões, faz o coração pulsar pelo desejo do bem comum. É preciso entender que o amor é paciente, o amor é benigno, não é invejoso; o amor não é orgulhoso, não se envaidece; não é descortês, não é interesseiro, não se irrita, não guarda rancor; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta…” (1Cor 13,4-7)

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