Seria estranho BC reagir à alta do dólar por reprecificação global, afirma Galípolo

06/jun 13:52
Por Amanda Pupo e Cícero Cotrim / Estadão

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse ver vários elementos para explicar a performance pior do real nos últimos tempos, entre eles a reprecificação de ativos pela postergação da política monetária norte-americana no corte da taxa de juros, que provocou o fortalecimento do dólar. Ele pontuou que, em momentos assim, seria estranho que o BC ou a política cambial buscasse reagir a isso, uma vez que o regime de câmbio flutuando existe justamente para absorver essas flutuações.

“E como venho dizendo, naquela minha fala anterior ao Copom, olha, meta de inflação não é tema para diretor de Banco Central discutir, não cabe a gente, recebemos a meta e tem que cumprir. O que foi visto como frase hawkish. Depois disso, disse, o BC não tem meta de câmbio, de diferencial de juros, tem meta de inflação, o que curiosamente foi vista como uma declaração dovish. Mas é uma sentença que me sinto confortável em defender em qualquer momento da conjuntura econômica. E acho importante ter essa coerência”, afirmou, em palestra na final da Olimpíada Brasileira de Economia, em São Paulo.

Além de mencionar a reprecificação de ativos pela política monetária americana, Galípolo também citou que os países que começaram o “dever de casa” antes no ajuste da política monetária, como o Brasil, acabaram mais penalizados do que outros dentro desse descasamento de ciclo de corte das taxas. Ainda sobre a performance do real, ele citou questões “idiossincráticas”, como o fato de Brasil ter maior liquidez, além de outros temas, como os efeitos que as criptomoedas podem estar exercendo ou não no País.

“Mas eu acho que a disfuncionalidade estaria em uma discrepância sobre a qual haveria alguma dificuldade de encontrar uma razão lógica para aquilo, especificamente”, afirmou o diretor de Política Monetária.

Durante a palestra, Galípolo também comentou que o núcleo de inflação no Brasil está performando abaixo de países como Inglaterra e Estados Unidos, posição de vantagem ainda aliada a autonomia da autoridade monetária. Ao falar de reuniões com investidores fora do País, o diretor ainda reforçou que o Brasil tem posição privilegiada no contexto energético, com “grande capacidade em renovável, além de ter segurança alimentar, “muito relevante em mundo de tensão geopolítica”. “Estrangeiros tendem a pesar vantagens competitivas e separar ruído e tendência”, disse.

Galípolo também relatou que, em uma das reuniões, um dos investidores contou que teria uma anotação em seu terminal que dizia que “brasileiros tendem a ter visão de mais curto prazo e reagir de maneira emocional a volatilidade”. O diretor disse que sentiu “um pouco incomodado” com a colocação e que, por isso, tentou em um dos encontros resgatar avanços que o Brasil registrou nas últimas décadas.

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