Taxas de juros perdem ritmo de queda após virada do câmbio
Os juros futuros fecharam a quarta-feira com viés de baixa. As taxas acomodaram o ritmo de queda exibido pela manhã, espelhando a perda de fôlego dos ativos no exterior e diante da virada do dólar para cima. Na ausência de destaques no noticiário na jornada vespertina, o movimento é visto como natural, dada a expressiva devolução de prêmios de risco nas últimas sessões e da agenda de indicadores nos EUA nos próximos dias, que servirão para o mercado balizar as apostas sobre o orçamento de cortes de juros pelo Federal Reserve.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 oscilava de 10,752% para 10,745% e a do DI para janeiro de 2026, de 11,43% para 11,40%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,37%, de 11,36% ontem, e a DI para janeiro de 2029 caía de 11,43% para 11,42%.
A movimentação maior das taxas se deu pela manhã, com dados benignos de inflação nos Estados Unidos e no Reino Unido. O índice de inflação ao consumidor (CPI, em inglês) americano, em especial, deu combustível para queda dos DIs ao reforçar a ideia de que o Fed deve iniciar o ciclo de distensão de juros em setembro. O mercado ainda tem dúvidas sobre o tamanho da dose, com divisão das apostas entre 25 e 50 pontos-base. Em julho, o CPI subiu 0,2%, como previsto, com taxa anual (2,9%) desacelerando abaixo de 3% pela primeira vez desde março de 2021.
Para o economista da Guide Investimentos Victor Beyruti, boa parte da reação dos ativos à inflação americana havia sido antecipada ontem com o PPI. “Os dados de hoje vieram praticamente em linha e ainda temos indicadores de atividade amanhã. É normal que as taxas se estabilizem, pois vinham fechando muito tanto aqui quanto lá fora”, avalia.
Além disso, o dólar, que tem sido grande referência para a curva nas últimas semanas, inverteu a queda e passou a subir para fechar no nível de R$ 5,46. A moeda vinha de seis pregões de baixa consecutivos, o que abriu espaço para um ajuste.
Internamente, os dados do varejo bem mais fracos do que o esperado tiveram impacto limitado sobre a curva, sem alterar a percepção de risco de alta da Selic já no Copom de setembro. O varejo restrito caiu 1% em junho ante maio, perto do piso das estimativas (-1,2%) e bem pior do que a mediana (+0,1%). A alta de 0,4% do varejo ampliado ficou muito aquém da mediana de 1,2%. “O varejo decepcionou, mas os serviços ontem surpreenderam para cima”, diz Beyruti, lembrando que a inflação vinda do serviços é a que mais preocupa.
Além disso, acrescenta, a mensagem do Copom de que poderá elevar a Selic para trazer a inflação de volta à meta de 3% é limitador para um fechamento mais pronunciado das taxas curtas. Ontem, durante palestra no evento Prêmios Broadcast, o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, endossou o tom “hawkish” das falas recentes do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo.
Guillen reforçou a visão consensual do Copom de balanço de riscos assimétricos para a inflação e que o papel da autarquia é reancorar as expectativas, salvaguardando a credibilidade da instituição. “As expectativas desancoradas aumentam muito o custo e você trazer a inflação para meta tem um impacto sobre a atividade muito maior. Então, é nosso papel, essa é uma parte da nossa missão, a de reancorar essas expectativas, salvaguardando a credibilidade para conseguir reancorar as expectativas.”