Taxas disparam com câmbio, Treasuries e fiscal e terminam no pico em 18 meses

09/out 18:19
Por Denise Abarca / Estadão

Pressionados pelo ambiente externo adverso para ativos emergentes e pela piora da percepção de risco fiscal, os juros futuros subiram com força nesta quarta-feira, 9, chegando ao fim da sessão nas máximas desde março de 2023, se considerados os níveis de fechamento. O IPCA de setembro veio dentro do esperado, tendo sido avaliado como de impacto neutro sobre a curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 12,51%, de 12,30% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 saltou de 12,33% para 12,57%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 12,53% (de 12,33%). São os maiores níveis de fechamento desde 8/3/2023 para o DI janeiro de 2026 (12,52%), de 16/03/2023 para o DI janeiro de 2027 (12,59%) e de 29/03/2023 para o DI janeiro de 2029 (12,71%).

Os prêmios de risco que vinham sendo reduzidos nos últimos dois dias de queda foram hoje mais do que devolvidos na curva, não por um fator específico, mas por um conjunto de sinais negativos que podem exigir uma política monetária mais severa por parte do Banco Central. As taxas já subiam pela manhã, mas o mercado piorou muito à tarde, com as máximas dos rendimentos dos Treasuries puxando zeragens de posições vendidas (stop loss) na curva local.

Os retornos dos títulos do Tesouro americano não tiveram alívio nem mesmo com a ata da reunião do Federal Reserve apontando que os riscos para a inflação diminuíram. A taxa da T-Note de dez anos, referência global de ativo livre de risco, chegou a 4,07% nas máximas do dia.

“O mercado local reflete, em primeiro lugar, um ambiente de aversão a risco e fraqueza das moedas emergentes, com percepção de menos cortes de juros nos EUA e frustração com o pacote de estímulos chinês afetando commodities. No Brasil, o IPCA veio ok e a sabatina do Galípolo também foi positiva”, afirma o sócio-fundador da Oriz Partners, Carlos Kawall, destacando ainda que a abertura da curva expressa o desconforto com o quadro fiscal.

Segundo Kawall, o mau desempenho do governo nas eleições municipais diminuiu a já baixa expectativa de medidas estruturais de gasto. “Pelo contrário, aparece agora o foco na desoneração do IRPF até R$ 5 mil, medida expansionista de consumo, mesmo que compensada com aumento de tributação sobre ricos”, afirma.

Matéria trazida hoje pela Folha de S.Paulo aponta que a Fazenda estuda a criação de um imposto mínimo para pessoas físicas milionárias como uma eventual contrapartida para bancar o aumento para R$ 5.000 da faixa de isenção do IRPF, que é uma promessa de campanha do presidente Lula.

O estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, Daniel Leal, avalia que a proposta parece ter o intuito de manter a economia aquecida, dado o potencial impacto de R$ 40 bilhões. “Deve estimular o consumo porque vai deslocar recursos normalmente usados para poupança na faixa de renda mais alta para consumo na faixa de renda mais baixa”, explica, acrescentando ainda que a forma de compensação via taxação dos milionários terá dificuldades de ser aprovada no Congresso.

O avanço do dólar ante o real, que na máxima de hoje (R$ 5,5988) voltou a ficar perto de R$ 5,60, também é apontado como vilão para os DIs. “As commodities em queda ajudariam a curva, se o dólar não subisse tanto”, afirma Kawall.

O contexto fiscal e externo negativo não deu qualquer chance para o IPCA ditar a dinâmica do mercado de juros, até porque a alta de 0,44% em setembro veio praticamente em linha com a mediana das estimativas (0,45%), saindo de queda de 0,02% em agosto.

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