Taxas voltam a subir, com exterior e fiscal no radar

10/out 18:10
Por Denise Abarca / Estadão

Os juros futuros voltaram a subir nesta quinta-feira, 10, após já terem tocado ontem as máximas desde março do ano passado, considerando os níveis de fechamento. Não houve um fator determinante a justificar a trajetória altista, mas sim o conjunto formado pelo exterior junto com o cenário fiscal. O ajuste mais conservador nas expectativas para os cortes de juros nos EUA e temores de expansionismo fiscal pressionaram ainda mais a precificação para a Selic nos próximos meses, com a ponta curta já voltando a indicar probabilidade de aceleração do ritmo de aperto para 75 pontos-base no Copom de novembro.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 12,55%, de 12,50% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 12,59% para 12,66%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 12,62% (12,59% ontem).

Nas mesas de renda fixa, não houve consenso sobre o que teve mais peso hoje na dinâmica da curva, dado o cenário externo volátil e sem novidades no noticiário fiscal.

Lá fora, as apostas de corte de 25 pontos-base pelo Federal Reserve na reunião de novembro chegaram a avançar pela manhã, com o índice de inflação ao consumidor (CPI, em inglês) acima das estimativas se contrapondo ao avanço nos pedidos semanais de auxílio-desemprego. À tarde, porém, refluíram com declarações do presidente da distrital de Atlanta, Raphael Bostic, de que está aberto à possibilidade de manutenção dos juros. Com isso, os rendimentos dos Treasuries renovaram máximas, com a taxa da T-Note de 10 anos superando os 4,10%. Além disso, aumentou a probabilidade de apenas um único corte de 25 pontos este ano.

No Brasil, o mercado ainda não digeriu a proposta da Fazenda de ampliar a faixa de isenção de Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) até R$ 5 mil. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que o governo apresentou quatro cenários para a reforma da renda ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que incluem a tributação mínima para milionários. Segundo o ministro, o presidente quer que a isenção seja de impacto neutro sobre a arrecadação. Sobre a repercussão negativa da proposta no mercado, ele disse que os parâmetros expostos não estão exatamente de acordo com os exercícios que estão sendo feitos.

Nos cálculos da Warren, a eventual isenção do IRPF daqueles com renda até R$ 5 mil exigirá medida de compensação, em cumprimento ao artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Os economistas destacam que uma das alternativas seria taxar 12% da renda de quem possui rendimentos totais acima de R$ 1 milhão, que tem potencial para angariar R$ 44,8 bilhões.

Para Leonardo Cappa, estrategista da Traad, os prêmios de risco estão exagerados na curva, com o mercado computando uma alta da Selic a 13% como a necessária para trazer a inflação para 3%. “Esse miolo da curva em 12,70% não é razoável. Não duvido que a Selic tenha de subir para este patamar para entregar a inflação em 3%, mas não vejo o BC cravando a meta. A inflação deve ficar um pouco acima disso, mas também não pode passar de 4%”, afirma o estrategista da Traad, que recentemente reduziu suas posições em inflação e elevou em prefixados, dados os níveis elevados das taxas.

No meio da tarde, a curva precificava 58 pontos-base de alta para a taxa básica no Copom de novembro, o que representa entre 30% e 35% de chance de aumento de 75 pontos-base e entre 65% e 70% de probabilidade de 50 pontos, explica o economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano, segundo o qual a precificação da curva era de Selic de 13,35% no fim do ciclo.

A agenda local trouxe a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), mas as quedas nas vendas do varejo em agosto não alteraram a percepção sobre o PIB do terceiro trimestre nem sobre a política monetária. O varejo ampliado recuou 0,8% ante julho, ante estimativa de alta de 0,2%, e o varejo restrito caiu 0,3%, menos do que indicava a mediana de recuo de 0,6%.

Os economistas da Kínitro Capital afirmam que o dado de hoje não altera a visão de atividade aquecida no País, amparada pelo mercado de trabalho robusto e o crescimento do crédito. “Importante se atentar às variações interanuais e não somente aos dados na margem”, alertam, argumentando que os crescimentos interanuais seguem corroborando um trimestre ainda de crescimento sólido do PIB. O varejo restrito subiu 5,1% e o ampliado, 3,1%, ante agosto de 2023.

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