Tragédia em Petrópolis: devido à falta de intervenções, moradores do Caxambu são obrigados a reviver o trauma de fevereiro e março
No bairro Caxambu, em Petrópolis, mesmo após oito meses da tragédia, moradores são obrigados a reviver o enorme trauma devido à falta de intervenções
Quem caminha pelas ruas de Petrópolis, principalmente pelos bairros – os mais atingidos pelas chuvas de fevereiro e março deste ano – percebe resquícios da tragédia. A falta de intervenções e de respostas gera uma espécie de medo permanente naqueles que perderam casas, entes queridos e a sensação de segurança. Basta uma chuva para que as memórias da tragédia venham à tona.
No bairro Caxambu, mesmo após oito meses, moradores são obrigados a encarar diariamente resquícios – não apenas na memória, mas também fisicamente – daquele dia 15 de fevereiro.
Para Márcia Jochem, moradora do bairro, a tragédia causou um trauma para a vida inteira. “Eu era uma pessoa saudável. Tenho 65 anos, agora dependo de medicamentos. Fiquei muitas noites sem dormir e, quando conseguia, tinha tantos pesadelos. É um trauma para sempre.”, conta.
Márcia morava desde os 14 anos na Vila Augusto Ferreira da Silva, que sempre foi considerada segura. No entanto, na rua principal, a Bartolomeu Sodré, há uma fonte de água, oriunda de uma pedreira, que era encoberta por uma grande vegetação. Essa fonte escorria pela mata e alimentava diversas casas.
“Na tragédia nossa região recebeu um deslocamento de pedras, terra e muita água, que se transformou em uma grande cachoeira. A força era tanta, que ela atravessou a rua trazendo o que estava na frente e derrubou casas que hoje nem sabemos ao certo a localização. Doze vidas foram perdidas.”, conta Márcia.
O barulho do dia 15 de fevereiro ficou marcado para sempre na vida de Márcia. “Um barulho ensurdecedor, eu estava em casa só. A casa da minha nora, que fica embaixo da minha, ficou totalmente tomada de lama. Eles perderam tudo. Com a força da lama e os galhos de árvores, arrebentou uma parede que saiu levando tudo.”, lembra.
Márcia conta que eles receberam muitas visitas de diversas autoridades que prometiam as obras. Na ocasião, isso que dava esperança aos moradores. No entanto, a moradora afirma que a ajuda de verdade veio dos funcionários da Comdep, que trabalharam muito na retirada de terra e entulhos.
Após a tragédia, Márcia e o marido ficaram 30 dias na casa da irmã dela, no Bingen, e agora estão na casa do filho, em Nogueira. “A minha casa está dentro do possível organizada. A da minha nora fizemos as obras, mas está vazia. Estamos receosos de voltar, com o perigo das pedras que estão soltas e com chuva, a água que corre fica forte e pode continuar a trazer a morte.”, teme Márcia.
Ao chegar na Vila, é possível ver de perto o cenário devastador. Pedreiras expostas, pedras enormes à vista e a água, que permanece descendo na rua. Segundo Márcia, a Defesa Civil interditou as casas, mas alguns moradores voltaram a morar no local pois não têm onde ficar. “Eu e minha nora estamos com medo de voltar, queremos e precisamos voltar, mas até ser realizado as obras necessárias na contenção e desvio dessa água, que se transforma em cachoeira nos momentos de chuva, ficamos com medo.”, desabafa.
Rogerio Wayand também é morador da Vila Augusto Ferreira da Silva e conta que, do local, somente os escombros foram retirados. “Não terminaram de limpar as demais servidões, as pedras que foram implodidas jogaram no terreno particular e não as removeram. Há vazamento de águas que não resolveram até hoje e está infiltrando dentro da oficina do Schimidt. Não destruíram a galeria de água pluvial e vários bueiros nas vilas e na rua principal.”, conta o morador.
Para evitar que vândalos invadam a sua casa, Rogério conta que continua morando na vila e que sente medo de que algo ruim possa acontecer. “Isso ainda assombra a minha família, pois não fizeram nada na encosta para proteger as casas da localidade. Qualquer coisa que volte a deslizar atingirá, novamente, algumas residências. Somente as obras de contenção vão nos proteger.”, afirma.
O muro da frente da casa de Rogério foi completamente perdido. Devido à lama, que entrou por baixo das portas, o portão eletrônico, os interfones, fechaduras e gradil do muro inteiro foram danificados. Itens dentro de sua casa, além do carro da família, foram perdidos.
Questionada sobre o assunto, a Prefeitura de Petrópolis informou o seguinte:
“A Prefeitura licitou a contenção na Rua Joaquim Ribeiro da Mota – custo de R$ 388 mil – as intervenções começam em breve. Na Rua Bartolomeu Sodré, local do maior escorregamento, o Governo do Estado assumiu a execução das obras. A Prefeitura vem cobrando agilidade no início das intervenções.”
*Matéria atualizada às 19h37 para inclusão do posicionamento da Prefeitura.