Transferência de votos depende do engajamento de novos aliados

10/10/2022 05:00
Por João SCHELLER / Estadão

Poucos dias após um primeiro turno que cristalizou a divisão clara entre os eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) pela disputa à Presidência, deu-se início a uma onda de apoios políticos para cada um dos candidatos. Desde o tímido aceno de Ciro Gomes (PDT) a Lula até o apoio “incondicional” do governador paulista Rodrigo Garcia (PSDB) a Bolsonaro, o mundo político tenta responder a uma pergunta essencial: de que forma o endosso às candidaturas de Lula e Bolsonaro pode se transformar em votos?

Para analistas e políticos ouvidos pelo Estadão, o cenário depende primordialmente do quanto cada um dos apoiadores irá se empenhar nas campanhas dos aliados e conseguir, de fato, converter esse apoio em mais votos nas urnas.

Nesse sentido, as atenções se voltam a dois grupos. Primeiro, aos candidatos à Presidência derrotados no primeiro turno, que têm um contingente de eleitores a ser disputado. E, em segundo, a governadores, reeleitos ou derrotados, que possam utilizar a influência política – e, principalmente, a máquina pública – para angariar votos aos aliados.

Bolsonaro teve 6 milhões de votos a menos que Lula, defasagem que teria de ser recuperada até o fim do mês. O cenário polarizado, porém, fez com que os eleitores se concentrassem nos dois principais candidatos e deixassem pouca margem para avanços. Os votos dos candidatos derrotados somam 8% dos eleitores, ante 24% em 2018 e 2014. Além disso, um aumento da abstenção, que foi de 20,95% no dia 2, pode ser decisivo se a votação for acirrada. Em 2018, por exemplo, elas cresceram em 1,6 milhão de votos do primeiro para o segundo turno.

DIFERENÇAS. “Existem dois tipos de apoio. Um é simbólico, que, indiretamente, pode vir a se tornar voto”, disse a professora Graziella Testa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), citando as chancelas de Fernando Henrique Cardoso e de Armínio Fraga a Lula. “E tem o tipo de apoio, que é mais importante agora, a três semanas do segundo turno, que é o apoio que se transforma em voto.”

Aqui entram governadores, como Romeu Zema (Novo), vencedor no primeiro turno em Minas, e Rodrigo Garcia (PSDB), que perdeu em São Paulo. Ambos apoiam Bolsonaro. Estão ainda neste grupo presidenciáveis derrotados no primeiro turno, principalmente Ciro e Tebet, que têm, de fato, votos para transferir.

Enquanto o apoio de Ciro – que optou por chancelar a decisão do PDT de endossar a candidatura de Lula – tende a ter pouco efeito prático, a forte sinalização de Tebet pode transferir votos que não se identificam com nenhum dos polos. “Tebet teve um crescimento grande durante a campanha e, a despeito de representar um porcentual (de eleitores) pequeno, é um porcentual que pode ser decisivo, que não optou pelo voto útil”, destacou Graziella Testa.

CAPILARIDADE. Se o apoio de Ciro e Tebet pode trazer votos a Lula, a aliança com governadores traz a capilaridade dos municípios e o poder de movimentar o aparelho estatal em favor de Bolsonaro. “É o apoio aritmeticamente determinante (de Ciro e Tebet) versus o apoio político relevante e o apoio da máquina”, afirmou o cientista político Antônio Lavareda, diretor do Ipespe.

A dúvida fica por conta da possibilidade de mobilização dos governadores para a reeleição do presidente, principalmente em colégios eleitorais-chave, como São Paulo e Minas. “Zema é muito relevante e muito bem avaliado. Essa boa avaliação pode se traduzir em voto, sim. Agora, um ponto importante é: o que essas figuras têm de fazer para traduzir o apoio em voto?”, afirmou Graziella Testa, da FGV.

A vantagem de Lula no Estado foi de 4,6 pontos porcentuais, enquanto a de Zema ocorreu por uma diferença de 21,02 pontos ante seu principal adversário, o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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