Trote: Hino de alunos de Medicina ofende Enfermagem e causa revolta

08/04/2017 13:30

“Ô enfermeiro… Nós somos os filhos que seus pais queriam ter”… A frase é parte do trecho de um “hino” cantado na última sexta-feira (7) à tarde, na Rua Dezesseis de Março em plena luz do dia, por cerca de duas horas, por futuros e/ou veteranos estudantes de medicina da Faculdade FMP/Fase, durante o chamado “tradicional” trote anual do curso. A ofensa mascarada em forma de  brincadeira chocou petropolitanos que presenciaram a “comemoração” dos jovens, e revoltou profissionais de diversas categorias. Principalmente os da classe de enfermagem, um dos pilares da medicina. 

Bebidas sendo derramadas dentro da boca de jovens por alunos mais velhos de medicina, música alta, danças sensuais e palavras de baixo calão marcaram o trote. Nas redes sociais o evento teve repercussão negativa e muitas pessoas se posicionaram contra a prática. O principal questionamento foi a autorização concedida pela Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans), que liberou o trote em uma das principais ruas da cidade. Nas postagens em páginas do facebook os petropolitanos pediram o fim da comemoração dos alunos da FMP/Fase e a substituição da manifestação por trotes solidários como os realizados por estudantes de outras universidades da cidade, como a doação de sangue, por exemplo. 

Os alunos de enfermagem que precisaram ir até a faculdade de medicina neste sábado descreveram as ofensas proferidas contra a classe como lamentáveis e exigiram um pedido público de desculpas. “Não preciso nem dizer a importância de todas as profissões, com destaque para a enfermagem na execução da boa medicina. O que me espanta são futuros médicos e alunos já no final do curso não saberem o significado de trabalho multiprofissional – onde especialistas de diferentes áreas atuam em conjunto. Mesmo assim esperamos no mínimo uma retratação pela vergonha que eles têm levado à classe médica e para a FMP/Fase”, afirmou um estudante de enfermagem da faculdade de medicina.

Nas redes sociais as hastags #souofilhoquemeupaiqueriater #respeitaaenfermagem #orgulhodopai entre outras, foram usadas por estudantes e profissionais de enfermagem como forma de protesto a música em que os estudantes de medicina ofendem a classe. E não foram apenas enfermeiros que se pronunciaram a respeito, médicos conceituados da cidade também se manifestaram publicamente em suas páginas no facebook contra a postura dos jovens. Em uma delas um médico cita a expressão " Primum non nocere" – "Primeiro não prejudicar". 

“Venho em nome dos sérios e honrados homens e mulheres que se dedicam nobremente a arte da medicina me desculpar aos tão nobres e sérios colegas e profissionais das mais variadas especializações na área da saúde, em especial aos da enfermagem, famigeradamente perseguidos por cânticos da vergonha! Festejei muito e também brinquei com meus antecessores e companheiros e fui exposto a sociedade como o futuro de um arquétipo da esperança e acolhimento frente aos flagelos humanos que nos deterioram até a finitude. O momento era meu e dos meus pares, de conquista, de grandeza. Mas gastar este prestigioso momento para denegrir outrem faz daqueles que o fizeram medíocres o suficiente para se ter questionado o papel futuro que exercerão. Aos prezados "doutores", fica a lição do Primum Non Nocere”, relatou o médico. 

Coren será acionado pro enfermeiros 

De acordo com a enfermeira Carol Camanho, a classe dos enfermeiros pretende acionar o Conselho Regional de Enfermagem para pedir providências quanto ao caso. “A classe está indignada com o trote desrespeitoso da faculdade de medicina. Sou formada pela FMP/Fase e peço que esses alunos sejam punidos e ensinados sobre o que é uma equipe multiprofissional onde todos têm um papel”, afirmou indignada. 

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