Turismo cresce no Afeganistão, impulsionado pelo Taleban

05/maio 07:15
Por Associated Press / Estadão

Cerca de 30 homens reunidos em uma sala de aula em Cabul formam a primeira turma de alunos de turismo e hospitalidade de um instituto administrado pelo Taleban no Afeganistão. Trata-se de uma turma heterogênea de estudantes. Um aluno é modelo, outro tem 17 anos e nunca trabalhou. Variam de idade, nível de escolaridade e experiência, mas têm em comum o fato de serem homens e estarem ansiosos a promover um lado diferente do Afeganistão. E o Taleban parece feliz em ajudar.

Governante do Afeganistão, o Taleban é pária no cenário internacional, em grande parte por causa das restrições e violência contra mulheres e meninas no país. As mulheres, por exemplo, estão proibidas de estudar além do ensino básico, e por isso não estão nas turmas de turismo com os homens. Além disso, a economia afegã está em dificuldades, a infraestrutura é precária e a pobreza é geral.

No entanto, os estrangeiros estão visitando o país, encorajados pela queda acentuada da violência, pelo aumento de voos vindos de centros como Dubai e pelo direito de se gabar de estar de férias em um lugar que foge aos roteiros comuns. Os números não são enormes – nunca foram -, mas há um burburinho em torno do turismo afegão.

Em 2021, foram 691 turistas estrangeiros. Em 2022, esse número subiu para 2,3 mil. No ano passado, foram 7 mil. Segundo Mohammad Saeed, chefe da Direção de Turismo em Cabul, a maior parte são chineses, devido à proximidade entre os dois países e o número de habitantes.

DIFICULDADES

Saeed também afirma que os turistas listam vantagens do Afeganistão em comparação com alguns países vizinhos. “Eles me disseram que não querem ir para o Paquistão porque é perigoso e são atacados. Japoneses também me disseram isso”, contou. “Isso é bom para nós.”

Mas também existem desvantagens: os vistos são caros e difíceis de se obter. Muitos países cortaram laços com o Afeganistão depois que o Taleban regressou ao poder, após um golpe em 2021, e ninguém os reconhece como os governantes legítimos do país.

As embaixadas afegãs fecharam ou suspenderam suas operações. Internamente, a diplomacia vive uma luta contínua entre pessoas da antiga administração afegã, apoiada pelo Ocidente, e pessoas da gestão do Taleban.

Mohamed Saeed admite que há obstáculos ao desenvolvimento do turismo afegão, mas disse que a gestão atual do governo trabalha para superá-los. Sua intenção final é conseguir um visto de chegada para o turista, mas isso pode demorar anos. Também há problemas na rede rodoviária, pavimentada apenas parcialmente ou inexistente em algumas áreas do país, e as companhias aéreas evitam em grande parte o espaço aéreo.

A capital Cabul tem o maior número de voos internacionais, mas nenhum aeroporto afegão tem rotas diretas com os principais mercados turísticos como China, Europa ou Índia.

Apesar dos desafios, Saeed quer que o Afeganistão se torne uma potência turística, uma ambição que parece ser apoiada pelos principais líderes do Taleban. “Fui designado para este cargo por instruções dos presbíteros (ministros). Eles devem confiar em mim porque me enviaram para essa posição importante”, declarou.

Os alunos também têm aspirações. O modelo, Ahmed Massoud Talash, quer aprender sobre locais pitorescos do Afeganistão e suas histórias para postagens no Instagram e aparições na mídia.

ESTRANGEIRAS

Samir Ahmadzai, formado em administração de empresas, quer abrir um hotel, mas crê que primeiro deveria saber mais sobre turismo e hospitalidade. “Eles ouvem que o Afeganistão é um país atrasado, pobre, que tem tudo a ver com guerra”, disse Ahmadzai. “Temos 5 mil anos de história. Deveria haver uma nova página do Afeganistão.”

Um assunto não oficial é como interagir com mulheres estrangeiras e como o seu comportamento ou hábitos podem entrar em conflito com os costumes e decretos locais. Exemplos podem ser mulheres fumando ou comendo em público, ou convivendo livremente com homens que não são parentes por sangue ou casamento.

O governo do Taleban impôs um código de vestimenta para as mulheres e requisitos para que tenham um guardião masculino, ou “mahram”, quando viajam. Jantar sozinha, viajar sozinha e socializar com outras mulheres em público se tornou mais difícil.

HOTEL

Com as academias fechadas para mulheres e os salões de beleza proibidos, há menos locais onde elas podem se reunir fora de casa. Em um sinal de que o país se prepara para receber mais visitantes estrangeiros, o único hotel de cinco estrelas do país, o Serena, reabriu o spa e o salão feminino para mulheres estrangeiras após um mês fechado.

Os estrangeiros deverão apresentar o passaporte para ter acesso aos serviços. Mas as mulheres com a designação “nascidas no Afeganistão” na identidade são proibidas de entrar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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