Ucrânia diz que assumiu controle total de Sudzha, a maior cidade russa desde início da incursão

16/ago 13:28
Por Associated Press / Estadão

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, disse nesta quinta-feira, 15, que suas tropas assumiram total controle de Sudzha, a maior cidade russa a ser tomada pelas forças ucranianas desde o início de sua incursão transfronteiriça há mais de uma semana.

Embora a cidade tivesse uma população pré-guerra de apenas 5 mil pessoas, Sudzha é o centro administrativo da área de fronteira da região russa de Kursk e é maior do que qualquer outra cidade ou assentamento que a Ucrânia disse que tomou desde a ofensiva de 6 de agosto.

Zelenski disse que a Ucrânia estava estabelecendo um escritório de comando militar em Sudzha, o que sugere que a Ucrânia pode planejar ficar na região de Kursk por um longo período – ou é apenas um sinal para Moscou que pode ter a intenção de fazer isso. Zelenski não elaborou quais funções esse gabinete poderia assumir, embora ele tenha dito no início desta semana que a Ucrânia estaria distribuindo ajuda humanitária para os moradores de Sudzha.

A Rússia não reagiu às declarações de Zelenski, mas seu ministro da defesa disse mais cedo nesta quinta-feira que as forças russas haviam bloqueado tentativas ucranianas de assumir o controle de diversas outras comunidades.

A incursão ucraniana surpresa mudou o rumo da guerra e causou caos na região de Kursk, levando ao deslocamento de mais de 120 mil civis, de acordo com as autoridades russas, e à captura de pelo menos 100 tropas russas, segundo Kiev.

Zelenski disse que uma das três razões da incursão era proteger regiões ucranianas vizinhas. “Quanto mais presenças militares russas forem destruídas nas regiões de fronteiras, mais perto a paz e a verdadeira segurança estarão para o nosso Estado. O Estado russo deve ser responsabilizado pelo que fez”, disse na terça-feira, 13.

A Rússia já viu ataques anteriores ao seu território na guerra, mas a incursão de Kursk é notável por seu tamanho, velocidade, o envolvimento relatado de brigadas ucranianas endurecidas pela batalha e o tempo que elas permaneceram dentro da Rússia. Cerca de 10 mil tropas ucranianas estão envolvidas, de acordo com analistas militares ocidentais. A incursão também marcou a primeira vez que tropas estrangeiras invadiram e tomaram territórios russos desde que os nazistas alemães fizeram na 2.ª Guerra.

Embora blogueiros russos tenham relatado que as reservas que a Rússia enviou para a região de Kursk tenham desacelerado os avanços ucranianos, perguntas permanecem sobre se a incursão pode forçar Moscou a mover para Kursk tropas de posições de linha de frente no leste da Ucrânia, onde fizeram avanços lentos, mas constantes, neste ano.

Enquanto Kiev estava celebrando seus ganhos em Kursk nesta quinta-feira, autoridades na cidade de Pokrovsk, no leste da Ucrânia, que tinha uma população de 60 mil pessoas antes da guerra, alertaram civis para deixar a região com a aproximação rápida de tropas russas, que estavam a cerca de 10 quilômetros dos arredores da cidade. Se as tropas russas capturarem Pokrovsk, onde eles apenas estavam tentando romper as defesas ucranianas há semanas, eles iriam avançar mais ainda no seu objetivo de capturar toda a região de Donetsk.

O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que a Rússia havia retirado algumas forças, incluindo unidades de infantaria, da Ucrânia e as estava transferindo para Kursk, mas que os Estados Unidos não sabiam quantas tropas estavam envolvidas.

Entretanto, uma autoridade americana, que falou sob condição de anonimato por não estar autorizada a comentar publicamente, disse que não parece que a Rússia tenha movido um número suficiente de batalhões blindados ou outros tipos de força de combate da linha de frente da Ucrânia para Kursk, e que Moscou irá precisar mudar mais tropas para repelir as forças de Kiev.

Estado de emergência federal

O Exército ucraniano reivindicou o controle de mais de 80 cidades e assentamentos na região de Kursk.

O governador em exercício de Kursk, Alexei Smirnov, ordenou na quinta-feira que a população da região de Glushkovo, a cerca de 45 quilômetros a noroeste de Sudzha, deixasse a região. A ordem sugere que as forças ucranianas estavam gradualmente avançando em direção à área.

Em uma instalação que recebe deslocados, Tatyana Anikeyeva contou à televisão estatal russa sobre sua fuga dos combates. “Estávamos correndo de Sudzha… Nós nos escondemos nos arbustos. Voluntários estavam distribuindo água, comida, pão para as pessoas que estavam se deslocando. O som do canhão continuou sem interrupção. A casa estava tremendo.”

Os deslocados se aglomeravam e esperavam em longas filas por comida e outros suprimentos. Um homem fez carinho em sua cachorra e tentou confortá-la, enquanto dizia que se sentia enjoado e sem apetite.

A Rússia também declarou estado de emergência em nível federal na região de Belgorod, um dia depois que um alerta de nível regional havia sido feito para a área. A mudança no status sugere que as autoridades acreditam que a situação está piorando e dificultando a capacidade da região de entregar ajuda.

O principal oficial militar da Ucrânia, o general Oleksandr Syrskyi, disse no início desta semana que as forças ucranianas tomaram mil quilômetros quadrados da região de Kursk, embora sua declaração não pudesse ser verificada de forma independente. As linhas de contato em Kursk permaneceram fluidas, permitindo que ambos os lados manobrassem facilmente, ao contrário da linha de frente estática no leste da Ucrânia, onde as forças russas levaram meses para obter ganhos incrementais.

Autoridades russas rejeitaram a reivindicação territorial de Syrskyi. Falando com repórteres na quarta-feira (14) na ONU, o vice-embaixador da Rússia, Dmitry Polyansky, chamou a incursão de uma “operação absolutamente imprudente e louca”, e disse que o objetivo da Ucrânia de forçar a Rússia a mover suas tropas do leste da Ucrânia não está acontecendo porque “temos tropas suficientes lá”.

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