Um conto Olímpico

07/08/2016 07:00

Diz a lenda que um dia Zeus estava sentado comodamente em seu trono acompanhando com certo interesse o desenrolar dos eventos do período pré-olímpico no Brasil e, em especial, a passagem da tocha por Petrópolis. Mas o seu semblante não demonstrava alegria. Ao contrário, exibia um olhar triste e pensativo. 

Ao seu lado, estava Quirom., o célebre centauro conhecido pela sabedoria e habilidade com a medicina, uma vez que Zeus, em função da idade avançadíssima, sofria frequentemente de dores na coluna, indisposições e outras mazelas da idade. O Centauro ao perceber aquele ar tristeza, perguntou:

– Oh! deus dos deuses, por que estais tão triste quando deverias estar alegre pelo fato de os humanos estarem celebrando as glórias antigas de Athenas?

– Quirom., meu preferido, fico entristecido porque essa encantadora, mas sofrida cidade, é a minha preferida nesse belo país há muito tempo, bem antes do Rio de Janeiro tornar-se a Cidade Maravilhosa. Sabe por que? Quando o astro rei entrava triunfante no signo de Capricórnio, o inferno instalava-se no Rio, mas Petrópolis era a antítese, uma espécie de monte Olímpio tropical: ruas eram tranquilas, largas, limpas e arborizadas; córregos limpíssimos; florestas por toda parte ajudavam a distribuir um ar puro – puríssimo – e sem a praga dos mosquitos que infestavam a sede do Império. Um clima de tranquilidade imperava na Serra. Tudo isso ficava a menos de três horas de distância. Felizes os que podiam fugir daquele pesadelo climático do Rio.

– Mas, meu senhor, parece que hoje nada disso mais existe – exceto o fato de que os moradores ainda levam o mesmo tempo para ir até o Rio! Por que permitiram que o caos se instalasse nessa linda cidade onde, por sinal, tenho alguns distantes primos equinos, que puxam vitórias repleta de turistas?

 – Oh! bondoso Quirom., houve um tempo em que os homens ainda nos escutavam e a isso chamavam de inspiração, e agiam em nome do interesse público. Hoje eles não mais acreditam em nós, não nos ouvem, pois andam com esses malditos fones de ouvido o tempo todo. Acreditam apenas na inspiração do dinheiro…

– Mas, oh! poderoso, não há como reverter isso?

– Meu pobre e ingênuo centauro, lembra-te que eu mexi uns pauzinhos para que a Copa do Mundo e as Olimpíadas acontecessem no Brasil e no Rio? Pois bem, essas eram oportunidades de ouro que deveriam ter sido agarradas por eles com unhas e dentes, para que a cidade de Petrus também se beneficiasse do legado das obras de infraestrutura que aconteceriam no Rio de Janeiro. Mas os tolos nada fizeram e perderam o bonde (ou trem) e a oportunidade de realizar investimentos importantíssimos para cidade, como por exemplo, duplicar a Rua Coronel Veiga; ter a ligação Bingen-Quitandinha; VLT no Centro Histórico ou o trem Rio-Petrópolis de volta.

– Mas amando Zeus, não podeis dar-lhes outra chance de terem essas obras?

– Posso fazer isso, sob certas condições, embora não acredite que as lideranças politicas locais façam por merecer ou que as desejem de todo coração. Preferem obrinhas pontuais e contentam-se com migalhas, como ver a tocha olímpica passar rapidamente pela cidade e ganhar alguns minutinhos de publicidade na TV, o que não vai lhes deixar nenhum legado de fato.  

 – E quais seriam essas condições?

 – Acabar com a miopia político-administrativa e com a corrupção nesse país.

 O centauro soltou um profundo suspiro. Levantou-se, olhou meio cabisbaixo para Zeus e pediu permissão para sair. Seu semblante agora estava triste, muito triste.  O centauro saiu, então, em louca disparada, descendo o Monte Olímpio e cavalgando pela BR-040, batendo fortemente com seus possantes cascos rachando o pavimento da rodovia e deixando buracos por toda pista de subida.

Diz a lenda que vai ser muito difícil parar a cavalgada destruidora de Quirom, que só vai cessar quando os representantes(?) do Povo cumprirem suas promessas do discurso eleitoral e as tirem definitivamente do papel. 

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antonio.pastori53@gmail.com

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